quinta-feira, 26 de julho de 2018

Pensamentos sobre Tipologia funcional



As questões que envolvem o PSI se caracterizam por serem, sempre formuladas como dicotomias, isto é, de escolha entre o bem e o mal, ou, entre o bom e o ruim.

As principais questões desse tipo são: o inbreeding é bom e o outcrossing ruim , ou, ao contrário, se o outcrossing é bom e o inbreeding é ruim; se o garanhão é mais importante que a égua, ou se, a égua é mais importante que o garanhão; se o pedigree é mais importante que a performance, ou se a performance é mais importante que o pedigree; se a velocidade é mais importante que o fundo, ou se o fundo é mais importante que a velocidade?

Ou mesmo como o dr. Franco Varola perguntava: A criação do PSI é uma arte, ou, ao contrário, uma ciência?

O dr. Varola para uma questão muito em voga hoje, a utilização de inbreedings, dizia que nos primórdios do PSI, quando alguém citasse que um determinado cavalo era inbred sobre  Hampton, esse dado tinha um valor fundamental, pois Hampton, assim como outros chefes-de-raça da sua época estampavam em sua produção características em modo específico. Assim, dizer “inbred sobre Hampton” significava que aquele cavalo tinha razoável probabilidade de apresentar solidez, durabilidade, fundo, morfologia correta e boa treinabilidade.

Dentro do pensamento da “tipologia funcional” entendemos que o inbreeding e o outcrossing são fatos complementares e não antitéticos.




Northern Dancer.

Voltando aos tempos atuais, dizer hoje que um cavalo é inbred sobre Northern Dancer não significa absolutamente nada. Prescindindo do fato que está ficando sempre mais difícil encontrar um cavalo puro-sangue que não seja inbred sobre Northern Dancer. É preciso refletir que a descendência de Northern Dancer, no giro de algumas gerações chegou a abranger todo, ou quase todo, o diagrama aptitudinal. Na extrema esquerda encontramos indivíduos como Lit de Justice, Dayjur, Fasliyev, e muitos outros do mesmo tipo, que são Brilhantes puros. Na extrema direita encontramos, ao contrário, indivíduos como Peintre Celebre, Drum Taps, Yeats e assim por diante.

Em conseqüência, se duas correntes de Northern Dancer encontram-se no mesmo pedigree produzindo o assim chamado inbreeding sobre Northern Dancer, mas se elas procedem, uma de Storm Bird e a outra de Sadler's Wells elas significam duas coisas absolutamente diferentes. É verdade que no diagrama de dosagem aparecerá também a dupla presença de Northern Dancer e nada pode impedir que mesmo naquele cavalo específico Northern Dancer tenha influído duplamente como tal (o assim chamado efeito “salto” de geração), mas o que importa na realidade, é que essas influências todas (dois Northern Dancer, um Sadler's Wells, um Storm Bird, etc.) formarão um diagrama de dosagem que poderá ser avaliado no seu conjunto, e que, substitui o que antigamente era a capacidade estampadora unívora dos grandes chefes-de-raça.

Portanto, uma coisa era o inbreeding que acontecia nos tempos do exemplo Hampton, quando os chefes-de-raça eram paradigmáticos e imutáveis em seu comportamento. O inbreeding que acontece hoje, de um ponto de vista estritamente pedigrístico tornou-se um amontoado, em que entra um pouco de tudo no aspecto fundamento corredor. Isso é tão verdade que o inbreeding 2 x 2, 2 x 3 ou 3 x 3, que é o que realmente contaria para aumentar a probabilidade das acentuações das características de um indivíduo que se quer buscar, é hoje, em nível “Clássico”, muitíssimo mais raro que no passado.

Consequentemente é estéril falar do inbreeding, ou do oposto, outcrossing, em abstrato, pois essas duas situações adquirem importância só se forem vistas no contexto em que o criador está operando.

Assim, por coerência, devemos ficar atentos ao fato de que, como o inbreeding sobre Northern Dancer em si e por si não diz nada, também é verdade o contrário, isto é, um cavalo pode ser tecnicamente “outbred” no sentido que os nominativos das primeiras quatro gerações do seu pedigree são todos diferentes, entretanto, pode ser que muitos desses nominativos representem cavalos de funcionalidade muito similar entre si. O que oferece não um inbreeding em “sangue”, mas sim um "inbreeding" em aptidão análoga.




Igual esterilidade, apresentam os debates sobre a velocidade e o fundo em termos dicotômicos. Para fins práticos do criador que deve produzir cavalos para correr, é importante dispor de ambas as coisas, e, quando ambos atributos estão presentes, percebe-se na realidade, que são uma coisa só. Peguemos por exemplo Itajara, que foi invicto em todas as distâncias, 1100, 1300, 1500, 1600 (recordista na Gávea), 2000, 2400 e 3000 metros. Itajara tinha velocidade ou tinha fundo? A pergunta é totalmente ociosa; ele era um cavalo completo, pois tinha tudo o que precisava para dominar em qualquer situação os seus adversários, o que na verdade, é o objetivo de todo criador.




Itajara.

Esse aparente dilema: velocidade ou fundo, pode ser posto em termos concretos simplesmente eliminando a palavra “ou”, e quando o diagrama de dosagem apresentar evidência de ambos os fatores (assim como dos demais) poderemos dizer que aquele cavalo é funcionalmente completo, equilibrado, dispensando o uso de outros adjetivos.


Adaptação livre de manuscrito do dr. Franco Varola por Ricardo Imbassahy.