sábado, 3 de setembro de 2022

Zillion Stars, quando a genética domina

 



Zillion Stars, o melhor milheiro argentino da atualidade, um vencedor do Gran Premio Joaquín S. de Anchorena - Gr.1, a milha internacional argentina, é filho da brasileira Etoile Blanc. Égua que serve como reprodutora na seção argentina do grupo investidor sul-africano Wilgerbosdrift.

Etoile Blanc contrariando aos que defenderam no passado e ainda defendem a necessidade de "modernizar" a criação nacional com "novas" linhas maternas (infelizmente o que acaba chegando de forma majoritária são fêmeas norte-americanas com baixo calibre genético) é uma legitima representante de uma dessas "amaldiçoadas" famílias estabelecidas a décadas em solo brasileiro e lamentavelmente hoje quase extintas em nossos haras. Como reprodutora Etoile Blanc além de Zillion Stars produziu mais 2 vencedores de grupo 1, Ohio -  Frank E. Kilroe Mile Stakes (USA-Gr.1,1600m) e Zodiacal - GP Jockey Club Argentino (Arg-Gr.1, 2000). 

Se considerarmos que Etoile Blanc é fruto de linha fundada em 1939 no Haras São José & Expedictus com a importação da argentina Copeta (sua oitava mãe) e que possui as suas outras 7 mães todas nascidas nesse mesmo haras, veremos que naqueles idos os Paula Machado já entendiam como fundamental construir e manter suas famílias. Exatamente como grandes criadores ainda hoje o fazem, no exterior podemos citar como os mais notáveis, S.A. Aga Khan e Juddmonte, no Brasil os exemplos dessa filosofia de construção e preservação de linhas maternas próprias são os Haras Santa Maria de Araras e Doce Vale. Não é por coincidência que todos esses 4 grandes criadores são exemplos de perene sucesso ao longo de décadas.

Com o sucesso de Etoile Blanc na reprodução fica mais do que evidente o mal que o pensamento nefasto quanto a necessidade de trazer "modernidade" ao plantel de éguas nacionais causou a criação brasileira. Na diáspora das éguas Paula Machado, os criadores brasileiros permitiram o desaparecimento de linhas notáveis daquela criação como as de Canícula, Fléchoise, Tacy, Urisca, Milady, My Ladyship, Missolonghi, Clareira, Intime Amie, Fashion Dancer, Scarginsky e tantas outras. Esse foi mais um dos fatos trágicos que devastaram dos anos 90 para cá o desenvolvimento da criação brasileira. 

Sem contarmos que o abandono a essas éguas acarretou por tabela importante perda das genéticas de Fort Napoléon, Felicio, Formastérus, Blackamoor, Karabas, Dragon Blanc, Falkland, etc e mais Itajara, Baronius, African Boy,  Aporé, Tibetano, Lucarno, Orpheus e tantos outros craques nascidos em Rio Claro e Botucatu. Felizmente a criação sul-africana sabendo reconhecer a qualidade dessa genética resgatou uma rara Etoile Blanc para servir em sua operação argentina e nos brinda com  Zillion Stars, que mantêm vivo em suas veias a herança da criação Paula Machado.

Aos leitores com maior interesse convido estudar os pedigrees dos ganhadores clássicos da Austrália, Nova Zelândia e África do Sul. Assim constatarão que a imensa maioria desses ganhadores descendem de linhas maternas nativas que são "temperadas" ao longo do tempo com garanhões importados. Mas é fácil também observar que essas criações não desprezam na reprodução seus craques e esses são devidamente prestigiados. Na Austrália o atual líder de estatística é o australiano I'm All The Talk (filho de Stratum, um australiano), na Nova Zelândia é o também australiano Sweynesse (filho de Lonhro, um australiano) e na África do Sul é o sul-africano Vercingetorix (filho do alemão Silvano).

Os com interesses comerciais na importação de "éguas modernas" dizem que a criação brasileira criava no passado "cavalinhos". Certamente se esquecem que Sabinus, um desses "cavalinhos", foi convidado para correr o Washington D.C International de 1968, naquele tempo a prova internacional de maior hierarquia e premiação do turfe norte-americano, e obteve um 5º lugar para o notável Sir Ivor (Lester Piggot up), tendo perdido o 4º lugar no photochart para o grande campeão alemão Hitchock, campanha abaixo:

https://www.pedigreequery.com/hitchcock

Levado a França, dentre outros resultados, obteve um 2º lugar, a meio corpo do muito bom Amarko no Prix du Ranelagh em Longchamp. Com certeza essas curtas memórias tem como seu limite máximo a década de 90 e os cavalos daí produzidos, justamente o começo do calvário da criação brasileira. Pois foi quando se começou a importar de forma massiva exemplares de quinta categoria do turfe norte-americano e foi iniciado o desmonte de nosso plantel de éguas, construído ao longo de décadas com o aporte da mais fina genética europeia e argentina.

Retornando a Zillion Stars, ele é um filho do inglês Cityscape, o que representa a manutenção futura na reprodução da linhagem masculina de NATIVE DANCER por via do extraordinário Sharpen Up . Cityscape apesar de ser um garanhão considerado démodé pelo forte marketing europeu, que favorece a alguns grandes criadores, apresenta relevante sucesso na reprodução. Para maiores informações sobre Cityscape acessar:

https://www.ovstud.co.uk/stallions/cityscape/


                 

Cityscape.


Cityscape levado em regime de shuttle para a Argentina apresentou destacado êxito tendo 182 filhos corridos, dos quais 116 venceram (63.74%). Tendo, segundo Stud book argentino, 14 ganhadores de provas Clássicas, 9 ganhadores de provas de Grupo e 4 ganhadores de Grupo 1. 

Não podemos deixar de citar que Zillion Stars é neto materno de Nedawi, um reprodutor cuja genética é inacreditavelmente desprezada pelos criadores brasileiros. Nedawi foi notável garanhão em seu serviço ao élevage nacional, um distribuidor de classicismo na mais pura acepção da palavra. Pai de 41 individuais ganhadores em provas clássicas, sendo 16 em Grupo 1, possuindo um índice de 6,86% em vencedores black-type, que o coloca no patamar dos melhores reprodutores que já serviram no Brasil.


                   

Nedawi


Dentre seus filhos podemos citar Didimo, 1º GP Brasil - Gr.1; Very Nice Moon, 1º GP Immensity - Gr.1; Generosidade, 1º GP OSAF - Gr.1; La Defense, 1º GP Roberto e Nelson Seabra - Gr.1; Right Idea, 1º GP Diana, Gr.1 ; Desejo Infinito, 1º GP Henrique de Toledo Lara - Gr.1; Parapatibum, 1º GP Barão de Piracicaba, Gr.1; Mr Nedawi, 1º GP Paraná - Gr.1; Fuco, 1º GP Linneo de Paula Machado - Gr.1, Core Business, 1º GP Derby Paulista - Gr.1, entre outros vencedores de provas de grupo.


Apesar de sua principal vitória ter sido em uma prova de fundo, Nedawi por se apresentar em corrida como um indivíduo dono de poderosa aceleração final foi capaz de produzir uma Ever Love, que venceu nos 1400 metros do GP Presidente Guilherme Ellis - Gr.3; Cruzada Americana nos 1500 metros do GP João Cecílio Ferraz - Gr.1; Quick As Ray nos 2000 metros do GP Diana - Gr.1 e Faz de Conta nos 2400 metros do GP Zélia Peixoto de Castro - Gr.1, isso ficando apenas em exemplos femininos. Os filhos de Nedawi venceram dos dois aos nove anos, dos 1000 aos 3200 metros, tanto na pista de grama como na de areia, o que evidencia de forma clara o vigor físico e a flexibilidade em distâncias transmitido por esse tipo de parelheiro. 

Há de se destacar que o melhor arenático brasileiro das últimas décadas Mr Nedawi também é seu filho. Mr Nedawi venceu por duas vezes o Dardo Rocha, 2400 m, Gr.1-Arg e mais o Ramirez, 2400 m, Gr.1-Ur, o que não é pouco feito.

Nedawi, confirma que a velha receita stamina com velocidade final é um dos caminhos para o sucesso na criação do PSI. As filhas de Nedawi podem ser comparadas ao mais fino diamante que se possa encontrar.  Não é a toa que Etoile Blanc é o que é como matriz e Nedawi é avô materno de um excepcional milheiro.

Sem dúvida alguma, a exemplo de Koller - garanhão argentino iniciante já com ótimos resultados entre nós. Zillion Stars é uma outra excelente opção na Argentina, talvez acessível, para algum criador brasileiro que necessite de um garanhão com perfil mais moderno quanto a expectativa de produção.