quinta-feira, 29 de março de 2018

Hasili - Uma Reine de Course



HASILI (1991-2018)

Uma das matrizes mais bem sucedidas da era moderna do turfe faleceu esse mês de março no Banstead Manor Stud, de Juddmonte Farms em Newmarket, Inglaterra, aos 27 anos de idade.

A filha de Kahyasi, foi uma boa vencedora 2 anos em sua geração na França, com 4 - 3 - 1 em 17 saídas, sendo seu principal feito a vitória no Prix des Sablonnets, L.

Hasili foi aposentada em 2012, tendo gerado 10 produtos, sendo que 8 chegaram as corridas. Desses, 5 são vencedores de Grupo 1, um com vitória em G3, outro colocado em listed e um sem expressão. Sua produção foi:


1 - Dansili - 1996 - (Danehill ) 
Vencedor de grupo 2 e seis vezes placê em Grupo 1. Garanhão de alta classe, um líder por número de vitórias na história do turfe britânico. Pai de 20 vencedores G1 em mais de 35 conquistas individuais, no geral, já produziu mais de 120 "stakes winners". Se inicia como um "pai de pais", seu filho Zoffany em sua primeira fornada apresentou os G1, Chicquita e Astaire, bem como Time Test e Snow Sky.



Dansili.

2 - Banks Hill - 1998 - (Danehill) 
Três vezes vencedora de Grupo 1, destacando-se a Coronation Cup em Ascot. Mãe da G1 Romantica.

3 - Heat Haze - 1999 - (Green Desert) 
Duas vitórias de Grupo 1 nos EUA , venceu o importante Matriarch Stakes. Mãe de 3 competidores com colocações em provas de grupo: Forge, Mirage Dancer e Radiator.

4 - Intercontinental - 2000 - (Danehill)  
Vencedora duas vezes de Grupo 1, sendo sua principal vitória a obtida na Breeder's Cup Filly & Mare Turf. Mãe de Abseil, colocado em listed.

5 - Cacique - 2001 - (Danehill) 
Duas vezes vencedor de Grupo 1 nos EUA, seu principal feito foi vencer o Manhattan Handicap - US$ 1 milhão. Pai dos G1 Dominant, Slumber e Mutual Trust.

6 - Champs Elysees - 2003 - (Danehill) - cavalo do ano no Canadá em 2009.
Venceu 3 G1, entre eles o importante Canadian International Stakes - C$ 800.000. Pai do vencedor da Ascot Gold Cup Cup, G1, Trip to Paris; do G1 Harlem, G3 Jack Naylor, G3 Xcellence, entre outros.

7 - Raise the Flag - 2005 - (Sadler's Wells) 
Não colocado em sua única apresentação. Garanhão sem maior destaque na Nova Zelândia.

8 - Deluxe - 2007 - (Storm Cat) 
Vencedora de Grupo 3, Cardinal Handicap, sofreu acidente de raia, sendo sacrificada.

9 - Very Good News - 2008 - (Empire Maker) 
Não foi apresentada as pistas, reservada por seu criador para reprodução.

10 - Responsible - 2011 - (Oasis Dream) 
Não foi apresentada as pistas, reservada por seu criador para reprodução.

Juddmonte informa em suas estatísticas que os quatros filhos de Hasili em reprodução geraram até o momento da sua morte mais de 230 competidores em provas black-type.



Vídeo: Cortesia / Copyright de Juddmonte Farms

Nosso respeito e homenagem a essa grande matriarca da história do turfe mundial.

quarta-feira, 21 de março de 2018

Uma revisão sobre o Mito das Famílias Maternas


Urban Sea.

Foi procurada uma maior compreensão do estudo "O Mito da Família Feminina", efetuado por Hall e Martinez, anteriormente postado em nosso blog. Apresentamos abaixo considerações, que, possivelmente possam facultar uma melhor análise quanto ao importante tema em questão.

Ao longo dos anos, tem existido uma série de grandes reprodutoras, que exibiram muito pouca habilidade nas pistas. No entanto, como é de se esperar, várias éguas de primeira categoria também se tornaram grandes reprodutoras. Ocasionalmente e por razões diversas, corredoras excepcionais são muito decepcionantes em suas produções no haras.

Então, qual será o melhor indicador para uma boa reprodutora - capacidade em corrida ou pedigree?

Para darmos seqüência a essa análise se buscou a principal prova do turfe mundial, o Prix de L’Arc de Triomphe, onde foi levantado o nome de suas vencedoras e respectivas produções como reprodutoras. Desde a sua primeira disputa em 1920 até 2017, o Arco foi vencido 23 vezes por representantes do sexo feminino, sendo que, nos últimos 10 anos as fêmeas levantaram 7 do total das provas disputadas.

Dessas 21 ganhadoras (Corrida e Treve venceram duas vezes cada), as mais recentes campeãs, Danedream (fam. 14), Solemia (fam. 16-c), Treve (fam. 4-n), Found (fam. 1-m) e Enable (fam. 4-m) não possuem produtos estreados, ou, ainda, não foram encaminhadas para reprodução.


Então, 16 fêmeas que venceram o Arco foram analisadas, e os seguintes resultados encontrados:

1931 - Pearl Cap (Le Capucin), mãe de  Pearl Diver, Derby de Epsom, G1, fam. 16-b,
1935 - Samos (Bruleur), mãe de Marveil, The King George VI Stakes, G1, fam. 19,
1936 e 1937 - Corrida (Coronach), mãe de Coaraze, Prix du Jockey Club, G1, fam. 9-e,
1945 - Nikellora (Vatellor), mãe de Chief, Prix d’Ispahan, G1, fam. 4-h,
1949 – Coronation (Djebel), estéril, fam. 14,
1953 - La Sorellina (Sayani), mãe de ganhadores, fam. 7,
1972 – San San (Bald Eagle), mãe de Windsor Knot e Sprite Passer, ganhadores e ambos com colocações em provas Black-Type no Japão, fam. 7-c,
1974 - Allez France (Sea-Bird), mãe de Action Française, Prix de Sandringham, G3, fam. 1-s,
1976 - Ivanjica (Sir Ivor), mãe de ganhadores, fam. 12-e,
1979 - Three Troikas, mãe de Three Angels, Prix des Reservoirs, G3, fam. 1-k,
1980 - Detroit (Riverman), mãe de Carnegie, Prix de L’Arc de Triomphe, G1, fam. 16-c,
1981 - Gold River (Riverman), mãe de Riviere D'Or, Prix Saint Alary, G1, fam. 22-d,
1982 - Akiyda (Labus), mãe de ganhadores, fam. 13-c,
1984 - All Along (Targowice), mãe de Along All, Prix Greffulhe, G2, fam. 1-d,
1993 - Urban Sea (Miswaki), mãe de Galileo, Sea The Stars, Black Sam Bellamy, My Typhoon, Born To Sea, All To Beautiful, Urban Ocean, Cherry Hinton e Melikah, fam. 9-h,
2008 – Zarkava (Zamindar), mãe de Zarak, Prix de Saint Cloud, G1, fam. 9-c.

Obs: Sobre a matriarca Urban Sea deixamos o link abaixo:


Esse estudo mostra que das 15 éguas que ganharam o Arco do Triunfo e tiveram filhos corridos, oito (53%), produziram o que hoje seria classificado como vencedores de G1; 12 (80%), são mães de animais com vitórias e/ou colocações em provas de grupo, e 100% mães de ganhadores.

Embora as éguas citadas certamente tenham tido as melhores chances com garanhões de maior qualidade, é difícil negar o impacto por elas causado nos números acima.

Claramente, quanto maior a capacidade de corrida que uma égua possui, mais chances ela tem para se tornar uma matriz de sucesso.

Também é interessante observar que as melhores éguas em corrida também produzem filhos que se apresentam na reprodução como geradores de maior classe.

Considera-se existir 2 patamares nas famílias ditas “Elite”, em primeiro lugar as famílias 1 - 2 - 3 - 4 - 5 - 9 - 13 e 22, em um nível imediatamente abaixo encontra-se as 6 - 7 - 8 - 10 - 11 – 14 - 16 – 17 – 20 e 21; sendo creditados as famílias desses dois grupamentos mais de 80% dos ganhadores de provas de grupo nas 3 últimas décadas.

Como adendo: Famílias e subfamílias mais vencedoras em ordem decrescente, segundo estudo de Renato Gameiro: 14-c, 13-c, 9-g, 8-f, 9-c, 14, 16-e, 9-e, 1-o, 11-f e 4-b.

Cabe destacar que das 21 ganhadoras do Arco do Triunfo, apenas Ivanjica (fam.12), Samos (fam. 19) e Solemia (fam. 34) não pertencem aos troncos ventrais classificados como “Elite”, ou seja, somente 14% respondem como exceção da regra.

Alguns dos maiores garanhões da história pertencem as famílias "Elite", e são filhos de corredoras de classe ou grande classe, podemos citar alguns, Northern Dancer - fam. 2 - (Natalma venceu o G1 Spinaway Stakes mas foi desclassificada), Nearco - fam. 4 - (Nogara venceu os G1, 1000 e 2000 Guinéus italianos), Native Dancer - fam. 5 - (Geisha venceu o G2 Gazelle Handicap), Mr. Prospector - fam. 13 - (Gold Digger venceu 10 stakes), Hyperion - fam. 16 - (Selene venceu o G1 Cheveley Park Stakes), Bold Ruler - fam. 8 - (Miss Disco venceu o G1 Test Stakes), Storm Cat - fam. 8 - (filho da recordista Terlingua, que por sua vez venceu 3 G2 e 1 G3), Ribot - fam. 4 - (Romanella venceu o G1 Criterium Nazionale), Pharis - fam. 20 - (Carissima venceu o G3 Prix de Minerve), Phalaris - fam. 1 (Bromus venceu o G3 Seaton Delaval Stakes), Tourbillon - fam. 13 - (Durban venceu o G1 Grand Criterium), uma lista infindável de grandes nomes... 

De maneira contundente, hoje, os 3 primeiros garanhões da lista de líderes na europa, Galileo, Dubawi e Sea the Stars, também são filhos de éguas de alta classe e pertencentes as famílias “Elite”.

Nos EUA, um turfe cuja patamar em rigor de seleção não pode ser comparado ao europeu, apresenta seus 3 garanhões líderes das estatísticas em 2017, Unbridled’s Song (fam. 4), Candy Ride (fam. 13) e Kitten’s Joy (fam. 2) como pertencentes as famílias “Elite”. Embora, filhos de mães não vencedoras ou colocadas em stakes, mas, pelo menos ganhadoras.

Essas estatísticas e exemplos, mostram claramente que, em geral, quanto maior a habilidade de corrida, maior a probabilidade de uma égua se sair bem na reprodução. Embora existam exceções para todas as regras, a capacidade de corrida é inegavelmente um indicador extremamente importante para o futuro sucesso de uma égua no haras. Também, não se pode deixar de destacar a importância em pertencer a uma família "Elite" para tal êxito, pois assim os números o demonstram.

É importante notar que o estudo de Jason Hall e Mariana Lopez considerou como “famílias femininas” não o conceito de Bruce Lowe e Bobinski – Kamizierz para famílias maternas mas, sim, o que poderíamos chamar de “ramos familiares” e sua produção. O que foi considerado, de fato, foram as informações até no máximo a quarta mãe dos produtos constantes nos catálogos de Keeneland e não a quais famílias maternas os indivíduos estudados pertenciam, inclusive, pela razão, desses catálogos não fazerem constar a indicação dessas famílias nos lotes apresentados.









segunda-feira, 19 de março de 2018

O Mito da Família Feminina



Esse artigo foi originalmente publicado na edição de 23 de outubro de 2003 do The Blood-Horse.


O Mito da Família Feminina


Joseph A. Estes argumentou de forma incessante através de seus escritos que a campanha de uma égua PSI era a referência mais importante para o seu sucesso futuro como reprodutora. Em “The Estes Formula for Breeding Stakes Winners”, escreveu: “… em relação à seleção de pedigree, esse, em geral, deve ser o acessório menor para a seleção individual, sendo razoável se buscar o equilíbrio na tomada de decisões através do mérito individual “. Estes foi um fiel defensor da aquisição de éguas bem-sucedidas em pistas para a reprodução, sendo famílias femininas e pedigree algo de menor consideração.

Do outro lado da questão, ícones da indústria como Seth Hancock, Claiborne Farm,  defendem as famílias femininas fortes, mais do que a classe demonstrada nas pistas. No livro de Edward L. Bowen “Matriarchs: Great Mares of the 20th Century”, Hancock escreve: “De forma geral, acredito, na velha premissa de que a família materna seja mais forte que o indivíduo. Conectado a essa linha de raciocínio creio no fato de que somente o desempenho em corrida não seja sempre uma verdadeira medida”.

Embora não seja tão unilateral como Estes em suas crenças, Hancock claramente sai em defesa de seu argumento para as éguas com sangue azul através das famílias femininas que sempre formaram o plantel de seu campo de criação.

Decidimos olhar esse assunto a partir de um ângulo puramente estatístico  e, esperançosamente, lançar alguma luz sobre o tema. Para construirmos um banco de dados sobre essa questão, adquirimos os catálogos de vendas da Keeneland de novembro e janeiro entre os anos de 1984 e 1988. Para o nosso primeiro grupo de estudos, tabulamos as primeiras 60 éguas que vieram de famílias femininas fortes, mas, que não tinham nenhum óbvio talento para corrida. As éguas que não foram apresentadas em pistas foram descartadas e não estão inclusas neste trabalho.

Para o nosso segundo grupo de estudo, reunimos as primeiras 60 éguas que possuíam óbvio talento para corridas (vencedoras ou colocadas em provas de grupo), mas, oriundas de famílias femininas obscuras. Os pais das éguas representadas nesse segundo grupo, como um todo, são menos proeminentes e bem sucedidos que os pais das éguas constantes no primeiro grupo do estudo.

As mães foram selecionadas simplesmente com base em uma das duas teorias, e não no que já haviam produzido. Nosso objetivo foi isolar as duas principais variáveis (habilidade em corrida e famílias femininas fortes), tanto quanto possível, e ver como cada grupamento atuou na reprodução nos anos futuros. As estatísticas de corrida são até 2001 para a produção nascida antes de 1999.

Claramente os garanhões e avôs maternos das mães  apresentadas no grupamento 1 são mais proeminentes, suas famílias femininas igualmente impressionantes, mas, entre as 60 éguas nenhuma conseguiu vencer uma única corrida sequer, são filhas de garanhões consistentes como: Northern Dancer, Seattle Slew, Roberto, Danzig, In Reality, Graustark, Alydar, Nijinsky e Riverman. Por outro lado, as éguas pertencentes ao grupamento 2 provêm de garanhões menos prestigiados. A título de subsídio esses catálogos apresentaram 22 ganhadores de provas de grupo e com ganhos somados de mais de 10,7 milhões de dólares.

Uma vez que compilamos nossos dois grupos, olhamos para o futuro, por assim dizer, e tabulamos registros de produção completa dessas 120 éguas. As éguas que foram selecionadas pela força da família materna produziram 283 filhos vivos e 217 que correram até o final de 2001. Mães que foram selecionadas com base em seu desempenho como corredoras produziram 345 filhos e 257 corridos para o mesmo período. Somente animais norte-americanos e provas Black-Type foram incluídos nesse estudo.

A primeira comparação demonstra o percentual de vencedores. A tabela 1.2 ilustra as diferenças entre os dois grupos e como eles se comparam com a média da raça:




Houve aqui algumas diferenças, com ambos os grupos de estudo superando a média da raça, em forma geral, havendo apenas distância moderada entre eles. Mas, obter quase 80% de vencedores a partir de éguas com classe superior em corrida, embora, pertencentes a linhagens considerados "inferiores" é um dado significativo, podendo ser indicador de uma maior solidez transmitida por essas éguas.

A próxima comparação analisa apenas as percentagens de vencedores em provas Black-Type. As estatísticas da indústria sobre as médias da raça nessa categoria não foram utilizadas, pois incluíram todos os vencedores, em vez de apenas vencedores Black-Type. As tabelas 1.3 e 1.4 oferecem uma clara idéia sobre como cada grupo se apresentou em termos de produção em participações.




É aí que a separação entre os dois grupos começa a ocorrer. Existe uma lacuna significativa entre os dois, com as éguas de alta competência em corrida quase que duplicando a produção de ganhadores se comparadas com a produção das éguas originárias das famílias fortes. O mesmo padrão parece continuar ao se olhar para a produção global de vencedores, conforme ilustrado na tabela 1.4 abaixo:




Os defensores das famílias femininas fortes geralmente apontam para os vencedores de provas graduadas pertencentes a essas famílias como o motivo pela opção de se buscar famílias fortes em detrimento a indivíduos fortes. Eles argumentam que, embora as boas éguas em corrida sejam aptas para produção de ganhadores, tanto em provas comuns como provas de grupo, é condição "sine qua non" pertencer a uma família materna forte para obtenção de potenciais animais com a qualidade necessária para vencer as principais provas de grupo. No entanto, neste estudo, esse não parece ser o caso. A tabela 1.5 corrobora isso:




Não só as éguas que demonstram classe em corrida produzem seus homólogos, como produzem mais do que o dobro de vencedores em provas Black-Type. Mães com habilidade de corrida produziram cinco vezes mais o número de vencedores em provas graduadas do que a égua média do PSI, enquanto que, as éguas com famílias femininas fortes produziram apenas mais do que o dobro da média.

Finalmente, de um ponto de vista puramente financeiro, calculamos o lucro médio para os potros produzidos por ambos os grupos. A tabela 1.6 mostra como os bolsos dos criadores podem ser afetados por suas escolhas nas perspectivas da criação.




Novamente, éguas com habilidade em corrida superaram as éguas com famílias fortes, dessa vez praticamente duas a uma. Interpretado de outra maneira, animais provenientes de éguas com classe em corrida ganharam uma média de US$ 40.271 a mais que animais produzidos por éguas que sejam, apenas, pertencentes a uma família forte. Ambos grupamentos superaram a média da raça, mas, também foi notável o relativamente pequeno intervalo entre a média da raça e as éguas pertencentes a famílias fortes.

Com base nesses números, a força do indivíduo parece ser mais relevante do que a força da família. Se dois compradores tivessem sido enviados de volta no tempo armados com as duas teorias aqui discutidas, é relevante entender que o comprador que acredita em classe de corrida teria obtido melhor resposta ao seu investimento.

Nós não podemos deixar de pensar que Joe Estes, onde quer que esteja, seguramente estará dando belos sorrisos.

Autores:
Jason Hall e Mariana Lopez
Tradução:
Ricardo Imbassahy


Nota do tradutor: Em algumas publicações, sem comprovação de fonte, consta que as famílias 1 - 2 - 3 - 4 - 5 - 9 - 13 e 22, as 6 - 7 - 8 - 10 - 11 - 16 e 17 (que compartilham o mesmo DNA mitocondrial com as famílias 2 - 4 - 13 e 22), e mais as 14, 20 e 21 são consideradas as famílias femininas elite do turfe; um total de 18 linhas ventrais. Elas representariam em conjunto, mais de 80% dos vencedores de provas de grupo disputadas nas últimas 3 décadas no calendário turfístico mundial.

  




quinta-feira, 8 de março de 2018

Pais fracassados e grandes avôs maternos. Os genes que pulam uma geração.



Secretariat.

O grande exemplo sobre o tema em questão chama-se Secretariat, um excepcional corredor, fracassado na reprodução e notável avô materno.

Secretariat foi retirado para reprodução na Claiborne Farm aos 3 anos de idade (1973), em sua vida reprodutiva, 15 temporadas de monta, gerou 663 produtos registrados. A principal crítica a Secretariat foi a sua não capacidade em produzir um grande ganhador e/ou um grande semental, ou seja, Secretariat foi um fracasso como pai de machos, mesmo tendo a sua disposição as melhores éguas e/ou de melhores linhagens em seu tempo nos EUA, mas, suas filhas foram prestigiadas na reprodução. O resultado que se viu foi o surgimento de um espetacular avô materno; essas filhas produziram 24 vencedores de grupo 1. São seus netos AP Indy, Storm Cat, Gone West, Chief’s Crown, Dehere, Secreto, Istabraq, Volksraad (garanhão líder na Nova Zelândia), etc. E esses netos, por sua vez, vieram a se transformar, em sua grande maioria, em importantes reprodutores.

De fato, um dos maiores mistérios na criação do PSI, é a razão pela qual excepcionais corredores são incapazes de transmitir suas qualidades a seus filhos, embora brilhem em linha feminina. Animais, esses, que Franco Varola intitulava como “Os grandes geradores de talento feminino.”

Não cabe aqui, maior aprofundamento em genética, mas uma informação básica deve ser tratada “en passant”, para que seja possível prosseguir:

- Os machos mamíferos diferenciam-se das fêmeas por portarem um cromossomo X e outro Y (diferentemente do X, o Y apresenta poucos genes e determina poucas características), as fêmeas possuem apenas cromossomo X. Os cromossomos X e Y apresentam poucas regiões homólogas, o que faz com que certas características sejam completamente influenciadas pelo sexo. Um macho ao transmitir o seu cromossomo X às suas filhas, estará transmitindo um cromossomo necessariamente herdado de sua mãe. -




Em 2013, geneticistas da Universidade de Medicina Veterinária de Cornwell tornaram público estudo que descobriu os chamados “imprinted genes” – genes impressores – nos quais apenas a cópia hereditária materna ou paterna de um gene é ativa em qualquer célula. Também foi descoberto que, o gene X advindo do pai é determinante no desenvolvimento placentário e daí, a hipótese que está sendo considerada é a de que filhos de certos indivíduos em razão de interações materno fetais, para minimizar o conflito genético entre um feto masculino e sua mãe, poderiam ter seus genes impressores inativados durante a sua gestação. E, consequentemente, explicaria o fenômeno de alguns excelentes corredores não responderem a contento na reprodução, principalmente como pais de machos, mas se destacarem como magníficos avôs maternos. 


*** Para maiores detalhes sobre o estudo levado a termo na Universidade de Cornwell:

Paternally expressed genes predominate in the placenta

*** Estudo ao qual se soma o trabalho de pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - Universidade de São Paulo:

Desenvolvimento placentário e interações materno fetais na espécie equina

http://www.fmv.ulisboa.pt/spcv/PDF/pdf6_2015/1-5.pdf


Tal teoria, também, pode ser a explicação do motivo pelo qual os filhos de um garanhão bom pai de mães tornam-se, muitas vezes, muito bons pais de mães. Pertencer a um linha masculina boa produtora de ventres é para uma égua matriz de capital importância, como as melhores mães européias assim estatísticamente o demonstram. 


Pivotal, por exemplo, é hoje um óbvio melhorador de mães, mostrando-se destacado avô materno, podemos citar algumas outras linhagens masculinas férteis na produção de "talento feminino":

A – Danehill / Danehill Dancer e Dansili,
B -  Sadler’s Wells / Galileo / Singspiel / Montjeu e Barathea,
C-  Darshann / Mark of Esteem,
D – Kingmambo / King’s Best e Dubai Destination,
E – Storm Cat / Mountain Cat e Giant’s Causeway,
F – Gone West e seu neto Xaar,
G – Monsun,
H - Drone.

Na foto Darshaan, por Shirley Heights em Delsy por Abdos, suas filhas produziram mais de 200 ganhadores de provas de grupo, sendo 40 em grupo 1.




É de nosso entendimento, baseado no exemplo de Secretariat e estudos acima, que um turfe que vive em eterno estado embrionário como o nosso, não pode e nem deve desprezar para avô materno, nomes de grandes corredores internacionais que aqui adentraram para reprodução e fracassaram nesse míster, mesmo considerando que esses mesmos garanhões também tenham falhado em outros centros. 

Tomemos o grandíssimo corredor Sinndar como referência, um garanhão apenas regular e versátil, quase similar a Secretariat, tendo como principais filhos Rosanara, Prix Marcel Boussac, G1; Sharet, Shawanda e Youmzain, esse já se iniciando com sucesso na reprodução, sendo pai de Sea Calisi, G1; Royal Youmzain, G2; Bebe Cherie, G3; Electre De Laroque, 2nd G3; Gaston, 2nd G3, etc.



Sinndar.


Evidentemente, que em um ambiente extremamente competitivo e seleto como o turfe europeu, no qual grandes exemplares se apresentam em ininterruptas vagas nas sucessivas gerações, não cabe, para a imensa maioria das filhas de Sinndar, ou de qualquer outro reprodutor pouco aprovado como pai, chances na reprodução, da forma como nos EUA foram dadas para as filhas de Secretariat. A cultura européia no turfe é incomparavelmente mais exigente que a norte-americana, portanto, o perdão para um garanhão fracassado é mais dificil de ser obtido. 

Mas, com pouquíssimas filhas na reprodução Sinndar já se apresenta como avô materno de real interesse, destacam-se seus netos: Flotilla (2 anos: Breeders' Cup Juvenile Fillies Turf, EUA, G1; 3 anos: Poule D'Essai Des Pouliches, Fr, G1; 4 anos: 2nd Balanchine Stakes, UAE, G2; 3rd Godolphin Mile, UAE, G2) / Trading Leather (2 anos: Autumm S, Eng, G3; 3 anos: Irish Derby, Ire, G1; Silver S, Ire, L; 2snd King George VI and Queen Elizabeth S, Eng, G1; International S, Eng, G1; Dante S, Eng, G2; 3rd Irish 2000 Guineas, Ire, G1; 4 anos: 2nd Eclipse S, Eng, G1; 3rd Irish Champion S, Ire, G1; Jockey Club S, Eng, G2) / Encke (3 anos: St Leger S, Eng, G1, 2sd Gordon S, Eng, G3, 3rd Great Voltigeur S, Eng, G2; 5 anos: 2nd Glorious S, Eng, G3, 3rd Irish St. Leger, Ire, G1, Cumberland Lodge S, Eng G3) / Genius Beast (3 anos: Classic Trial S, Eng, G3, 3rd Prix Hocquart, Fr, G2).









Por qual razão as filhas de Sinndar não servem para a reprodução no Brasil?

"SOMENTE OLHANDO PARA TRÁS É POSSÍVEL VISLUMBRAR O FUTURO". Winston Churchill