terça-feira, 19 de setembro de 2023

Os "japoneses" - Northern Taste

  




Através de uma série de artigos que titularemos "Os japoneses", iremos tratar de garanhões que são considerados pela crônica especializada japonesa, como os elementos fundamentais que colocaram o élevage japonês no mais alto patamar do universo PSI. Foram considerados animais nascidos na década de 70 até o ano de nascimento 2001 como limite. 

É nossa intensão oferecer elementos que possam instigar nossos leitores à buscar melhor conhecer a criação japonesa e compreender o seu desenvolvimento. 

Cabe destacar que, todos os cavalos importados que serão citados não foram prestigiados em suas origens por razões alheias as suas ótimas performances como atletas. O turfe desses países os consideraram descartáveis por aspectos que fogem ao bom senso técnico, como, pelagem de cor "estranha", tamanho pequeno, serem "feios", por terem pedigrees considerados pelo mercado local como "fora de moda", outros em virtude da crônica dita "especializada" e/ou o público turfista os antipatizarem de forma gratuita. Mas, todos acabaram se transformando em excepcionais garanhões e foram fundamentais para colocar o turfe japonês no Olimpo da atividade. 

Os criadores japoneses deram aula quanto a como se ver virtudes que possam credenciar um cavalo a ser um possível garanhão de sucesso. Não podemos também esquecer, o grande número de éguas importadas que se transformaram no Japão em mães de craques ou fundadoras de ótimos ramos maternos.

E a taxa de acerto dos criadores japoneses tem sido assombrosa...


Desses garanhões já escrevemos anteriormente sobre Sunday Silence (o cavalo mais amaldiçoado de todos os tempos pelo turfe norte-americano) e King Kamehameha (filho de Kingmambo, garanhão considerado não confiável pelo turfe dos EUA - como se o resultado de reprodutores não estivesse fortemente ligado a idiossincrasia de sua produção, o que explica sucesso ou fracasso de determinadas linhas em distintos turfes - em Manfatah, égua possuidora de pedigree considerado démodé.  

Links abaixo:

Sunday Silence   

King Kamehameha


O ponto de inflexão da criação japonesa foi quando Zenya Yoshida - Shadai Farm, importou da Europa em 1961, o vencedor clássico e então reprodutor de sucesso Guersant (avô materno de Felicio - garanhão consagrado no Brasil). Esse foi o primeiro período da Shadai Farm, que estava localizada desde 1955 em Chiba, nos arredores de Tóquio.

A partir de 1965, quando Zenya Yoshida transferiu o haras para a atual localização em Abira, na ilha de Hokkaido, ele passou a importar de forma sistemática éguas com ótimos pedigrees, filhas dos principais garanhões do momento, a saber, Hyperion, Nearco, Never Say Die, Alycidon, My Babu, Honeyway, Nimbus, Tudor Minstrel, Prince Chevalier, etc.

O sucesso sorriu imediatamente, pois em 1969 Guersant foi o garanhão líder no Japão e a Shadai Farm venceu as estatísticas de criador e proprietário.

A criação de PSI no Japão até 2001 pode ser dividida em quatro etapas. A primeira grande leva de animais chegou nas duas primeiras décadas do século 20 e uma segunda onda no imediato pós guerra. Nesses dois momentos, as importações, em sua maioria, eram formadas basicamente por animais europeus, principalmente oriundos da Inglaterra e Irlanda, contando com muito pouca influência de animais norte-americanos. Essas éguas e garanhões possuíam, em sua maioria, um perfil técnico de intermediário para inferior. 

Mas cabe destacar que a importação de um cavalo da classe de Guersant impulsionou uma terceira etapa, quando outros criadores japoneses incorporaram em seus haras nomes de primeira grandeza como os de Tesco Boy (G1), St. Crespin (G1), Venture VII (G1) (pai do nosso conhecido Locris), Sea Hawk (G1), Crocket (G1), etc. que juntos com éguas importadas, nessa nova etapa, donas de melhor perfil técnico, vieram a formar uma qualificada base genética. 

A quarta etapa é formada por um ciclo de garanhões que se encerrou em 2001 com o nascimento de King Kamehameha. E será desses garanhões que trataremos nos próximos artigos, sendo que, todos eles se  beneficiaram da então já excelente base de éguas nativas, somadas a uma quantidade absurda de éguas de primeiríssimo time importadas principalmente por  Katsumi Yoshida (Northern Farm) e outras, também de ótima qualidade, trazidas por terceiros.

Com a aposentadoria de Guersant, Zenya Yoshida trouxe Northern Taste para servir em sua Shadai Farm, que já contava com o serviço do grande campeão argentino El Centauro.

Northern Taste, 6-4-1-0, foi um corredor de padrão superior, tendo como principais resultados:

1º Prix de La Forêt (FR-G1, 1400m),

1º Prix Thomas Byron (FR-G3, 1400m),

1º Prix Djebel (FR-G3, 1400m),

1º Prix Eclipse (FR-G3, 1200m),

2º Prix du Moulin de Longchamp (FR-G1, 1600m),

3º Prix Eugene Adam (FR-G2, 2000m) e

3º Prix des Ris-Orange (FR-G3, 1200m).


A importação de Northern Taste, nascido em 1971, fez com que o sangue de Northern Dancer fosse apresentado novamente ao Japão que contava com apenas um seu descendente, Maruzensky (por Nijinsky). Sua safra de estréia nasceu em 1977, nela estava uma das melhores éguas que Northern Taste iria produzir, a ótima corredora Amber Shadai. A partir daí Northern Taste tomou o posto do inglês Tesco Boy (G1), até então o garanhão hegemônico no Japão - 6 vezes leading sire.

Em sua segunda safra surgiu a campeoníssima Dyna Carle (1982 Champion 2-Year-Old Filly e 1983 Champion 3-Year-Old Filly). 

Em 1983 nasceu Dyna Gulliver (Tokyo Yushun - Derby japonês), o melhor potro produzido por Northern Taste e mantendo esse alto padrão de qualidade Northern Taste prosseguiu em sua carreira como garanhão, tendo sido o líder das estatísticas japonesas por 11 anos consecutivos, 1982-1992. Northern Taste produziu 92 graded stakes winners, um recorde que durou quase 20 anos. 

Embora não tenha sido um "pai de pais", Northern Taste veio fixar a sua notável genética na criação japonesa através de suas filhas. Foi avô materno líder no Japão por 15 anos consecutivos, entre 1992 e 2006. 

Entre seus netos encontramos inúmeros craques, podemos destacar:

- Daiwa Major (2006-2007 Japan Champion Sprinter/Miler e influente garanhão, nesse momento 8º colocado na estatística geral japonesa), 

- Daiwa Scarlet (2007 3-Year-Old Filly), 

- Sakura Bakushin O (avô materno do atual fenômeno Kitasan Black), 

- Air Groove (1997 Horse of The Year and Best Older Filly or Mare, nomeada Reine-de-Course mare), mãe de: 

  -  Admire Groove (2004 Japan Best Older Filly or Mare), mãe de Duramente (2015 Japan Champion 3-Year-Old Colt e no momento 2º colocado na estatística geral japonesa),     

  - Rulership (G1, no momento 7º colocado na estatística geral japonesa),

  - Forgettable (G2/G3),

  - Admire Sceptre (G2/G3), 

  - Gullveigh (G3).


Obs.: Com origem em Air Groove temos além dos acima citados Jun Light Bolt (G1),  Andvaranaut (G2),  Sky Groove (G2), Sonnet Phrase (G2), Boden (G2), Groove It (G3), Red la Reve (G3), Rousham Park (G3), Vanaheim (G3), etc.


Air Groove (fam.8-f) é considerada a mais influente matriarca da criação japonesa moderna.



Air Groove.


Existem inúmeros outros importantes descendentes por linha feminina de Northern Taste, o tríplice-coroado Orfevre, Screen Hero, Stay Gold, Maurice, Dream Journey, Shonan Pandora, Kiseki, Gold Actor, etc. 

Northern Taste é avô materno de Agnes Gold (G2), notável garanhão no Brasil.


Os Yoshida consideram Northern Taste como o orgulho de sua família, sendo que seu sucesso lançou as bases da Shadai Stallion Station  e ajudou a operação crescer além de qualquer expectativa. 




Teruya Yoshida disse mais de uma vez: "Northern Taste comprou todos os garanhões que temos".
















quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Reynato Sodré Borges - 8ª carta

 



Na foto Mais Que Nada, cruzamento por Reynato Sodré Borges, vencendo o GP Diana. J.M. Amorim up.



Meu Caro amigo,


Vamos conversar sobre funcionamento do haras. Sei que há um “modismo” no nosso meio criatório de deixar os animais (éguas vazias, cheias e potros desmamados) soltos no piquete, de dia e de noite. É realmente uma boa conduta, para quem tem grandes piquetes, como os haras do Rio Grande do Sul. Não porém, para os haras da serra fluminense ou para a maioria dos de Campinas. No município de Bagé, há haras com piquetes imensos e ricos de bom verde, como o Sideral e Mondesir. O maior piquete do Sideral tem 19 hectares e o menor 6. A média dos 20 ou 23 piquetes (não me lembro o número certo) é de 10 hectares. Em um só piquete do Sideral caberia a maioria dos haras da serra. Imagine você ainda que com o rodizio que fazem, e, com o verde de boas gramíneas e leguminosas (azevém, cornichão e trevos diversos) esses piquetes resistem bem ao pisoteio. Na serra adotar a política de soltos dia e noite é um desastre, pois o pisoteio e os dejetos naturais não permitem manter os piquetes em condições ótimas de sua flora, compreenda que você deverá adotar um sistema de rodízio de pastagens com curto espaço de duração do pastoreio, a exemplo do Haras São Bernardo que mesmo localizado em área que não é a mais indicada para criação obteve imenso sucesso adotando metodologia própria que você deve seguir e que em termos gerais é na qual baseio a maioria dos meus aconselhamentos.

Outro aspecto fundamental em um haras de pequeno porte é possuir um bom sistema de irrigação por aspersão. Com um sistema de aspersão você poderá fazer a fertirrigação, que é algo ainda muito novo entre nós e muito utilizado em sistemas com uso intensivo de pastagens como vi na Nova Zelândia. Para tal sugiro consultar um agrônomo, e se o seu agrônomo desconhecer a fertirrigação troque de agrônomo.

Um problema importante em um haras é a cama para os animais. Como já comentei o Haras Santa Annita utilizava o corte de capim pangola como cama. É boa e a égua, que em regra é voraz, come parte dela a noite e você deverá ter uma extensa capineira para oferecer esse tipo de cama para não ficar na mão. O Santa Annita possuía grandes capineiras e esse certamente não é o seu caso, portanto procure uma cooperativa no sul que forneça fardos de palha de trigo, de aveia ou de arroz. Nos hipódromos o que mais usam é a maravalha, também é boa e talvez seja uma opção mais adequada quanto a valores e logística. Cabe a você estudar qual a melhor opção para o seu haras.

Vou contar a você o que aprendi no Haras Guanabara (sempre os Seabra inovando). Posso simplificar dizendo que coloque 6 varas de bambú com cerca de 2 metros de altura fincadas ao solo. Forme retângulos e, cada vara de bambú separada 1¹/² metro uma da outra. As camas (de palha ou capim) são jogadas nas varas, como que formando espantalhos, pois, ficarão, como foram jogadas. Expostas ao sol e a chuva, elas vão se decompondo e cerca de 3 meses após, você terá uma camada de mais ou menos 30 cms de um ótimo adubo orgânico de cobertura.

Caso opte por maravalha a opção de esterqueiras secas é a melhor opção para obtenção de adubo orgânico. Mas, caso não lhe agrade o método Seabra essas esterqueiras também poderão receber as camas de palhada.

Todos os resíduos decorrentes das lavagens diárias das cocheiras e mais o chorume proveniente da esterqueira seca deverão ser encaminhados por canalização para uma chorumeira (tanque revestido aberto) e deste para chorumeiras menores de cura, onde esse liquido deverá ficar no mínimo 60 dias antes de ser utilizado na fertirrigação. Você verá que esses procedimentos, de considerável investimento inicial, serão rapidamente amortizados com a redução dos gastos em adubos.

Quanto ao regime de rações, que você mostrou dúvidas em sua última carta, volto ao assunto, dizendo que na Europa é frequente dar 4 rações por dia. É claro, dividindo o total. O Haras Guanabara segue o método de 4 rações diárias: às 5, 9, 13 e 18 horas...  Citei esse exemplo, mas, eu mesmo, considero inexequível para a imensa maioria dos haras em nosso meio. Deves ter ficado admirado das 4 rações que dão na Europa. Eu também fiquei há cerca de 20 anos. E o porquê disso? Depois de refletir, é fácil explicar: o cavalo tem um estômago pequeno em relação ao seu volume físico. Assim, como ele não tem vesícula, a bile flue, praticamente de modo contínuo, e, sendo um herbívoro em liberdade, ele come continuamente. Pelo domínio do homem, tornou-se granívoro e, seu estômago não pode suportar grande quantidade de grão, em uma mesma refeição.

Aconselho a evitar rações concentradas, que começam a surgir em nosso mercado aos moldes dos EUA. São realmente bem compostas, teoricamente, mas, o seu uso é perigoso (entre nós), pelo menos até o momento presente. Vou contar a você um fato que se passou na década de 60. Um notável veterinário compôs uma ração para equinos. Perfeita, quanto aos elementos que a compunham. Alguns haras começaram a usá-la e dentro de meses, houve mortes de éguas de cria. Uma hoje, outra daí a 2 meses, e, não havia explicação para justificar o fato. Até que um haras, diante da falta de aveia e o preço elevadíssimo da que existia, resolveu usar essa ração composta, como alimentação, quase exclusiva. Foi um desastre! Além de perder 8 potros recém natos, teve um elevado índice de infertilidade nas éguas. Na mesma época, soube em São Paulo, por pessoa responsável, que os ingleses lamentavam a compra no Brasil de grande quantidade de tortas de amendoim, que foram causadoras de uma perda elevada em um parque aviário. Isto, coincidiu, com anúncios repetidos na seção agrícola do Estadão, sobre financiamento do Banco do Brasil, de máquinas para secagem de amendoim. O amendoim é rico em proteína, mas, os cogumelos do mofo é o que traz elementos tóxicos. Isto tudo se passou, não por má fé e sim, por ignorância. As primeiras farinhas e/ou farelo de soja, por exemplo, só podiam ser dados em pequenas quantidades. Agora, quinze anos depois, estou certo que as condições de fabricação, sejam diferentes e melhores, mas, a mim, não inspiram confiança. Os bovinos, por exemplo, digerem de forma diferente que os equinos, e esses são os animais domésticos herbívoros mais sensíveis quanto a alimentação fora de seu ambiente natural. Não tenha dúvida que pelo custo a base dessas rações no Brasil é a soja...

Em fins de 1976 estivemos no Kentucky visitando alguns haras no entorno de Lexington e procuramos saber da alimentação e, nada conseguimos, pois, davam respostas que não satisfaziam ou mudavam de assunto. Há segredos em alimentação, não são só nos haras, como também nas cocheiras de treinamento. Os americanos do norte usam rações concentradas, mas, só as conhecemos de nome, algumas anunciadas nas revistas, sobre a quantidade e experiência do seu uso, não conseguimos obter esclarecimentos.

Assim, meu caro amigo, o meu conselho é de não usar qualquer artifício alimentar. Volto a insistir para que tenhas um alfafal ou outra leguminosa, 1 hectare para um haras como o seu é suficiente, que bem adubado e irrigado, dará de 8 a 10 cortes anuais. Como comentei anteriormente a cenoura é um alimento muito importante para o PSC e além de tentar formar parcerias com os produtores de hortaliças locais, que são muitos na serra, você deverá implementar a produção própria de cenouras. A cenoura e sua ramagem é muito importante para os garanhões e éguas na temporada de monta. A cenoura deve ser dada, para ter real valor alimentício, na quantidade de 2 quilos, lavada, laminada e com ramagem. E lembre-se dos ovos!

 

Reynato Sodré Borges

Tebas – julho - 1979

 




quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Varola - Análise de tendências - 4ª parte



Match, um típico exemplo de pedigree 100% consistente.


(continuação)


No capítulo precedente deste estudo apresentei uma divisão de 50 garanhões chefes-de-raça em cinco grupos de tendências, chamados, respectivamente, brilhante (brilliant), intermediários (intermediate), clássico (classic), robusto (slout) e profissional (professional). Proponho-me agora a submeter esta classificação baseada em impressão e critério pessoais, a uma verificação, embora empírica, examinando um número suficiente de pedigrees contemporâneos, escolhidos à luz de critérios que mais adiante serão apresentados. Todavia, para manter neste trabalho um caráter de maior legibilidade, começarei por alguns casos isolados, de particular importância e atualidade, tomando, por exemplo, o pedigree do melhor cavalo veterano europeu de 1962: Match. Trata-se de um expoente da criação francesa que, após uma excelente campanha aos três anos, logrou, aos quatro anos (convém notar) vencer a prova mais importante a peso por idade do calendário inglês, sem, que a criação britânica fosse capaz de apresentar um único elemento que o pudesse ameaçar.

No pedigree de Match encontramos as seguintes presenças de garanhões chefes-de-raça: 3 vezes Rock Sand, 2 vezes Sunstar e 1 vez Teddy, Hurry On, Alcantara II, Swynford, Blandord, Fair Play, Black Toney, Tourbillon e Tracery. Um total de 14 presenças. Além disso, encontramos o nome de Sans Souci II, que não é garanhão chefe-de-raça, mas é elemento de particular consistência.

Notamos, imediatamente, que nesse pedigree não existe nenhum dos dez nomes classificados como elementos brilhantes, razão pela qual, querendo dar uma expressão numérica ao pedigree de Match, teremos: 0 + 14, ou seja, 100 de nomes consistentes.

(N.T.): Match era irmão inteiro de Reliance e irmão materno de Relko, ambos chefs-de-race. Ele morreu em seu terceiro ano de serviço como garanhão e gerou 12 vencedores de provas hoje consideradas black-types.

Comparemos agora estes dados com os que se obtém examinando o pedigree do cavalo que reinava soberano na Inglaterra quando Match atravessou o canal para sua vitoriosa incursão, ou seja, Henry the Seventh. Disse que reinava soberano, o que pode parecer ironia, porquanto, com efeito, Henry the Seventh contentou-se em vencer o Eclipse Stakes, em 2.000 metros, mas, apesar disso, foi mandado, a enfrentar o "invasor" francês no percurso bem mais árduo da milha e meia, em Ascot, sabendo-se embora que não teria chance alguma. Seu pedigree apresenta quinze nomes de garanhões consistentes contra sete de garanhões brilhantes, ou mais precisamente: 4 vezes Chaucer, 2 vezes The Tetrarch, 1 vez Gainshorough, Pharos, Teddy, Swynford, Son-in-Law, Dark Ronald, Hurry On, Tracery e Rock Sand e, do outro lado, 3 vezes Phalaris, 2 vezes Fairway e 1 vez Hyperion e Cicero. Em números convencionais, 7 + 15, ou seja, um terço de seu mais conspícuo patrimônio genealógico é formado por nomes brilhantes, enquanto o francês Match apresenta, como vimos, cem por cento de nomes consistentes.

Mas aprofundemos mais ainda olhar nestes dois pedigrees Eles têm em comum pelo menos cinco nomes: Teddy, Hurry On, Swynford, Rock Sand e Tracery. Os restantes nomes do pedigree de Henry the Seventh poderiam prestar-se, se, com efeito, quiséssemos excluir a responsabilidade das sete presenças de Hyperion, Phalaris, Fairway e Cicero, a suspeita de inconsistência poderia transferir-se para os nome que Henry The Seventh não tem em comum com Match, isto é: Gainsborough, Chaucer, Pharos, Son-in-Law, Dark Ronald e The Tetrarch, este último, convém notar, com duas presenças. Mas são todos nomes insuspeitos, exceto, talvez, The Tetrarch, o qual porém eu insisto em absolver, porquanto, tomando dois exemplos ao acaso, verifica-se sua presença também no pedigree do consistentísissimo Alcide e do não menos forte vencedor do Cesarewitch, Golden Fire.

Aliás, 2 meses após o episódio de Match, os ingleses venciam o St. Leger S. com Hethersett contra o favorito italiano Antelanii e 05 cavalos franceses. Hethersett tem um índice de consistência bem superior ao de Henry the Seventh, contando com 4 presenças brilhantes contra 20 dos outros grupos, cujo valor veremos mais adiante em porcentagem. Mas o duelo anglo-francês, em termos de dosagem, teve outro e muito interessante desenvolvimento no ano seguinte, por intermédio do campeão dois anos inglês Crocket que se impôs nos Dois Mil Guinéus, enquanto logo após o francês Relko, parente próximo de Match, passeava no Derby de Epson. Em Crocket, as presenças de garanhões chefes-de-raça são expressas pelo símbolo 7-25 e em Relko, por 2-20. Convém notar, portanto, a impressionante semelhança dos índices de Crocket com os de Henry the Seventh, e a não menos significativa semelhança das estruturas genealógicas de Relko de Match.

Mas voltemos ao pedigree de Henry the Seventh. Se dividirmos 15 por 7 obteremos um quociente de 2.14, que pode ser considerado o índice de consistência deste cavalo. É óbvio que, se em lugar de 15 chefes-de-raça consistentes, tivermos, digamos, 28, o índice seria 28 dividido por 7 = 4 e, ao contrário, se em lugar de 7 chefes-de-raça brilhantes tivéssemos apenas 3, o índice seria 15 dividido por 3 = 5, e assim por diante. Mas ainda não sabemos qual seja o índice ideal de nossa pesquisa, o ponto central ao qual reportar qualquer caso concreto. Para uma melhor orientação, tomemos um grupo de cavalos inglêses nascidos em 1959 que, com dois anos, ou seja em 1961, foram de primeira categoria, mas com três anos, tornando-se mais longa as distâncias, não foram mais capazes de vencer ou apenas pontificaram em distâncias breves e médias. É um dos mais singulares casos destes últimos anos, significando toda a elite de uma geração que não se pôde realizar. É possível que consigamos descobrir um fator comum ao qual ligar esta inconsistência. Ao lado do nome de cada produto colocamos os dois números que representam respectivamente o total dos nomes brilhantes e o total dos nomes consistentes e, em seguida, o quociente ou índice resultante da divisão dos dois números e obteremos o que se segue:

Miralgo .................... 4 - 13 = 3,25

Display (f) ................ 5 -  8  = 1,60

La Tendresse (f) ...... 5 - 14 = 2,80

Escort ...................... 3 -  9 = 3,00

Caerphilly (f) ............ 5 - 16 = 3,20 

Gustav ..................... 4 - 15 = 3,75

Compensation ......... 9 - 14 = 1,55

Sovereing Lord ........ 4 - 14 = 3,50

Romulus .................. 6 - 18 = 3,00

Bow Tie ...................  6 -  9 = 1,33


Notamos, imediatamente, que se trata de índices um tanto baixos, mais ou menos próximos ao de Henry the Seventh e afastadíssimo do de Match, que é 14. Porém, o indíce de Match não constitui um ponto de referência definitivo, porque faltam completamente em seu pedigree os elementos brilhantes e, portanto, é impraticável fazer o cálculo        de proporção. Além disso, os números que apresentei mais acima são sintéticos, inclusive por razões a brevidade de exposição. Por exemplo, os 18 nomes consistentes de Romulus deveriam, por sua vez, ser divididos em quatro grupos, segundo a tabela apresentada no capítulo precedente. A fórmula tabulada é a que indica o equilíbrio geral do pedigree, mas, por enquanto, estamos interessados em chegar a algumas conclusões sobre o índice de consistência. Façamos então o raciocínio inverso tomando os nomes dos cavalos que, no mesmo período, na Inglaterra, venceram provas de mais fôlego ou pelo menos mostraram uma consistência satisfatória. Tome-mos, pois, o mencionado vencedor do St. Leger, Hethersett. o ganhador do precedente St. Leger, Auretius, o laureado da Copa de Ouro de Ascot , Pandofell, o cavalo Die Hard, que teve êxito em 2.800 metros, a égua Alcove, que venceu nos 3.800 metros, e o herói do Derby Irlandês de 1961, Your Highness. À primeira vista, trata-se de um grupo sólido e totalmente oposto ao anteriormente examinado. Vejamos os índices que apresenta:

Hethersett ................... 4 - 20 = 5,00

Aurelius ....................... 3 - 14 = 4,50

Pandofeil ..................... 1 - 10 = 10,00

Die Hard ...................... 3 - 18 = 6,00

Aleove ......................... 2 - 14 = 7,00

Your Highness ............. 1 - 14 =14,00


Evidencia-se, imediatamente, as diversas estruturas destes pedigrees. Os nomes brilhantes estão reduzidos ao mínimo e os nomes consistentes aparecem em quantidade apreciável, porém não superiores às quantidades observadas em muitos dos componentes do primeiro grupo. Chegamos, portanto, à urna primeira conclusão parcial: que a incidência de atitudes dos nomes brilhantes é, em certo sentido, mais forte que a dos consistentes. Ou, em outras palavras, quase todos os pedigrees e outro é o maior ou menor número de nomes brilhantes. Daí a grande importância de se proceder à separação do primeiro grupo de garanhões-base dos outros quatro, da formação do índice dividindo o total dos quatro grupos pelo total do primeiro grupo. Outra conclusão parcial é que um indíce de 3, segundo se constata em Romulus, ou pelo menos inferior, a 4, segundo o verificado em Sovereign Lord, Miralgo e Gustav, não parece suficiente para criar o cavalo completo, enquanto esta condição privilegiada parece ser alcançada quando o índice começa a superar - o número 4. Os casos de Pandofell e Your Highness são evidentemente extremos; neles, a presença de um único nome brilhante pode ser consideraria puramente casual e, para todos os fins práticos, traia-se de pedigrees que poderíamos chamar de "integrais", ou seja, compostos inteiramente de nomes sólidos, assim como sucede com pedigree de Match.

Assim, pois, podemos concluir que os cavalos ingleses não estão necessariamente condenados a unia posição de inferioridade nas corridas clássicas e de mais distância, mas, infelizmente, nelas agora se encontram justamente quando seu patrimônio genético compreende uma dose demasiado elevada de elementos brilhantes, e isso acontece na grande maioria dos cavalos ingleses de hoje. É interessante, a este respeito, transcrever a tabela elaborada pelo estudioso inglês Eric Rickman sobre os 211 pedigrees , tabulados que aparecem na última edição de 1962 do "Register of Thoroughbred Stallions".

Dividem-se, segundo as linhas de proveniência, da seguinte maneira:

Phalaris ................ 73 = 34,1%

Hyperion .............. 25 = 11,8%

The Boss ............. 20 = 9,5%

Total brilhante             = 55,4%

Blandford ............. 24 = 11,4%

Teddy ................... 13 = 6,6%

Tourbillon ............. 11 = 5,2%

Hurry On ..............  8 = 3,8%

Total consistente        = 27,0%


Os restantes 17,6% pertencem a linhas menores, mas é significativo que as proveniências das três origens brilhantes sejam em número superior ao dobro das quatro principais proveniências clássicas. Porém, repito, quando se evita o excesso de elementos brilhantes, os resultados podem ser altamente lisonjeiros, como no caso de Alcide, 2-16, índice 8, ou no caso definitivamente extremo de Crepello, que tem um pedigree integral, formado por nove nomes consistentes e nenhum nominativo brilhante, mais ou menos como o francês Match.

Outros exemplos probatórios são os do vencedor do Derby e do St. Leger, Never Say Die, 3-15, índice 5; Alcarus, 4-16; índice 4; Exar, 4-21, índice 5,25; e assim por diante. Mas o problema inglês é justamente que estes indivíduos de primeira ordem são rari nantes lo gurgito vasto. A situação francesa, entretanto, é oposta e às vezes chega a extremos dificilmente inimagináveis. Na França, o único sangue local que  pode levantar suspeitas de ser excessivamente brilhante em detrimento da consistência é o de Pharis, e é conveniente notar que Pharis tem estado conspicuamente ausente dos pedigrees dos grandes vencedores franceses destes últimos anos. Desde que a coudelaria Boussac deixou de ser o fator predominante nos clássicos franceses e nas excursões francesas ao exterior, os pedigrees acentuaram seu caráter de grande solidez, e até mesmo de rusticidade, porque nêles as presencas de Phalaris além de Pharis, de Hyperion e de Orby são esporádicas e, em todo caso, não contribuem para formar as características morfológicas e de atitude nem sequer de uma minoria dos cavalos criados na França. Por essa razão, é facílimo encontrar um cavalo francês com um índice alto e muito difícil encontrá-lo com um índice baixo, como se verifica na seguinte lista dos mais importantes garanhões recentes.

Garanhões franceses totalmente isentos de presenças brilhantes, ou seja, donos de pedigrees integrais: 

Alindrake, Arbar, Arbel, Avenger, Beatu Prince II, Bey, Breughel, Caracalla, Cranach (de Coronach ), Djebel, Djefou, Fine Top, Le Pacha, Magister, Marsyas, Tantieme, Northern Light, Ocarina, Phil Drake, Popof, Prince Bio, Vattel, Royal Drake, Sicanibre, Vieux Manoir, Wild Risk e Tyrone, 

Garanhões franceses com índices altos:

Alizier ................. 1-5 = 5

Chamant .............. 1-7 = 7

Clarion ................  1-6 = 6

Klairon ...............   1-7 = 7

Lavandin ............   1 - 6 = 6

Shikanspur .........   1 - 11 = 11

Silnet ...................  1 - 6  = 6

Soleil Levant .......  1- 12 = 12

Sunny Boy ..........   1- 9  = 9

Vamos .................   1 - 9 = 9

Worden .................  1 - 8  = 8

Chiugacgook ........  1 - 8  = 8

Altipan .................  1- 32 = 12

Tanerko ...............   2 - 10 = 5

Outros exemplos ainda de "pedigrees integrais" isto é, totalmente isentos de elementos brilhantes, são os dos norte-americanos Iron Liege e Hill Gail e os dos franceses Hugh Lupus, Manet e Vimy, enquanto outros exemplos de índices altos são os Ballymoss (7), Guide (12), Jock Scot (8), Pinza (7), Tehran (7), e assim por diante.

Mas, nem sempre o cálculo das presenças dos garanhões chefes-de-raça fornece um diagrama numérico em plena harmonia com as características efetivas do individuo examinado. Estes casos discrepantes, que, aliás, constituem uma minoria, devem-se ao fato de que em certos pedigrees predomina a influência de antepassados que, por urna razão ou por outra, não estão compreendidos no grupo dos 50 garanhões chefes-de-raça e, portanto, não contribuem para a elaboração da contagem, desequilibrando, além disso, o índice resultante.

Esses casos anômalos poderiam, ou não, invalidar a legitimidade das dosagens que apresento e são ainda objeto de estudo para determinar a sua eventual inclusão na lista dos garanhões chefes-de-raça. A expansão numérica e geográfica do rebanho do puro-sangue é tal que a minha própria escolha original de 50 garanhões embora  representando uma atualização no que diz respeito aos nomes de Vuillier, corre o risco de ser superada, se não for completada com os nomes dos garanhões que, nos últimos anos, assumiram importância mundial. Dessa forma, a tabela definitiva dos garanhões chefes-de-raça de nosso século incluirá ainda outros nomes, mas este é um assunto a ser  tratado mais profundamente em outra oportunidade.


(continua)