quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Lições dos grandes - Haras Tibagi

 


 

Após os artigos nos quais foram relatados os métodos com os quais os Drs. Roberto Grimaldi Seabra e Francisco Eduardo de Paula Machado conduziam a evolução de seus respectivos plantéis, escreveremos agora sobre a filosofia que norteou a gravitação do élevage Tibagi.

O início do Haras Tibagi se deu quando o Dr. Sebastião Ferreira adquiriu em 1963 uma propriedade de 50 hectares, anexa ao antigo Posto de Monta do JCSP. Em 1965 após concluir a infraestrutura necessária para o início de sua criação, nasceu a primeira geração no novo haras. Devemos ressaltar que Sebastião Ferreira, engenheiro civil, sempre entendeu dar cunho empresarial a seu empreendimento  e consequentemente se cercou dos melhores profissionais no planejamento do Tibagi, tudo sempre feito dentro da melhor técnica da época.

Nesse estágio inicial, se tornava necessário a formação do plantel de éguas fundadoras e o turfman Sebastião Ferreira contratou o grande expert Dr. Reynato Sodré Borges, que passou a ser diretor técnico do haras, cabendo a ele a seleção de matrizes e estudo dos cruzamentos do novo estabelecimento.

Através de nosso convívio com o Dr. Reynato Sodré Borges, um Grande Mestre do PSI, do qual fomos atento aluno, é que foi possível  aprender o início da história do Haras Tibagi, como foi formado o plantel inicial e a metodologia que promoveu o grandioso sucesso desse notável campo de criação.

O Haras Tibagi revolucionou o entendimento em sua época, de como poderia se conduzir uma criação quanto a exploração de garanhões. Ora adquirindo coberturas de garanhões pertencentes a outros proprietários, participando dos condomínios para importação de reprodutores que naquele momento se iniciavam no Brasil, ou mesmo, através de garanhões próprios como os franceses Vasco de Gama e Caldarello. Cabe destacar no lote de fundadoras a priorização de grandes linhas maternas em voga na época, quer sejam internacionais ou as já nacionalizadas, e sempre filhas de grandes corredores nacionais ou de reprodutores estrangeiros com comprovado sucesso entre nós.

 



O sistema adotado no Haras Tibagi é similar ao modelo hoje majoritário no Brasil, onde importante parcela de nossa criação é obtida através de pequenos ou médios investidores que utilizam a compra de serviço de garanhões de terceiros ou são cotistas de alguns desses reprodutores. 

É nitido observar que o atual ambiente criacional brasileiro não é favorável a formação de linhas maternas próprias e um consequente trabalho genético sobre elas, ao moldes de como hoje fazem os Haras Santa Maria de Araras e Doce Vale, que oferecem em toda geração um sem fim de grandes atletas. Esses dois campos de criação apenas repetem a conhecida fórmula de sucesso aprendida lá atrás (Haras Guanabara, São José & Expedictus, Mondesir, Faxina, São Bernardo, Bela Esperança, etc).

A pulverização genética hoje existente no plantel da maioria de nossos criadores, é um fato que apesar de dificultar o trabalho da busca do animal de exceção, não inviabiliza se conseguir o alto rendimento. E o Haras Tibagi com brilhante trabalho de estudo para efetuar seus cruzamentos é um exemplo que dentro desse sistema pulverizado o sucesso em larga escala é perfeitamente possível de ser alcançado.

Mas para se ter uma sequência de craques como o Haras Tibagi teve, é necessário existir na retaguarda um Dr. Reynato Sodré Borges.

 

Arnaldo, o melhor produto criado pelo Haras Tibagi.

 

As atividades do Haras Tibagi foram encerradas em março de 1977 em momento de apogeu. Naquela data, com 11 gerações em idade hípica criou ganhadores de 269 provas e 22 animais de nível clássico, que listaremos a seguir com seus principais resultados: ARNALDO (GP Cruzeiro do Sul, G1), FRIZLI (GP Estado do Rio de Janeiro, G1), FRANCE (GP Criação Nacional, G1), MAIS QUE NADA (GP Diana, G1), MANACOR (GP Paraná, G1), ARTUNG (GP Bento Gonçalves, G1), ELISIE (GP Carlos Telles e Carlos Gilberto da Rocha Faria, G2), JEDROCA (GP Carlos Telles e Carlos Gilberto da Rocha Faria, G2), SANG CHAUD (GP Jockey Club de São Paulo, G2), UNÍSSONO (GP General Couto de Magalhães, G2), MAUSER (GP Oswaldo Aranha, G3), AMAZONE (2.GP Diana, G1),  SOPHIE (2.GP Barão de Piracicaba, G1), MALABARISTA (3.GP Estado do Rio de Janeiro, G1), DEGAMA (4.GP Criação Nacional, G1), BLUE DIAMOND (3.GP Pres. da CCCCN, G3), SWALE (3. GP Imprensa, G3), SAN PEUR (4.GP Oswaldo Aranha, G3), ZEMO (Cl. Pres. Carlos Paes de Barros), MATEIRO (2.Cl. Pres. Augusto de Souza Queiroz), BLUE SOCIETY (3. Cl. Pres. Guilherme Ellis) e ORJANA (4.Cl. Pres, Roberto Alves de Almeida).  

O Haras Tibagi nunca teve mais de 25 éguas em serviço e a sua maior geração foi de 24 elementos.

 


Sede do Haras Tibagi, projeto de Oscar Niemeyer. 

 

Destacaremos os pedigrees de alguns dos principais nomes criados pelo Haras Tibagi para compreensão dos nossos leitores quanto a finesse genética desta criação. Cabe ressaltar que na década de 70 o objetivo era totalmente distinto, a prioridade eram animais que chegassem aos 2400 metros com reserva e não como é hoje na criação brasileira, que diante da perda de stamina quem consegue chegar a distância clássica já chega em seu limite. Por tal eram privilegiados os cruzamentos que ficavam do centro para a direita da escala de dosagens. O que não significa dizer que não se objetivava também a menor distância, Frizli venceu o GP Estado do Rio de Janeiro em 1600 m e Mais Que Nada os 2000 metros do GP Diana.


1 - Arnaldo, por Tang, serviço comprado ao Posto de Monta,

 

 

2 - Manacor, por Corpora, serviço comprado ao Posto de Monta,

 



 
3 - Mais Que Nada, por Xaveco, serviço comprado ao Haras Patente,

 


 

4 - Frizli, por Zenabre, serviço comprado ao Posto de Monta,

 


 

Obs. Os principais resultados do Haras Tibagi comprovam a importância do antigo Posto de Monta do JCSP. Infelizmente as sucessivas incompetentes e perniciosas administrações dessa entidade, ocasionaram a sua desativação e venda, causando grave dano ao desenvolvimento do turfe brasileiro.