terça-feira, 19 de setembro de 2023

Os "japoneses" - Northern Taste

  




Através de uma série de artigos que titularemos "Os japoneses", iremos tratar de garanhões que são considerados pela crônica especializada japonesa, como os elementos fundamentais que colocaram o élevage japonês no mais alto patamar do universo PSI. Foram considerados animais nascidos na década de 70 até o ano de nascimento 2001 como limite. 

É nossa intensão oferecer elementos que possam instigar nossos leitores à buscar melhor conhecer a criação japonesa e compreender o seu desenvolvimento. 

Cabe destacar que, todos os cavalos importados que serão citados não foram prestigiados em suas origens por razões alheias as suas ótimas performances como atletas. O turfe desses países os consideraram descartáveis por aspectos que fogem ao bom senso técnico, como, pelagem de cor "estranha", tamanho pequeno, serem "feios", por terem pedigrees considerados pelo mercado local como "fora de moda", outros em virtude da crônica dita "especializada" e/ou o público turfista os antipatizarem de forma gratuita. Mas, todos acabaram se transformando em excepcionais garanhões e foram fundamentais para colocar o turfe japonês no Olimpo da atividade. 

Os criadores japoneses deram aula quanto a como se ver virtudes que possam credenciar um cavalo a ser um possível garanhão de sucesso. Não podemos também esquecer, o grande número de éguas importadas que se transformaram no Japão em mães de craques ou fundadoras de ótimos ramos maternos.

E a taxa de acerto dos criadores japoneses tem sido assombrosa...


Desses garanhões já escrevemos anteriormente sobre Sunday Silence (o cavalo mais amaldiçoado de todos os tempos pelo turfe norte-americano) e King Kamehameha (filho de Kingmambo, garanhão considerado não confiável pelo turfe dos EUA - como se o resultado de reprodutores não estivesse fortemente ligado a idiossincrasia de sua produção, o que explica sucesso ou fracasso de determinadas linhas em distintos turfes - em Manfatah, égua possuidora de pedigree considerado démodé.  

Links abaixo:

Sunday Silence   

King Kamehameha


O ponto de inflexão da criação japonesa foi quando Zenya Yoshida - Shadai Farm, importou da Europa em 1961, o vencedor clássico e então reprodutor de sucesso Guersant (avô materno de Felicio - garanhão consagrado no Brasil). Esse foi o primeiro período da Shadai Farm, que estava localizada desde 1955 em Chiba, nos arredores de Tóquio.

A partir de 1965, quando Zenya Yoshida transferiu o haras para a atual localização em Abira, na ilha de Hokkaido, ele passou a importar de forma sistemática éguas com ótimos pedigrees, filhas dos principais garanhões do momento, a saber, Hyperion, Nearco, Never Say Die, Alycidon, My Babu, Honeyway, Nimbus, Tudor Minstrel, Prince Chevalier, etc.

O sucesso sorriu imediatamente, pois em 1969 Guersant foi o garanhão líder no Japão e a Shadai Farm venceu as estatísticas de criador e proprietário.

A criação de PSI no Japão até 2001 pode ser dividida em quatro etapas. A primeira grande leva de animais chegou nas duas primeiras décadas do século 20 e uma segunda onda no imediato pós guerra. Nesses dois momentos, as importações, em sua maioria, eram formadas basicamente por animais europeus, principalmente oriundos da Inglaterra e Irlanda, contando com muito pouca influência de animais norte-americanos. Essas éguas e garanhões possuíam, em sua maioria, um perfil técnico de intermediário para inferior. 

Mas cabe destacar que a importação de um cavalo da classe de Guersant impulsionou uma terceira etapa, quando outros criadores japoneses incorporaram em seus haras nomes de primeira grandeza como os de Tesco Boy (G1), St. Crespin (G1), Venture VII (G1) (pai do nosso conhecido Locris), Sea Hawk (G1), Crocket (G1), etc. que juntos com éguas importadas, nessa nova etapa, donas de melhor perfil técnico, vieram a formar uma qualificada base genética. 

A quarta etapa é formada por um ciclo de garanhões que se encerrou em 2001 com o nascimento de King Kamehameha. E será desses garanhões que trataremos nos próximos artigos, sendo que, todos eles se  beneficiaram da então já excelente base de éguas nativas, somadas a uma quantidade absurda de éguas de primeiríssimo time importadas principalmente por  Katsumi Yoshida (Northern Farm) e outras, também de ótima qualidade, trazidas por terceiros.

Com a aposentadoria de Guersant, Zenya Yoshida trouxe Northern Taste para servir em sua Shadai Farm, que já contava com o serviço do grande campeão argentino El Centauro.

Northern Taste, 6-4-1-0, foi um corredor de padrão superior, tendo como principais resultados:

1º Prix de La Forêt (FR-G1, 1400m),

1º Prix Thomas Byron (FR-G3, 1400m),

1º Prix Djebel (FR-G3, 1400m),

1º Prix Eclipse (FR-G3, 1200m),

2º Prix du Moulin de Longchamp (FR-G1, 1600m),

3º Prix Eugene Adam (FR-G2, 2000m) e

3º Prix des Ris-Orange (FR-G3, 1200m).


A importação de Northern Taste, nascido em 1971, fez com que o sangue de Northern Dancer fosse apresentado novamente ao Japão que contava com apenas um seu descendente, Maruzensky (por Nijinsky). Sua safra de estréia nasceu em 1977, nela estava uma das melhores éguas que Northern Taste iria produzir, a ótima corredora Amber Shadai. A partir daí Northern Taste tomou o posto do inglês Tesco Boy (G1), até então o garanhão hegemônico no Japão - 6 vezes leading sire.

Em sua segunda safra surgiu a campeoníssima Dyna Carle (1982 Champion 2-Year-Old Filly e 1983 Champion 3-Year-Old Filly). 

Em 1983 nasceu Dyna Gulliver (Tokyo Yushun - Derby japonês), o melhor potro produzido por Northern Taste e mantendo esse alto padrão de qualidade Northern Taste prosseguiu em sua carreira como garanhão, tendo sido o líder das estatísticas japonesas por 11 anos consecutivos, 1982-1992. Northern Taste produziu 92 graded stakes winners, um recorde que durou quase 20 anos. 

Embora não tenha sido um "pai de pais", Northern Taste veio fixar a sua notável genética na criação japonesa através de suas filhas. Foi avô materno líder no Japão por 15 anos consecutivos, entre 1992 e 2006. 

Entre seus netos encontramos inúmeros craques, podemos destacar:

- Daiwa Major (2006-2007 Japan Champion Sprinter/Miler e influente garanhão, nesse momento 8º colocado na estatística geral japonesa), 

- Daiwa Scarlet (2007 3-Year-Old Filly), 

- Sakura Bakushin O (avô materno do atual fenômeno Kitasan Black), 

- Air Groove (1997 Horse of The Year and Best Older Filly or Mare, nomeada Reine-de-Course mare), mãe de: 

  -  Admire Groove (2004 Japan Best Older Filly or Mare), mãe de Duramente (2015 Japan Champion 3-Year-Old Colt e no momento 2º colocado na estatística geral japonesa),     

  - Rulership (G1, no momento 7º colocado na estatística geral japonesa),

  - Forgettable (G2/G3),

  - Admire Sceptre (G2/G3), 

  - Gullveigh (G3).


Obs.: Com origem em Air Groove temos além dos acima citados Jun Light Bolt (G1),  Andvaranaut (G2),  Sky Groove (G2), Sonnet Phrase (G2), Boden (G2), Groove It (G3), Red la Reve (G3), Rousham Park (G3), Vanaheim (G3), etc.


Air Groove (fam.8-f) é considerada a mais influente matriarca da criação japonesa moderna.



Air Groove.


Existem inúmeros outros importantes descendentes por linha feminina de Northern Taste, o tríplice-coroado Orfevre, Screen Hero, Stay Gold, Maurice, Dream Journey, Shonan Pandora, Kiseki, Gold Actor, etc. 

Northern Taste é avô materno de Agnes Gold (G2), notável garanhão no Brasil.


Os Yoshida consideram Northern Taste como o orgulho de sua família, sendo que seu sucesso lançou as bases da Shadai Stallion Station  e ajudou a operação crescer além de qualquer expectativa. 




Teruya Yoshida disse mais de uma vez: "Northern Taste comprou todos os garanhões que temos".