quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Native Dancer, o fantasma cinza


 

Muitos dos franceses do pós-guerra foram traumatizados pela história de Belphégor, o fantasma sombrio e assustador que assombrava os corredores do Louvre. Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, os turfistas foram surpreendidos por mais um fantasma cinza: Native Dancer.

Nascido em 23 de março de 1950 em Lexington (Kentucky), filho do vencedor do Preakness St. (Gr.1) Polynesian e da tordilha Geisha, Native Dancer continuou a crescer nas pradarias verdes de Maryland com seu criador-proprietário Alfred G. Vanderbilt II. Na verdade, esse tordilho sempre se destacou claramente dos outros cavalos no hipódromo: uma verdadeira força da natureza, alto e comprido (medirá 1,70 m na idade adulta), poderoso, corpo bem desenvolvido, traseiro forte, com mau temperamento mas frio em corrida, ele atraiu muito rapidamente multidões às pistas com seu estilo devastador, esperava o quase final das corridas para vir ao extremo, e com impressionante pointe de vitesse oferecia espetaculares apresentações a platéia. 

Foi assim que começou em abril sua vitoriosa campanha, aos 2 anos de idade, para então vencer o Hopeful St. (Gr.1) e o Futurity St. (Gr.1 - em tempo recorde), e ganhar o título de Cavalo do Ano no final de sua temporada juvenil. Façanha extremamente rara, só conseguida vinte anos depois por Secretariat.



A edição de 1953 do Kentucky Derby (Gr.1) o tinha como favorito absoluto, cuja invencibilidade foi habilmente preservada pelo treinador William C. Winfrey, tendo como ápice sua vitória no Wood Memorial St. (Gr.1). A televisão norte-americana transmitiria, pela primeira vez na história, a corrida ao vivo de Churchill Downs. Infelizmente, Native Dancer largou mal e demorou muito na retaguarda, sofreu vários prejuízos durante o percurso e foi incapaz de alcançar na sua arremetida final a Dark Star, se colocando em segundo lugar. Native Dancer conheceu nesse dia a única derrota de sua carreira. 

Ele rapidamente recuperou seu cetro ao vencer o Preakness St. (Gr.1) e o Belmont St. (Gr.1), obteve mais três sucessos aos 4 anos de idade, incluindo a Metropolitan Mile H. (Gr.1), com vista à participação no Prix de l'Arc de Triomphe, projeto abandonado devido a uma delicada situação em seu boleto anterior direito. 

Considerado a terceira personalidade do ano de 1954, ele foi novamente eleito Cavalo do Ano e apareceu na capa da revista Time! Native Dancer será lembrado como um cavalo de alta classe, ao mesmo tempo precoce, brilhante e corajoso, mas extremamente frágil de locomotores. Além de alguns dedos arrancados por suas mordidas, ele se especializou em derrubar seu cavaleiro ao fletir o ombro esquerdo no galope, e nunca perdeu a oportunidade de lançar um jóquei no chão agarrando-o pela manga. Precedido por esta reputação nada lisonjeira, mas com 21 vitórias em 22 partidas, Native Dancer juntou-se ao time de  garanhões da Sagamore Farm, onde apenas um groom, Joe Hall, conseguiu ser aceito por ele. Seu bom cuidado aliado à presença dos jovens cachorrinhos que o seguiam por todos os lados e pelos quais Native Dancer se afeiçoara superaram o péssimo temperamento do fantasma cinza. 

Native Dancer tornou-se um bom garanhão nos EUA, embora transmitisse com frequência seus frágeis boletos. Devemos a ele 44 vencedores de Stakes em 304 potros (14% de sua produção total), incluindo o campeão europeu Hula Dancer e o norte-americano Kauai King, que vingará seu pai no Kentucky Derby (Gr.1) em 1966. Native Dancer morrerá um ano depois, após uma intervenção cirúrgica necessária devido a um ataque de cólica. Ele tinha 17 anos. 

Um criador francês nos chamou um dia: “Olhando em meu Stud Book, percebi que Native Dancer estava presente no pedigree de todas as minhas éguas! Incrível, certo? " De fato: chefe da raça qualificado (versão intermediária / clássica), Native Dancer se tornou o pai da mãe de Northern Dancer e avô de Mr Prospector, os dois maiores vetores clássicos da criação internacional. 

E como se isso não bastasse, ele também é o avô do Century Horse Sea-Bird, US Champion Alydar e o muito influente Sharpen Up (daí Diesis, Kris e Trempolino), é o pai da mãe de Icecapade (daí Clever Trick e Wild Again). 

Está claro que o fantasma cinza assombra até hoje o pedigree de muitos campeões do planeta das corridas! 

 

Thierry Grandsir - DNA Pedigree

Traduzido do francês por Ricardo Imbassahy

 

Obs. 1952 Champion Two-Year Old/Horse of the Year, 1953 Champion Three-Year Old, 1954 Horse of the Year/Older Male e em 1963 eleito pela crônica especializada norte-americana para o Racing Hall of Fame.


 


 

 

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Lições dos grandes - Haras Tibagi

 


 

Após os artigos nos quais foram relatados os métodos com os quais os drs. Roberto Grimaldi Seabra e Francisco Eduardo de Paula Machado conduziam a evolução de seus respectivos plantéis, escreveremos agora sobre a filosofia que norteou a gravitação do élevage Tibagi.

O início do Haras Tibagi se deu quando o dr. Sebastião Ferreira adquiriu em 1963 uma propriedade de 50 hectares, anexa ao antigo Posto de Monta do JCSP. Em 1965 após concluir a infraestrutura necessária para o início de sua criação, nasceu a primeira geração no novo haras. Devemos ressaltar que Sebastião Ferreira, engenheiro civil, sempre entendeu dar cunho empresarial a seu empreendimento  e consequentemente se cercou dos melhores profissionais no planejamento do Tibagi, tudo sempre feito dentro da melhor técnica da época.

Nesse estágio inicial, se tornava necessário a formação do plantel de éguas fundadoras e o turfman Sebastião Ferreira contratou o grande expert dr. Reynato Sodré Borges, que passou a ser diretor técnico do haras, cabendo a ele a seleção de matrizes e estudo dos cruzamentos do novo estabelecimento.

Através de nosso convívio com o dr. Reynato Sodré Borges, um Grande Mestre do PSI, do qual fomos atento aluno, é que foi possível  aprender o início da história do Haras Tibagi, como foi formado o plantel inicial e a metodologia que promoveu o grandioso sucesso desse notável campo de criação.

O Haras Tibagi revolucionou o entendimento em sua época, de como poderia se conduzir uma criação quanto a exploração de garanhões. Ora adquirindo coberturas de garanhões pertencentes a outros proprietários, participando dos condomínios para importação de reprodutores que naquele momento se iniciavam no Brasil, ou mesmo, através de garanhões próprios como os franceses Vasco de Gama e Caldarello. Cabe destacar no lote de fundadoras a priorização de grandes linhas maternas em voga na época, quer sejam internacionais ou as já nacionalizadas, e sempre filhas de grandes corredores nacionais ou de reprodutores estrangeiros com comprovado sucesso entre nós.

 



O sistema adotado no Haras Tibagi é similar ao modelo hoje majoritário no Brasil, onde importante parcela de nossa criação é obtida através de pequenos ou médios investidores que utilizam a compra de serviço de garanhões de terceiros ou são cotistas de alguns desses reprodutores. 

É nitido observar que o atual ambiente criacional brasileiro não é favorável a formação de linhas maternas próprias e um consequente trabalho genético sobre elas, ao moldes de como hoje fazem os Haras Santa Maria de Araras e Doce Vale, que oferecem em toda geração um sem fim de grandes atletas. Esses dois campos de criação apenas repetem a conhecida fórmula de sucesso aprendida lá atrás (Haras Guanabara, São José & Expedictus, Mondesir, Faxina, São Bernardo, Jahu & Rio das Pedras, Bela Esperança, etc).

A pulverização genética hoje existente no plantel da maioria de nossos criadores, é um fato que apesar de dificultar o trabalho da busca do animal de exceção, não inviabiliza se conseguir o alto rendimento. E o Haras Tibagi com brilhante trabalho de estudo para efetuar seus cruzamentos é um exemplo que dentro desse sistema pulverizado o sucesso em larga escala é perfeitamente possível de ser alcançado.

Mas para se ter uma sequência de craques como o Haras Tibagi teve, é necessário existir na retaguarda um dr. Reynato Sodré Borges...

 

Arnaldo, o melhor produto criado pelo Haras Tibagi.

 

As atividades do Haras Tibagi foram encerradas em março de 1977 em momento de apogeu. Naquela data, com 11 gerações em idade hípica criou ganhadores de 269 provas e 22 animais de nível clássico, que listaremos a seguir com seus principais resultados: ARNALDO (GP Cruzeiro do Sul, G1), FRIZLI (GP Estado do Rio de Janeiro, G1), FRANCE (GP Criação Nacional, G1), MAIS QUE NADA (GP Diana, G1), MANACOR (GP Paraná, G1), ARTUNG (GP Bento Gonçalves, G1), ELISIE (GP Carlos Telles e Carlos Gilberto da Rocha Faria, G2), JEDROCA (GP Carlos Telles e Carlos Gilberto da Rocha Faria, G2), SANG CHAUD (GP Jockey Club de São Paulo, G2), UNÍSSONO (GP General Couto de Magalhães, G2), MAUSER (GP Oswaldo Aranha, G3), AMAZONE (2.GP Diana, G1),  SOPHIE (2.GP Barão de Piracicaba, G1), MALABARISTA (3.GP Estado do Rio de Janeiro, G1), DEGAMA (4.GP Criação Nacional, G1), BLUE DIAMOND (3.GP Pres. da CCCCN, G3), SWALE (3. GP Imprensa, G3), SAN PEUR (4.GP Oswaldo Aranha, G3), ZEMO (Cl. Pres. Carlos Paes de Barros), MATEIRO (2.Cl. Pres. Augusto de Souza Queiroz), BLUE SOCIETY (3. Cl. Pres. Guilherme Ellis) e ORJANA (4.Cl. Pres, Roberto Alves de Almeida).  

O Haras Tibagi nunca teve mais de 25 éguas em serviço e a sua maior geração foi de 24 elementos.

 


Sede do Haras Tibagi, projeto de Oscar Niemeyer. 

 

Destacaremos os pedigrees de alguns dos principais nomes criados pelo Haras Tibagi para compreensão dos nossos leitores quanto a finesse genética desta criação. Cabe ressaltar que na década de 70 o objetivo era totalmente distinto, a prioridade eram animais que chegassem aos 2400 metros com reserva e não como é hoje na criação brasileira, que diante da perda de stamina quem consegue chegar a distância clássica já chega em seu limite. Por tal eram privilegiados os cruzamentos que ficavam do centro para a direita da escala de dosagens. O que não significa dizer que não se objetivava também a menor distância, Frizli venceu o GP Estado do Rio de Janeiro em 1600 m e Mais Que Nada os 2000 metros do GP Diana.


1 - Arnaldo, por Tang, serviço comprado ao Posto de Monta,

 

 

2 - Manacor, por Corpora, serviço comprado ao Posto de Monta,

 



 
3 - Mais Que Nada, por Xaveco, serviço comprado ao Haras Patente,

 


 

4 - Frizli, por Zenabre, serviço comprado ao Posto de Monta,

 


 

Obs. Os principais resultados do Haras Tibagi comprovam a importância do antigo Posto de Monta do JCSP. Infelizmente as sucessivas incompetentes e perniciosas administrações dessa entidade, ocasionaram a sua desativação e venda, causando grave dano ao desenvolvimento do turfe brasileiro.








segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Lições dos grandes - Haras São José & Expedictus

 

 

 

Antiga foto aérea de parte do Haras São José em Rio Claro, SP.

 

Esse artigo tem sua origem em memórias e anotações de nossa convivência com o Dr. Francisco Eduardo, o comandante da criação Paula Machado quanto a genética PSI. Procuraremos expor como foram construídas as famílias dos Haras São José & Expedictus e avançaremos até 1985, data da importação de Tampero e infelizmente por razões de trabalho e residência em outra cidade, o último ano de uma convivência mais assídua com esse grande mestre.




Antiga foto aérea de parte do Haras Expedictus em Botucatu, SP.

 

Em nosso entendimento, Francisco Eduardo de Paula Machado é o criador mais técnico que o Brasil já teve quanto a "finesse" para construir e avançar na seleção de um plantel dentro de um haras "fechado", como era o modelo brasileiro na época de ouro do nosso turfe.

Dr. Francisco Eduardo recebendo Helíaco, um dos incontáveis craques produzidos pelos Haras São José & Expedictus, celeiros de campeões.

O Haras São José foi fundado em 1906 por Linneo de Paula Machado e seu pai Francisco Vilella de Paula Machado. Linneo viajou em seguida para a França onde adquiriu para garanhões Flaneur e Zimpanet mais um lote de 11 éguas, sendo esse o núcleo de fundação do haras. Em seu início, Linneo selecionou na França para fundadoras éguas pertencentes as linhas maternas de maior sucesso no momento. Flaneur e Zimpanet ao contrário, eram animais de menor expressão e pouco contribuiram na trajetória do haras.

Diante do fraco resultado inicial e necessitando de uma melhor resposta, entre 1913 e 1917 foram importados Tarpoley (St Simon), Pericles (Persimmon) e Novelty (Kingston), sendo que Maboul (Perth) servia na França, onde padreava em temporada sul-americana as éguas que seriam importadas.

Entre 1921 e 1927 foram importados o argentino Sin Rumbo (Val d'Or), Perrier (Persimmon), Tomy (Rabelais) e Thermogene (Polymelus). Novelty e agora Sin Rumbo foram os dois garanhões que marcaram profundamente a criação Paula Machado como os pilares genéticos desses momentos iniciais. 

Novelty gerou Santarém, Kitchner, Kellerman, Miragaia, Mangerona, Nemo, Núbil, Ocarina, Primazi, Rival, etc. Sin Rumbo produziu Questor, Queixume, Boi Tatá, Sapho, Quatiara, Sem Medo, Tocaia, Xenon, Zaga, etc. 

O élevage Paula Machado sob a batuta de Linneo e agora acompanhado de perto por Francisco Eduardo iniciou em 1933 com a importação de Trinidad (Phalaris) a sua época de ouro. Trinidad gerou no Brasil ao craque Albatroz (1936) na mesma época em que nasciam na Europa os invictos Nearco (1935) e Pharis (1936), ambos Pharos - Phalaris. 

Cabe destacar que Trinidad foi o primeiro Phalaris a ser importado para a América do Sul. Linneo e Francisco foram muito influenciados por VUILLIER, abraçaram o conceito de velocidade preconizado por este na criação Aga Khan e tinham tanta certeza que PHALARIS era o rumo a ser seguido, que ainda em 1935 importaram Bosphore (Colorado - Phalaris). Full Sail foi importado pela Argentina em 1940. Trinidad além de Albatroz produziu Saphinha, L'Atlantide, Miragaio, Biga, Criolan (primeiro tríplice-coroado do haras), Carin, Neru, etc.

A criação dos Paula Machado possuía nas suas matrizes muita genética de St Simon e por tal razão em 1937 foi importado Formastérus. O objetivo era repetir a já consagrada combinação da linha alta de Asterus com a genética de St Simon, essa já bastante espraiada pelas éguas do haras. Formasterus produziu Fontaine, Guaycurú, Goyo, Heron, Halcyon, Maki, Parati, Ossian, Quebec, Quadrilha, Quixu, Rocket, etc.

- Em 1941 foi importado Maranta (Solario - Gainsborough) para repetir o cruzamento de sucesso Gainsborough - Phalaris. 

- Também em 1941 foi adquirido Hippius (Hyperion), bicampeão do Champion Stakes, mas ele foi perdido quando seu transporte foi afundado pela marinha alemã durante a Segunda Guerra Mundial. Na sua perda, em 1942 foi importado High Sheriff (Hyperion) para trabalhar as Phalaris. Hyperion x Phalaris também era um cruzamento de sucesso naquele momento.

- Em 1943 Singapore (Gainsborough) para novamente ir atrás de Gainsborough x Phalaris.

- Em 1950, Dr. Francisco importa Fort Napoleon (Tourbillon) para repetir Tourbillon x Asterus com o aditivo do inbreeding sobre a matriarca Basse Terre. Fort Napoleon foi notável garanhão entre nós, Tibetano, Lucarno, Liberté, Limoges, Devon, Turqueza, Althéa, Obelion, Ruban Bleu, Don Diego, Toreador, Flash Gordon, Véronique, Jasmin, Tapuia, etc.

E todas as combinações masculinas acima citadas que já eram consagradas em suas origens foram potencializadas por uma base ventral já formada dentro de um mesmo norte, St Simon = Tarpoley, Pericles, Perrier, Persimmon, Tomy... ou então Galopin = Maboul, ou Ormonde = Sin Rumbo.

 

Os que possuem pouco conhecimento técnico do assunto podem pensar que toda essa trajetória de sucesso e a junção de destacadas combinações é fruto do acaso, mas não é. Pode parecer que é, mas não é... O alto nível alcançado pelo Haras São José & Expedictus foi devido a perspicácia do gênio Francisco Eduardo de Paula Machado em observar a gravitação das linhas no turfe internacional e a aplicar em seu haras. Uma vez ao mostrarmos nossa admiração por seu trabalho, nos disse que o seu senso de observação dentro do PSI foi aprendido com seu pai e era a ele a quem deveria ser creditado o sucesso de sua criação.


Então era essa a diretriz no avançar das linhas e suas combinações no Haras São José & Expedictus.


Dr. Francisco dentro de um entendimento, também compartilhado pelo Dr. Roberto Seabra, em determinado momento percebeu que havia a necessidade de um choque de rusticidade, para agregar mais "osso" nas suas famílias muito afrancesadas, principalmente considerando o elevado refinamento da combinação Fort Napoléon + Formastérus e diante da importação recente de Dragon Blanc (Brantome). Por tal razão trouxe em 1956 Blackamoor (Badruddin), já destacado garanhão no Uruguai. Entre nós gerou Valmy, Brigitte, Bugrinha, Dominó, Tasmânia, etc. Mas Blackamoor se destacou mesmo foi como incomparável avô materno, entre outros o é de Lucarno, Obelion, Orpheus, Aporema, Derek, etc.

Dragon Blanc, dono de régio pedigree e ótima campanha, infelizmente mostrou-se um animal extremamente violento na hora de padrear, colocando em risco a si, as éguas e ao pessoal envolvido no ato, sendo desativado aos poucos de sua função como reprodutor. Mas se tornou ótimo avô materno mesmo com poucas filhas, o sendo entre outros de Itajara e Super Star.

 


Blackamoor quando ainda em serviço no Haras Uruguay.

 

Evidentemente ao longo da trajetória aconteceram animais que não responderam ao que deles se esperava, modernamente podemos citar Canterbury (Charlottesville), Haseltine (Tenerani) e Tampero (Pharly), respectivamente importados em 1965, 1966 e 1985. Nesses três casos específicos o que foi dito é que Canterbury e Tampero foram animais de boa campanha e trazidos fora do eixo St Simon, mais como uma tentativa para abrir as linhagens do haras, fortemente estabelecidas em nomes já citados. 

Se bem que Canterbury produziu a craque Super Star, segundo Ernani de Freitas a melhor égua que tinha treinado. Quanto a Haseltine, Dr. Francisco se mostrava incrédulo com a sua falha, mesmo tendo deixado três reduzidas gerações, realmente era esperado dele um sucesso igual ao de Alipio, ambos foram importados no mesmo ano.  

Em contrapartida em 1978 chega Karabas = Worden - Wild Risk - Rialto - Rabelais - St Simon, que foi também importado com o intuito de gerar matrizes e se destacou como brilhante avô materno, além de ser o melhor pai de segundas e terceiras mães que já existiu na criação brasileira. Possui 14 individuais ganhadores de grupo como seus netos diretos, 18 individuais ganhadores de grupo como pai de segundas mães e 8 como de terceiras mães! Heracleon foi o seu melhor filho.

Temos Alipio em 1966, filho de Verso = Pinceau - Alcantara - Perth - War Dance - Galliard - Galopin,  (Verso uma outra paixão do Dr. Francisco), e que com 3 reduzidas gerações produziu Orpheus. Na letra O um raio caiu em um dos piquetes do haras e vitimou a maioria de suas filhas dessa sua última geração.

Com a prematura perda de Alipio, que havia sido alçado a pastor-chefe do haras em virtude da avançada idade de Fort Napoléon foi importado em 1974 Felicio. Cabe destacar que Dr. Francisco tinha seu método rígido de trabalho, com a morte de Alipio e com toda a sua carta de monta já definida arrendou do Dr. Roberto Seabra a Chio, um filho de Alipio, para aquela estação de monta. Desses serviços nasceu Pavane, mãe de Baronius.

A chegada de Falkland em 1973 corresponde a um fato curioso, Dr. Francisco Eduardo era fascinado por Owen Tudor - ramo de Hyperion, e comentou que havia dado um cochilo com Elpenor (Owen Tudor). Elpenor era monorquídeo, o que segundo ele o fez pensar mais do que devia, quando finalmente decidiu comprar Elpenor soube que ele já  havia sido negociado com o Haras do Arado.

O Haras do Arado pertencia ao Dr. Breno Caldas, também um ser humano de primeira grandeza e que por reconhecer o seu não domínio da genética PSI contratou como consultor o expert Nestor Cavalcanti. E foi a partir do momento em que Nestor assumiu a direção técnica é que o Haras do Arado foi alavancado a posição de destaque que gozou, saindo de garanhões de baixo calibre para Elpenor, Estoc, Dark Warrior e Profundo, sem contar a importação de éguas como Ourocinza, Oreada, Balcarse, etc. Elpenor se destacou como um ótimo garanhão no Brasil. 

Falkland era um Right Royal - Owen Tudor, ramo de St Simon e nos entregou o craque Baronius, além de Grison, Levron, Apple Honey, etc. Dr. Francisco sempre trilhando conhecidos atalhos para o sucesso...

Felicio respondeu por uma nova tentativa de se trazer a linhagem de Prince Bio, mas agora ao contrário de Canterbury - muito pesada - refrescada por Sicambre e pelo brilhantismo de Guersant com o aporte de Hyperion. Felicio se tornou em estupendo sucesso na reprodução, combinando com todas as linhagens das éguas existentes no haras, é pai simplesmente de Itajara, African Boy, Fantasie, Aporema, Amazon, Aragonais, Anglicano, Tucunaré, Tiburon, etc.

Também deve ser citado o importado no ventre Fastener (Nearco - Pharos - Phalaris), um handicap horse que com poucas oportunidades na reprodução se apresentou como bom avô materno, Aporé, Tibetano, Tucunaré, Aragonais,  etc.

Não podemos esquecer para encerrarmos o rústico Kublai Khan, um duplo Phalaris pelos veios masculinos, que ofereceu ao turfe brasileiro o craque Derek. 

 

Que o exemplo do Haras São José & Expedictus seja uma lição, a busca de um bom cavalo PSI tem sua origem em um cruzamento correto, onde são respeitadas linhas compatíveis. Ao contrário da maioria dos cruzamentos que se observa hoje na criação brasileira, combinações ao acaso sem um mínimo critério técnico. Mais parecendo um sorteio que se assistia antigamente na televisão no programa do Chacrinha, tipo as éguas são um monte de cartas espalhadas no chão, separa-se o nome de um garanhão, as cartas são jogadas para cima, a que a mão pegar vai ser e seja o que Deus quiser... 

E la nave va fellinianamente.