sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Reynato Sodré Borges - 10ª carta

 




Hyperio, o maior craque da criação Julio Cápua e considerado por Dr. Reynato como possuidor da construção de pedigree mais refinada da criação brasileira.




Meu Caro amigo,

 

Ainda sobre o garanhão. Deixei claro, que no início, você não deve ter garanhão e sim, comprar coberturas dos garanhões existentes na região.

Para transportar a égua  mesmo com cria ao pé, para os haras vizinhos, adquira uma carreta apropriada para o transporte de 2 equinos, que pode ser puxada por um utilitário. A égua deverá sempre ser acompanhada pelo cavalariço e do gerente do haras, para que o mesmo constate todas as condições do serviço e se o garanhão contratado é o mesmo que irá servir a tua égua. Não podemos esquecer que vivemos em um turfe de segundo mundo e até um erro como esse pode acontecer.

Evite de ter sua égua hospedada em haras onde estiver estacionado o garanhão que vai cobri-la. A égua sente a mudança de ambiente, de ração, enfim, do trato. Isto deve ser feito, no caso do garanhão estar estacionado no Posto de Monta ou em haras afastado do seu. Neste caso, a égua deve ser enviada com antecedência para se adaptar a nova situação.

Quanto a utilização ou não de inbreedings digo que tudo depende do que o estudo específico de cada cruzamento lhe dirá e da filosofia de criação. Os Seabra, por exemplo, durante seu período áureo, só criavam animais outcross e o Haras Mondesir também. O Haras Faxina vai além e busca mais ainda a abertura de pedigrees usando garanhões norte-americanos (EARLDOM e DADDY R) sobre éguas de matriz europeia e argentina. Mesmo que Daddy R não tenha confirmado as expectativas, Earldom transformou-se em um dos garanhões de maior êxito na história da criação nacional. Os barões Von Leithner também seguiram o mesmo pensamento em seu Haras São Bernardo e importaram o norte-americano PASS THE WORD, para servir suas éguas, que em maioria respondem pela combinação das genéticas Rothschild e Boussac, obtendo assim extraordinário resultado. Esse mesmo sucesso com animais outcross o Haras Rosa do Sul está conseguindo com o também norte-americano TUMBLE LARK sobre éguas argentinas, os exemplos são BIG LARK e DARK BROWN.

Os Paula Machado também só criam animais outcross e têm como maior ênfase na sua criação a combinação de linhagens convergentes, como já lhe disse anteriormente. Na Europa a criação Aga Khan também só cria animais outcross. É indiscutível que os produtos outcross de forma predominante possuem mais saúde e vigor físico que os animais provenientes de inbreeding.

Mas o inbreeding bem utilizado é extremamente válido e me recordo de HYPERIO, um dos melhores cavalos de sua geração, um filho de Amphis em Zabaglione. Ele possui um inbreeding 3x3 sobre o chef-de-race PHAROS através de seus 2 melhores filhos, os também chefs-de-race PHARIS e NEARCO. E Hyperio ainda possui os chefs-de-race TOURBILLON e HYPERION, como pais de suas avós! Pois é, conforme comentei anteriormente sobre o imediato sucesso do Haras Vale da Boa Esperança era esse o nível de qualidade da genética que Júlio Cápua tinha em seu pequeno e modelar haras em Petrópolis.

O grande craque brasileiro ZENABRE é um 3x3x5 também sobre PHAROS. Zenabre era muito manso e sempre padeceu consequências de problemas ocasionados por seus joelhos; ao contrário de Hyperio, que era extremamente temperamental mas muito saudável, e só foi retirado das pistas quando o problema ocasionado por acidente de carreira, no início dos 3 anos e que custou sua invencibilidade, se agravou no final dos 4 anos.

O que temos? Ambos extraordinários indivíduos com inbreeding sobre PHAROS e com temperamentos e questões de saúde totalmente diferentes. Consequentemente, ao pensarmos em inbreeding , temos que considerar o perfil dos descendentes daquele indivíduo ao qual objetivamos a consanguinidade.

No caso de Zenabre o que podemos observar que seu avô materno SEVENTH WONDER (por Pharos), 3º nos 1000 metros do Norfolk Stakes correu apenas 10 vezes por ter mancado de joelho. Seu pai, o notável garanhão PHARAS (por Pharis - Pharos) correu apenas duas vezes e venceu ambas, sendo uma delas o Prix du Lys, G3 em 2400 metros, foi retirado prematuramente das pistas por problemas físicos. Pharos se notabilizou por além da alta classe transmitir problemas de joelhos. Tal somatório não interferiu na altíssima classe de Zenabre, mas, evidentemente influenciaram na trajetória de sua campanha.

Resumindo, ambos eram inbreeding em Pharos, mas Hyperio o era através de 2 veios saudáveis - Amphis e Nearco (3x3) - e Zenabre através de 2 veios não saudáveis - Pharas e Seventh Wonder (3x3) - e 1 saudável na quinta geração, Rhodes Scholar.

É evidente que não existe uma fórmula mágica que nos ofereça a certeza para a obtenção do grande craque ou mesmo um bom cavalo, lembre-se que a criação do PSI é um jogo de xadrez contra a natureza. Mas, o nosso papel  é minimizar o tremendo handicap que a natureza tem contra nós e procurar seguir os caminhos que nossos estudos nos indicam.

Vamos rememorar juntos, a notável égua EMERALD HILL (Locris x Embuia), sem dúvida do que de melhor se tem criado no turfe brasileiro e que já passou para a galeria das grandes éguas do nosso turfe: JOIOSA – DULCE – GARBOSA BRULEUR -  PLATINA – ELAMIUR - JACUTINGA - DONÉTICA e FONTAINE. A sua mãe Embuia, resultou do acasalamento de Emócion com Sunny Boy, um bom stayer francês e que pertence a família 16-a, a de CONCERTINA, uma das 10 melhores linhas maternas do mundo, mãe de PLUCKY LIEGE (mãe de BOIS ROUSSEL, ADMIRAL DRAKE e SIR GALLAHAD) e avó materna de FRIAR’S DAUGHTER (mãe de BAHRAM e DASTUR). Linha materna dos nossos conhecidos MANACOR (Corpora e Mallorca) e do tríplice coroado AFRICAN BOY(Felicio e Liselotte). Veja só a qualidade das éguas importadas por nossos criadores, o que garantirá para o futuro a existência de ótimas famílias maternas adaptadas ao nosso meio, aos moldes do que fazem os criadores argentinos. Note que African Boy vem por Niloufer e Manacor por Fille de Salut, veios distintos de FRIAR’S DAUGHTER. Essa genética materna de ponta do turfe mundial, deve ser preservada como um tesouro através do aproveitamento na reprodução das filhas de LISELOTTE e MALLORCA. 

Só espero que as novas gerações de criadores, que já se mostram em adiantado processo de aculturamento norte-americano, não ponham a perder genéticas europeias e argentinas trazidas a peso de ouro pelos Seabra, Paula Machado, Peixoto de Castro, barão e baronesa Von Leithner, Henrique de Toledo Lara, Mariano Raggio e alguns outros criadores com elevado senso técnico. 

Isso não quer dizer que as raras combinações genéticas de qualidade existentes nos EUA devam ser ignoradas por nossos criadores. O sucesso de Earldom, Pass The Word e Tumble Lark assim o comprovam. 

Embuia foi o primeiro produto de Emócion e lembro-me bem, que quando soube que voltara prenha da Europa por um stayer (mas que havia vencido a estatística francesa), confesso que não gostei, isto é, eu não teria escolhido Sunny Boy. Mas, para cobertura de nascimento sul-americano, não é fácil obtê-la dos garanhões desejados, mesmo com disponibilidade financeira para tal, e, conseguir do Sunny Boy para este período, já fora muito difícil conforme me disse Roberto e que o objetivo para esse cruzamento era, com sorte, conseguir uma fêmea para ser incorporada futuramente ao seu plantel de reprodutoras. Nasceu Embuia e daí EMERALD HILL...

Criação do PSI meu bom amigo é, antes de tudo, possuir conhecimento da raça para planejar corretamente e ter visão do futuro!

Quanto a essas questões de cruzamentos e aptidões funcionais, aconselho a que preste muita atenção a tudo que Franco Varola diz em nossas reuniões!  Estudar o seu livro “Typology of the Racehorse” é fundamental para que você amplie seu entendimento sobre transmissão da herança aptitudinal no PSI.

Franco comentou em nossa última reunião na cocheira Rocha Faria, à qual você faltou, que está finalizado o seu próximo livro, uma continuação e complementação com novas ideias do primeiro. Mas como não encontrou patrocínio do JCB e JCSP para publicação de 500 exemplares comemorativos, à qual abriria mão de seus direitos para essa tiragem em português, desde que o mesmo fosse vendido a preço de custo por essas entidades, o está enviando para a JA Allen, editora de seu primeiro livro.

Estou sempre receoso de ter sido pouco claro nessas cartas. Mande-me uma palavra sobre isto.

O que me tranquiliza é que posso em outros colóquios, voltar a certos pontos (o que já tem acontecido por mais de uma vez) e levar uma palavra ou exemplo, que venha preencher algum claro deixado.

Que o amor pela criação continue desperto em você e que reconheça que ela é Divina e nos cabe somente dar as melhores condições para que ela se realize, interferindo o menos possível.

 

Reynato Sodré Borges

Tebas - agosto - 1979








sábado, 18 de novembro de 2023

Os "japoneses" - Brian's Time

 




Brian's Time, 21-5-2-6, nascido em 1985, foi um múltiplo vencedor de Grupo 1 nos EUA, criado na Darby Dan Farm defendeu nas pistas as cores de seus criadores, James e Jody Phillips. Brian's Time obteve 5 vitórias em 21 partidas, venceu o Florida Derby sobre Forty Niner, Pegasus Handicap  e Jim Dandy Stakes. Terminou em segundo lugar no Preakness Stakes e terceiro no Belmont Stakes e Travers Stakes.

Era filho de Roberto em Kelley's Day por Graustark, e tinha em sua geração de haras Sunshine Forever, seu irmão paterno que também defendia as cores de James e Jody Phillips. Ele e Sunshine Forever, que possuía campanha superior estavam programados para entrarem como garanhões no mesmo ano. Os proprietários optaram por Sunshine Forever e colocaram um preço alto para venda, em contrapartida Brian's Time foi oferecido por valor muito menor, mas, mesmo assim, o mercado norte-americano lhe virou as costas em razão de possuir 1.54m de altura e pesar em média 431 quilos aos 3 anos, além de não ser considerado um tipo fisicamente atraente. 

Koichiro Hayata, proprietário da Hayata Farm, pretendia originalmente importar Sunshine Forever, mas não conseguiu fechar acordo devido a alta soma pedida por ele. Então Brian's Time foi adquirido em 1989 por possuir quase a mesma linhagem sanguinea. A principal motivação naquele momento é que Real Shadai, também filho de Roberto, estava fazendo grande sucesso como garanhão no Japão.

Brian's Time servindo na Hayata Farm, ilha de Hokkaido, foi bastante prestigiado pois teve em suas 3 primeiras gerações 186 filhos. Ele iniciou através de suas filhas uma dinastia de classe que perdura até os dias de hoje. Posteriormente diante do enorme sucesso de Brian's Time, um consórcio japonês comprou Sunshine Forever, mas esse manteve no Japão o mesmo perfil demonstrado nos EUA de baixa qualidade em sua prole.

Brian's Time produziu 52 vencedores de provas de grupo e é avô materno de 20 vencedores dessas mesmas provas. A produção de Brian's Time se caracterizou por ter muita longevidade e resistência, provavelmente devido a linhagem de sua mãe que possuía Ribot, somados a uma capacidade de alto rendimento tanto na grama como no dirt.

Dentre seus filhos pode-se destacar os excepcionais campeões Narita Brian - tríplice coroado japonês nascido da primeira geração de Brian's Time e Mayano Top Gun, ambos eleitos "Horse of the Year" no Japão. A partir do seu quarto ano no haras Brian's Time passou a ser considerado garanhão de elite e em 1994 serviu 79 éguas, número digno de nota para o turfe de então.

Devido a presença de Sunday Silence, ele não conseguiu vencer o ranking de garanhões no Japão, mas, foi 2º colocado nas estatísticas de 1995/1996/1997/ 2000/2002/2003 e 2005, 3º colocado em 1994/1998/2001/ 2004/2006/2007 e 2008.

Como avô materno foi 2º colocado em 2012/2013/2014 e 3º colocado em 2010/2011 e 2016.

Foi eleito JRHA Stallion of Merit.

Junto a Sunday Silence e Tony Bin (ambos pertencentes ao Grupo Shadai, a maior organização do turfe japonês) formou os três melhores garanhões do Japão na época. Brian's Time que era utilizado por haras menores nunca teve acesso a éguas "estrelares", mas,  mesmo servindo éguas de qualidade inferior se mostrou uma grande força reprodutiva, colocando-se no mesmo patamar de seus concorrentes da Shadai. Brian's Time ficou por 16 anos consecutivos entre os 10 primeiros garanhões no All Japan Stallion Ranking.

Sunday Silence foi classificado entre os 10 primeiros por 14 anos consecutivos e Tony Bin por 12 anos consecutivos. Embora Brian's Time tenha tido menos oportunidades com éguas de maior qualidade no comparativo aos garanhões da Shadai, ele esteve entre os 10 primeiros do ranking japonês por mais tempo.

Brian's Time se mantêm ativo na classe através da descendência de suas filhas. Ele é avô materno de Espoir City (Gold Allure), garanhão bastante útil e Dee Majesty (Deep Impact), um vencedor de grupo 1 e que com poucos produtos em pistas se inicia como um garanhão bastante promissor. Dentre seus muitos netos ainda em atividade é possível destacar os vencedores de G1 Time Flyer (Heart's Cry), Naran Huleg (Gold Allure), Mutually (Pyro), Micke Fire (Sinister Minister), além de diversos outros vencedores de G2 e G3. 

A demanda japonesa por garanhões para o dirt tem aumentado e é grande a expectativa de que seu filho Furioso (Japan Dirt Derby), ótimo vencedor nesse tipo de pista, apresente um produto de maior classe para que essa linha masculina possa prosseguir sua hierarquia. 




Brian's Time

















quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Os "japoneses" - Tony Bin

 




Tony Bin, 27-15-5-4, nasceu na Irlanda em 1983, sendo criado por Patrick O'Callaghan, mas defendeu nas pistas a farda do Allevamento White Star, do empresário italiano Luciano Gaucci.


Resultados em grupo 1:

2 anos:

3º Gran Criterium (Ity-G1,1500m), 

3 anos:

2º Gran Premio del Jockey Club (Ity-G1, 2400m),

3º Gran Premio d'Italia (Ity-G1, 2400m),

4 anos:

1º Gran Premio del Jockey Club (Ity-G1, 2400m),

1º Gran Premio di Milano (Ity-G1, 2400m),

1º Premio Presidente della Repubblica (Ity-G1, 2000m),

2º Prix de L'Arc de Triomphe (Fr-G1, 2400m),

2º Grand Prix de Saint-Cloud (Fr-G1, 2400m),

2º Premio Roma (Ity-G1, 2800m),

5 anos:

1º Prix de L'Arc de Triomphe (Fr-G1, 2400m),

1º Premio Presidente della Repubblica (Ity-G1, 2000m),

1º Gran Premio di Milano (Ity-G1, 2400m),

2º Gran Premio del Jockey Club (Ity-G1, 2400m) e

3º King George & Queen Elizabeth Diamond S. (GB-G1, 2400m).


Tony Bin ao fim de 1988, foi eleito European Champion Older Horse. Ficando um quilo acima da notável Miesque. 

Vendido em 1989 por US$ 4 milhões para a família Yoshida, valor extremamente elevado para a época, foi levado para servir na Shadai Stallion Station, em Shiraoi, Hokkaido. 

Sua aquisição, no mesmo ano em que o norte-americano Brian's Time foi comprado, incorporou ao élevage japonês  2 futuros excepcionais garanhões que se juntaram a Northern Taste, Maruzensky e a Tesco Boy, o mais antigo influente garanhão da criação japonesa moderna.

Tony Bin se tornou leading sire em 1994, 2º em 1998, 1999, 2001 e 2002, 3º em 1993, 1996, 1997, 2000 e 2004. Devemos notar que a partir de 1995 Sunday Silence passou a dominar as estatísticas gerais japonesas com a chegada de seus primeiros filhos às pistas, até aquele momento havia uma disputa acirrada entre Tony Bin e Brian's Time.

A produção de Tony Bin se mostrou imbatível nas longas retas de Tóquio e Niigata, e a maioria das vitórias em G1 de seus filhos aconteceu em Tóquio.

Tony Bin produziu entre outros à:

- Air Groove, (1997 Horse of The Year and Best Older Filly or Mare, nomeada Reine-de-Course mare), a mais importante matriarca do turfe japonês moderno. Já comentamos sua produção no artigo "Os japoneses - Northern Taste".

- Jungle Pocket, vencedor do Tokyo Yushun (Derby japonês) e Japan Cup, 2001 JRA Award for Horse of the Year and Best Three-Year-Old Colt.

- Winning Ticket, vencedor do Tokyo Yushun (Derby japonês),

- North Flight, vencedor do Yasuda Kinen (a mais importante prova de milha japonesa) e Mile Championship.

- Telegnosis, vencedor do NHK Mile Cup e com mais de US$ 3 milhões de premiação, isso em 1997...

- Vega, vencedora do Yushun Himba (Oaks japonês) e Oka Sho (1000 Guinéus japonês).

- Lady Pastel, vencedora do Yushun Himba (Oaks japonês).

- Sakura Chitose O, vencedor do Tenno Sho (Autumn).

- Offside Trap, vencedor do Tenno Sho (Autumn).

Como avô materno Tony Bin manteve seu alto nível através de seus netos, podemos destacar dentre seus vencedores de grupo 1:

- Heart's Cry, JRHA Stallion of Merit, notável garanhão, que junto com Deep Impact e King Kamehameha (o triunvirato de ouro da Shadai Station Stallion) dominou o turfe japonês na última década. 

- Rulership, atual 7º colocado nas estatísticas gerais japonesas, 

- Admire Groove, 2004 JRA Award for Best Older Filly or Mare, mãe de Duramente, atual 2º colocado nas estatísticas gerais do Japão, 

- Current Chan, 2011 JRA Award for Best Sprinter or Miler 2012 JRA Award Best Older Filly or Mare.

- mais Transcend (garanhão), Earnestly (garanhão), Copano Richard (garanhão) e Admire Don (garanhão líder na Coréia do Sul).


                       

Tony Bin é pai de 30 vencedores de provas de grupo e avô materno de 52 vencedores dessas provas.


Foi 2º colocado nas estatísticas japonesas em 2008, 2009, 2010 e 2011, 3º colocado em 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2012, 2013 e 2014. Nas estatísticas de avô materno foi 2º colocado em 2008, 2009, 2010, 2011 e 2012, 3º em 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2013, 2014 e 2016.

Eleito 1994 Best Stallion in Japan.

Tony Bin confirmou plenamente todas as esperanças nele depositadas e se firmou como um dos mais importantes garanhões que serviram no Japão em todos os tempos, com a sua influência se perpetuando na alta classe até os dias de hoje. 















quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Varola - Análise de tendências - 6ª parte

 




(continuação)


O fenômeno do brilhantismo iniciou-se em escala mundial  com Phalaris, prosseguindo com Hyperion e Nearco. É um fenômeno típico do século XX. Não que anteriormente não tivesse havido cavalos especializados em velocidade, mas eram limitados em sua tarefa e não ascendiam a símbolos da raça. Na série de Vuillier, de fato, não encontramos nenhum cavalo especificamente brilhante, enquanto em qualquer série de chefes-de-raça do século XX não podem ser omitidos os nomes de Phalaris, Orby, Cicero e assim por diante até Fair Trial, Nearco e Nasrullah. A ascendência de alguns reprodutores brilhantes a ponto de chegarem a representar símbolos da raça está intimamente ligada à popularização do espetáculo hípico e, por esta razão, comparei os vários grupos de chefes-de-raça com o hemiciclo formado pelos parlamentares e coloquei os brilhantes como sendo da  extrema esquerda e os stayers mais os profissionais como da extrema direita. A evolução da competições hípicas, de passatempo de particulares para espetáculo destinado às massas, foi o que fez oscilar o pêndulo da direita para a esquerda, fenômeno idêntico observado no que diz respeito ao desenvolvimento geral da raça puro-sangue.

Já vimos que o flagelo da Inglaterra é o excesso de Phalaris, o excesso de Hyperion, o excesso de Orby e o excesso de Cícero e que a França, ao contrário, está quase  completamente livre destes sangues, podendo criar pedigrees até mesmo 100% isentos de brilhantismo. A posição da Itália é intermediária; aproxima-se mais dos índices do tipo francês do que aos do tipo inglês, embora a importação de sangue clássico inglês sempre tenha sido intensa, especialmente por intermédio das coberturas. Mas a Itália sempre teve uma apresentação genealógica característica, tocando-lhe a sorte de poder contar com importantes matriarcas, tais como Fausta e Catnip, ambas filhas de Spearniint; de absorver Tracery através de Nera di Bicci, Talma, Barbara Burrini e Ulrika Eleonora, de absorver Hurry On através de Nesiotes, Nuvolona, Athea, Captain Cuttle, Pilade e Niccolo DeIl'Arca e de ter Havresac II e Ortello como garanhões predominantes pelo período de vinte anos.

Um dos paradoxos da criação italiana no período entre as duas guerras foi, com efeito, que ela se valorizou além das fronteiras por influência dos produtos de Dormello, mas esta recebeu sua força básica dos garanhões da Razza Ticino em Gornate: Havresac II e Ortello.

O primeiro era estreitamente inbred sobre RabeIais e isento de elementos brilhantes no seu «pedigree», enquanto o segundo, além de filho de Teddy, era inbred sobre Hampton, protótipo da solides e era ainda portador de uma corrente de Rabelais. Nearco não funcionou na Itália. Hyperion jamais esteve presente em doses maçicas na Itália, mesmo porque se desenvolveu no período bélico, quando estavam  interrompidas as comunicações com a Inglaterra. Dos poucos "Fairway" italianos, Ettore Tito foi exportado ainda em tenra idade. Frederico Tesio sempre procurou os  garanhões clássicos na Inglaterra, jamais cultivou os velocistas e, embora os tenha utilizado, não foram estes os que lhe deram garanhões e reprodutoras importantes. Aliás, jamais houve na Itália um rico programa de provas para os velocistas.

Com justa razão, a revista "Turf y Elevage Sudamericano" pode registrar em um de seus números: "... consideramos que hay que ser cautor en eI empleo de los padrillos sprinter... Consideramos que los italianos son los que han sabido evitar esta moda perniciosa ... ". Nota-se que este elogio dirige-se especificamente à criação italiana e não a outras que também estão igualmente isentas do perigo dos sprinters.

Colocando no índice 4 a relação mínima entre sangues brilhantes e sangues consistentes, para alcançar as distâncias clássicas, notamos que todos os maiores vencedores italianos estão muito além desse índice. Citando ao acaso, temos: 

a) com índice 4 e 1/2, Ribot, Bragozzo e Antelami; 

b) com índice 5 e 1/2, Toulouse Lautrec; 

c) com índice 6, Traghetto, Molvedo, Scai e Malhoa; 

d) com índice 7, Tissot; 

e) com índice 8, Antonio Canale; 

f) com índice 14, Braque; 

g) com índice 16, Alipio, e assim por diante, 

isso usando para o cálculo apenas os 50 garanhões chefes-de-raça suplementares que brevemente apresentarei, os índices seriam ainda mais altos. E as fêmeas clássicas italianas apresentam em geral índices não menos altos que os dos machos. Por exemplo, o de AIibeIIa é 6, o de Bronzina é 8, etc.

Se, portanto, o problema italiano fosse apenas o  de obter dosagens suficientes, já estaria resolvido e os criadores italianos poderiam dormir tranquilos. Mas, além do fato de que na criação de cavalos não é possível adotar tão cômoda posição, existem pelo menos três observações importantes a serem feitas, que atenuam em parte o otimismo das dosagens.

1ª -  As dosagens acima citadas são avaliadas posteriori, enquanto a grande utilidade da dosagem é a de permitir uma avaliação a priori. O criador pode determinar, antecipadamente, embora por ampla aproximação, as características da produção que deseja obter. É um trabalho a longo prazo que, uma vez iniciado, deve ser mantido de ano para ano e também por gerações sucessivas, a fim de obter resultados apreciáveis. A utilização das dosagens somente a posteriori pode servir, é verdade, como sinal de alarme; mas, considerando-se o ciclo um tanto longo das operações de criação, corre-se o risco de receber o alarme quando já é tarde demais para tomar providências. Portanto, as dosagens deveriam servir tanto ao estudioso, que as pode apreciar somente a posteriori, quanto ao criador, que é o único em condições de poder servir-se delas «a priori».

2ª - Os bons índices de consistência observados nos expoentes clássicos italianos não nos devem enganar, porquanto o índice é apenas o resultado sintético da dosagem, mas esta exprime-se antes de tudo e  principalmente pelo diagrama. Um diagrama ideal é 5-5-5-5-5 e, com relação a este ideal, o pedigree médio italiano apresenta pelo menos dois desajustes bastante graves: um no setor brilhante e outro no setor robusto.

No setor brilhante, a ausência é frequentemente exagerada até à inexistência. Em outras palavras, o índice não é obtido por relações tipo 25:5 ou 20:4, etc., mas por relações em que o dividendo se encontra contra um divisor 1 ou um divisor zero. Por exemplo, Braque é índice 14 porque este é o produto da divisão 14:1 e, da mesma forma, Sedan 12:0, Antonio Canale 8:0, Toulouse Lautrec 11:2, Bonnard 8:2, Bragozzo 9:2, Ribot 9:2, etc. Isto é, os expoentes clássicos não possuem em geral mais de um ou dois nomes brilhantes no pedigree e, com frequência, não possuem nem mesmo um. E verdade que é preciso controlar a influência brilhante para evitar que ela venha a predominar em detrimento de outras qualidades, mas também é verdade que não é possível prescindir totalmente da contribuição brilhante para fazer progredir a raça. Pode-se, portanto, afirmar que a criação italiana evitou os prejuízos do brilhantismo de tipo inglês, mas ao preço de não poder infundir em seus produtos a dose que em cada caso seria desejável. O mesmo pode-se dizer, ao contrário, com relação aos nomes robustos. Há um excesso destes e é comum no pedigree italiano a distribuição, por exemplo, 2-4-4-8-4, na qual como se vê, o índice de consistência 20:2 = 10 é obtido não só a custa da escassez de nomes brilhantes, mas também graças à exagerada presença de nomes robustos. Estes últimos são apreciados, mas sua superabundância pode dar origem a uma certa vulgaridade que pesa quando, por exemplo, um garanhão italiano se encontra em atividade no Exterior, em um ambiente de qualidade difusa média. Portanto, também a abundâncIa de Spearmint e de Rabelais, que se encontra na criação italiana, foi a que  a salvou da inconsistência, mas pode, caso seja demasiado acentuada, criar uma monotonia genética que, a longo prazo, se reflete na qualidade média.

Como prova do que acima foi dito, apresento o seguintes dados relativos a diversos garanhões italianos vivos,  escolhidos entre os de nível médio e, portanto, típicos:

Índice de consistência

Morengo ......................17

Seaulieu ......................16

Verdun .........................13

Iroquois ....................... 11

Songkoi ....................... 8 1/2

Este ............................  8

Barda Toni...................  7

Golfo ........................... 7

Nakamuro.................... 7

Fiorilio ........................  6

Scai ............................ 6

Alniorú .......................  4

Arísteo .......................  4

Tais índices correspondem aos seguintes diagramas:

Morengo...................... 0-2-3-9-3

Seaulieu ......................1-3-2-9-2

Verdum ....................... 0-0-3-8-2

Iroquois ....................... 1-2-3-4-2

Songkoi ....................... 2-2-2-9-4

Este.............................. 0-1-0-7-0

Barba Toni ................... 2-2-3-6-3

Golfo.............................1-1-0-6-0

Nakamuro.....................1-2-1-3-1

Fiorilio...........................1-1-2-2-1

Scai ..............................1-1-1-2-2

Alinoró ..........................1-2-0-2-0

Aristeo ..........................1-0-0-4-0


Somando-se os vários grupos, nota-se que as presenças do setor robusto (71) são mais numerosas que as dos outros quatro setores reunidos e que as presenças do setor brilhante (12) são inferiores às de qualquer outro setor (intermediários  20, clássicos 19 e profissionais 20).

3ª -  As duas observações precedentes levam inevitavelmente à terceira: o velocismo na Itália é quase inexistente. Quem desejar, criar velocistas fá-lo-á por sua própria conta e risco, porquanto nos programas não existem prêmios adequados a tal especialidade. Esta ausência de especialização evita o perigo do brilhantismo, mas, repetimos, levada ao excesso, evita também a introdução na criação da porcentagem justa de sangue veloz, necessária à evolução natural. O defeito dos pedigrees italianos é o de serem demasiado pobres em sangues nobres, não obstante as notáveis importações de reprodutoras e de coberturas.

Uma primeira providência poderia ser a de instituir uma grande prova nacional de milha, precedida e contornada por outras provas adequadas. Se isso chegasse a diminuir alguns dos inumeráveis grandes prêmios que atulham os programas, o mal não seria tão grave e a vantagem a longo prazo constituiria uma compensação mais do que adequada.


(continua)