segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Reprodutoras elite




 

Mumtaz Mahal



Lenny Shulman, reconhecido escritor do PSI, publicou artigo no qual citou seu levantamento sobre um extraordinário grupo de 38 éguas que haviam produzido ao menos dois vencedores de G1 no mesmo ano, fato extremamente raro no universo do PSI. 

Esse grupo de 38 reprodutoras de elite teve suas campanhas e pedigrees comparados pela pesquisadora Avalyn Hunter, com um grupo selecionado, ao azar, de também 38 reprodutoras suas contemporâneas e esse estudo produziu dados significativos. 

As reprodutoras selecionadas para o grupo testemunha, também eram nascidas entre 1963 e 1990, e possuíam ao menos dois produtos em campanha. Esse conjunto de éguas produziu 149 filhos, sendo quatro vencedores clássicos e 63 vencedores comuns.

É notório que a seleção de possíveis melhores éguas de cria é crucial para o êxito de um haras, não cabendo aos garanhões, de forma exclusiva, essa tarefa. Mas, quando se trata de éguas que ainda não entraram em cria como escolher aquelas que possam oferecer as melhores expectativas? 

O estudo de Avalyn Hunter é muito importante para ajudar a se obter essa resposta e dele estão extraídos os resultados que seguem abaixo:

1º: As reprodutoras elite foram, de forma majoritária, melhores corredoras que as pertencentes ao grupo testemunha. Das 38 éguas elite, quatro foram campeãs, cinco eram vencedoras de G1, duas vencedoras de G2, 8 vencedoras clássicas, três foram places clássicos e três vencedoras de importantes allowances. Em comparação, no grupo testemunha figura uma ganhadora G1 e uma place clássico, 19 das éguas (50%) desse grupo ou não correram ou não venceram. No grupo elite apenas cinco éguas (13%) não correram ou não venceram.

2º: De forma geral poderia ser considerado que as reprodutoras elite possuíam melhores pedigrees, pois tenderam a ter uma maior quantidade de familiares vencedores de provas G1 em seus pedigrees até a quinta geração no comparativo as éguas testemunhas (média de 25 frente à 21). 

Mas, esse não é um meio exato para se diferenciar os dois grupos. E isso deve-se ao fato de que grandes garanhões dos últimos 50 anos, os chefs-de-race, em sua maioria aparecem com maior frequência em todas as genealogias. O mesmo é válido para algumas éguas com campanha de alta classe e que vieram a se tornar notáveis matriarcas, as reines-de-course.

Não resta dúvida que quando o enfoque se limita a três gerações, as reprodutoras elite se destacam por possuírem melhor pedigree imediato quando comparadas as reprodutoras testemunhas (média de sete familiares vencedores G1 contra quatro familiares vencedores G1).

3º: As reprodutoras elite foram muito mais propensas a gerar alta classe em razão de serem filhas de garanhões superiores, com alta quantidade de filhos G1, e que estatisticamente também se colocaram entre os melhores avôs maternos. Esses avôs maternos também se apresentaram com constância ao largo dos encadeamentos maternos dessas éguas. Nada menos que 16 (42%) das reprodutoras elite possuíam pais que em algum momento foram avôs maternos líderes. Sendo que três reprodutoras do grupo testemunha que geraram alta classe eram filhas de garanhões com ótimo desempenho tanto como pais, como avôs maternos.

Foi também constatado que 27 (71%) das reprodutoras elite pertenciam a famílias maternas de reconhecido sucesso. Outras 16 (42%) das reprodutoras de elite foram produzidas por garanhões que, mesmo não sendo conhecidos como pais e/ou avôs maternos superiores foram vencedores G1 e seria razoável esperar que suas filhas poderiam vir a serem produtoras de classe. No grupo testemunha sete reprodutoras que geraram alguma classe tiveram a tais cavalos como pais. 

4º: O pedigree das reprodutoras elite apresentam um alto nível de consistência na produção de indivíduos black-type, de uma geração para a geração seguinte. Nas reprodutoras elite foi encontrado que vinte e duas (58%) possuíam parentes black-type aparecendo em todas as quatro primeiras mães, em comparação com quatro (11%) reprodutoras do grupo testemunha. Nas reprodutoras elite não se observou exemplos com vazio em uma geração na produção de indivíduos black-type.

Foi observado que 10 (27%) das reprodutoras elite eram filhas de mães que já haviam produzido pelo menos um filho G1 contra duas (5%) do grupo testemunha. Somente três (8%) das reprodutoras elite eram filhas de éguas que não haviam produzido filhos black-type, sendo que 25 (66%) das éguas testemunhas  caíram nessa categoria.

A pesquisa não deixou dúvidas que a produção de vencedores de grupo está relacionado a um maior êxito de suas famílias maternas. Entre as 38 reprodutoras elite haviam 29 (76%) que venceram ou se colocaram em provas de grupo, ou eram irmãs inteiras ou meias irmãs maternas de vencedores de grupo. 26 (68%) das segundas mães, 25 (66%) das terceiras mães e 26 (68%) das quartas mães das reprodutoras elite apresentaram as mesmas credenciais.

Evidentemente êxito gera êxito, e uma das razões da produção contínua de classe por determinadas famílias maternas reside no fato de que para essas éguas são escalados os garanhões de maior sucesso e a seleção vai afunilando a qualidade em menos nomes. 

As reprodutoras elite em sua imensa maioria pertenciam a ramos fundados por reines-de-course. Nesse grupo foram encontradas mais de uma descendente ventral de matriarcas como La Troienne, Sister Sarah, Theresina, Mumtaz Mahal, Almahmoud e importantes mães como  Chelandry, Idle Tale, Two Bob e Escutcheon. Algumas das reprodutoras testemunha também descendem de importantes éguas base, mas pertenciam a ramos pouco produtivos de classe ao longo de algumas gerações.

5º: As famílias produtoras de grandes éguas e garanhões tendem a serem as mesmas. Nas reprodutoras elite foram encontradas 16 (42%) que possuíam estreita relação familiar materna com um destacado garanhão nas primeiras quatro gerações de seu pedigree. Sendo que apenas cinco (13%) das éguas testemunha apresentavam conexões similares a um também destacado garanhão.

6º: Os modelos de inbreeding demonstraram ter menos importância do que se podia imaginar. No grupo elite foram encontradas 11 (29%) éguas outcross nas cinco primeiras gerações e o mesmo número de éguas foi encontrado no grupo testemunha. No grupo elite haviam cinco (13%) éguas que possuíam inbreeding sobre um grande garanhão nas quatro primeiras gerações contra três (8%) do grupo testemunha. Geralmente os dois grupos apresentaram inbreed sobre os mesmos garanhões, e os níveis de inbreeding nos pedigrees dos dois grupos foram estatisticamente iguais. 

A principal diferença entre as éguas do grupo elite e testemunha quanto aos inbreedings, estava mais relacionada a qualidade do antepassados mais imediatos através dos quais se transmitiu o inbreeding, do que a qualidade, em si, dos cavalos geradores do inbreeding.

Quanto ao grupo testemunha, no único exemplo de égua com ancestrais de baixo mérito até a terceira geração que produziu filho de grupo, foi notado em seu pedigree a presença de uma muito alta concentração de notáveis antepassados nas quarta e quinta gerações, tal aspecto foi considerado fator determinante para a transmissão de qualidade.

7º: Alguns aspectos não apresentaram relevância como a tradição empírica considera. O método de totalizar todos os vencedores black-type até a quinta geração em um pedigree mostrou pouca diferença entre os dois grupos de reprodutoras. Foi encontrado uma média de 40 vencedores no grupo elite contra 38 do grupo testemunha. O que foi constatado é que a qualidade das provas black type é fator mais importante que a quantidade de vitórias nessas mesmas provas, quando de pior chamada.

Conclusão:

Foi concluído que apenas o pedigree não pode ser o único determinante do potencial de uma égua para a reprodução, e que o mérito em campanha é um fator que se mostrou de fundamental importância, assim como o histórico reprodutivo na transmissão de classe da família materna próxima.