domingo, 29 de junho de 2025

Malibu Moon, o último grande senhor norte-americano.



Malibu Moon é um dos mais perenes garanhões deste século na criação norte-americana, sendo na produção de classe apenas suplantado por Tapit. Até o momento ele é pai de 141 stakes winners e 58 ganhadores de grupo, sendo que 17 venceram grupo 1. Como avô materno possui mais de 25 netos vitoriosos em provas de grupo.



Sua produção clássica apesar de preferencialmente se sobressair no dirt também apresentou destacados "gramáticos". Valiant Force, fruto de sua última geração, venceu aos 2 anos de idade o Norfolk Stakes (G2,1000m, Royal Ascot), com o melhor tempo dessa prova nos últimos 18 anos e foi segundo colocado por meio corpo na Breeder's Cup Juvenile Turf Sprint (G1,1000m, Santa Anita) para Big Evs, garanhão no Tally Ho Stud com fee de 17.500 euros. Essa prova foi corrida em 0:55:31, a melhor marca da década.


                    

Malibu Moon iniciou sua vida de forma atribulada, sua mãe Macoumba pisou em sua pata traseira quando ele tinha 5 meses de idade, e ele foi confinado em sua cocheira na Walmac Farm. Informado pelos veterinários de que cavalos com esse tipo de lesão não conseguem correr, seu criador B. Wayne Hughes liberou Malibu Moon integralmente para as pastagens e o jovem potro se recuperou. Malibu Moon foi enviado para Mel Stute na California, que o levou rapidamente para as corridas.

Ele correu apenas em duas oportunidades, ambas aos dois anos. Em sua primeira partida largou mal e aparentemente ficou fora da disputa, mas com um desempenho espetacular conseguiu ainda a segunda colocação, em um final que repercutiu na imprensa especializada. Em sua segunda apresentação esmagou seus adversários, vencendo 1000 metros no tempo de 0:57:41, aumentando a crença que ali estava o craque da geração.

Após essa corrida Malibu Moon apresentou uma fratura de joelho e foi obrigado a retirar-se das pistas. Somando esse início brilhante aos dois anos com seu régio pedigree, Malibu Moon seguiu para garanhão "off Broadway" em Maryland.

A primeira produção de Malibu Moon chegou aos hipódromos e dela fazia parte Perfect Moon (G2), com essa ótima safra ele se colocou entre os garanhões líderes da estatística First Crop. Operadores de garanhões do Kentucky vieram cortejá-lo e para lá ele foi encaminhado.

Após breve passagem em Castleton Lyons, Malibu Moon foi recomprado por Hughes e seguiu para a recém adquirida Spendthrift Farm. Nessa época Spendthrift Farm era uma massa falida e Malibu Moon ajudou a Hughes na reconstrução do haras.
 
Malibu Moon é filho de Macoumba, uma vencedora da milha do Prix Marcel Boussac (G1) e sua avó Maximova do Prix de Salamandra (G1) ambas aos dois anos. Sendo que Maximova demonstrou carências estaminicas aos três, quando não passou de uma terceira colocação nas milhas da Poule d´Essai das Pouliches (G1) e uma segunda no Irish One Thousand Guineas (G1). 
 
Seu pai A.P. Indy é um chef-de-race intermediário/clássico, consequentemente é desnecessário maiores comentários sobre a sua qualidade. Infelizmente A.P. Indy, assim como seu pai Seattle Slew, se mostraram produtores inadequados para a grama e seus filhos na reprodução confirmaram essa característica. As exceções cabem as linhas de Malibu Moon e Bernardini, que são os A.P. Indy com comprovada afinidade para grama.

Malibu Moon morreu em 2021, aos 24 anos de idade, no seu piquete na Spendthrift Farm.


Malibu Moon.

 

 







segunda-feira, 23 de junho de 2025

Sinsel, um pedigree que é uma obra de arte

 



Sinsel vencendo o GP Brasil 2025, foto de Sylvio Rondinelli.


É um alento para a criação brasileira ver surgir criadores de nova safra que trabalham com a simplicidade da técnica quando da elaboração de suas cartas de monta. E esse é justamente o caso de Rafael Steinbruch, que com a vitória de Sinsel no GP Brasil de 2025 coroou seu excelente trabalho. O Red Rafa vêm se destacando geração após geração na oferta de parelheiros de excelência para o turfe. 

Sinsel é um filho de Alpha em Golden Land por Nedawi. Curiosamente o vencedor da prova mais importante do turfe brasileiro é fruto da combinação de dois reprodutores desprezados pela maioria dos nossos criadores. Alpha, corredor de primeira prateleira e com pedigree de cinema, foi um garanhão incompreendido tanto no Brasil como no exterior. Infelizmente a descendência de Nijinsky se mostrou em treinamento animais para poucos treinadores. Não é qualquer treinador que possui o talento de Vincent O'Brien para saber lidar com essa genética.  

Nedawi (39 individuais filhos vencedores clássicos, sendo 16 G1) sofreu também injustificado preconceito por ter sido um stayer, existe uma incompreensão generalizada sobre o que de fato é velocidade no PSI. John Aiscan nos demonstrou que a aceleração final em cavalos de maior distância é sinônimo de vigor e que indivíduos dotados desse tipo de velocidade, são os exemplares com melhor constituição física dentro da raça. E invariavelmente se tornam reprodutores de sucesso, com seus filhos abordando uma grande gama de distâncias de forma eficaz. Indivíduos com mais stamina e aceleração final podem gerar produtos de extrema flexibilidade corredora, a  produção de Nedawi venceu provas de grupo dos 1400 aos 3000 metros, tanto na grama como na areia.

Nedawi com raríssimas filhas na reprodução vêm se destacando como excepcional avô materno na classe.




O pedigree de Sinsal está construído através de inbreedings que atendem a uma "simplicidade rodriguiana" e cumprem com preceitos conhecidos do que pode gerar expectativa de sucesso.

Golden Lad vai a Jacopa Del Sellaio, a obra-prima de mestre Manoel Justino de Almeida Netto, o Neito. Ele foi o responsável por duas das mais importantes importações já acontecidas no turfe brasileiro, Executioner e Rio Bravo. Lamentavelmente a descendência dessas duas genéticas foram abandonadas pela falta de critério que domina nossa criação. Felizmente temos jovens estudiosos, dos quais Rafael Steinbruch faz parte, que alcançam a qualidade dessas genéticas "antigas e nacionalizadas" e as estão resgatando.

Jacopa Del Sellaio foi a líder de sua geração, tendo vencido o GP Criação Nacional - Taça de Prata 1979, a prova mais importante dessa época na geração, ela era filha de Kala (vencedora de grupo). Essa linha materna, provavelmente seja a mais importante da criação Von Leithner - Haras São Bernardo, e simplesmente deu origem a indivíduos como Gaudeamus, Quartier Latin, Voile, Gambia, Coarazito, Jamundá, etc.

Sinsel já havia vencido o GP Francisco Eduardo de Paula Machado, G1, 2000m, em nossa opinião a prova do calendário brasileiro mais credenciada para indicar seus vencedores como possíveis grandes garanhões do futuro. Agora Sinsel vence com autoridade o GP Brasil, G1, 2400m e soma-se sua segunda colocação no GP Cruzeiro do Sul, G1, 2400m, grama pesadíssima, tudo isso acontecendo em uma geração extremamente forte. 

Em qualquer turfe com melhor bom senso, um craque como Sinsel ao seguir para reprodução teria suas coberturas disputadas a peso de ouro. 








quinta-feira, 12 de junho de 2025

Salto. O que mais esperar de um garanhão?

 




Esse cavalo, com limitadas oportunidades na reprodução, é pai de quatro individuais vencedores de grupo 1, quatro individuais vencedores de grupo 2 e três individuais vencedores de grupo 3. Com 191 filhos corridos possui 15 vencedores clássicos com 7,86% de resultado, 41 colocados nessas provas (21,47%), 130 vencedores (68,06%) e 171 que se colocaram (89,53%).

A produção clássica de Salto não pode ser considerada como qualquer uma, pois dela fazem parte vencedores das mais importantes provas de grupo 1 do turfe brasileiro. Animais de extraordinário quilate como Own Them (GP Derby Paulista), Naomi Broadway (GP Zélia Peixoto de Castro), Rennes (GP Roberto e Nelson Seabra) e Oberyn (GP Linneo de Paula Machado - Grande Criterium), mais Miss Marcela (GP Pres. Luiz Oliveira de Barros, G2), Força (GP Pres. José Bonifácio Coutinho Nogueira, G2), Moleque da Vila (GP Pres. José de Souza Queiroz, G2), Nolasco (GP Pres. José de Souza Queiroz, G2), Negresco (GP Dr. Enio Buffolo, G3), Jack Up (GP Pres. Waldyr Prudente de Toledo, G3) e Duro de Matar (Cl. Ensayo, Maroñas, G3).

A maior crítica quanto a produção de Salto está relacionada ao tamanho de seus filhos. Examinemos seus pesos quando de suas vitórias em provas de grupo 1: Own Then (450 kg), Naomi Broadway (432 kg), Rennes (443 kg) e Oberyn (442 kg). Peso médio nessas vitórias, 442 kg. 

Desde quando tamanho e peso em PSI é condicionante a ótimo desempenho atlético? Caso algum amigo leitor possua conhecimento de algum estudo técnico que trate dessa relação favor nos enviar o acesso.

Salto é um irmão 3/4 do extraordinário Siyouni, garanhão Aga Khan que teve fee 2025 de 200.000 euros e disponibilizado apenas para poucas éguas aprovadas. 

Pivotal e seus filhos Siyouni e Salto são dignos continuadores de Nureyev. Todos eles em pistas jamais foram líderes de suas gerações, mas, se provaram garanhões positivos.


Siyouni


Como curiosidade, Zarigana (Siyouni) vencedora da Poule d'Essai des Pouliches 2025, pesou 440 kg em Aiglemont antes de embarcar para Longchamp.






Salto é filho do craque Pivotal, um chef-de-race intermediário/clássico. Nascido em 2008 iniciou sua campanha aos 2 anos e foi considerado o melhor "Wertheimer" de sua geração. Nessa idade em 4 partidas obteve um primeiro e três segundos, sempre nos 1600 metros, seu principal resultado foi a segunda colocação no Criterium International (1600m, G1, Saint-Cloud) para Roderic O'Connor. 

Nessa prova Salto correu distante e após atropelada tardia impôs a Roderic O'Connor, que folgava na liderança, renhida luta pela vitória, tendo sido derrotado por pouca diferença, o terceiro colocado chegou a 5 corpos. Em suas outras poucas apresentações na França obteve uma 4ª colocação no Prix Quincey (1600m, G3, Deauville).

Salto foi transferido aos EUA para seguir campanha. Em sua corrida de estreia, o Commonwealth Turf Stakes (1700m, G3) foi alcançado e acabou obtendo uma quinta colocação. Após 8 meses de recuperação, apesar de jamais ter conseguido voltar a sua forma anterior, venceu dois Allowance e  conseguiu os resultados:

2º Cliff Hanger St. (1600m, G3),

2º South Tampa Bay St. (1700m, G3),

3º Jaipur Invitational St. (1200m, G3),

3º Canadian Turf St. (1600m, G3),

3º Appleton St. (1600m, G3) e

4º Gulfstream Park Turf H. (1700m, G1).


Pivotal


Danzigaway, a mãe de Salto, pertence a uma das famílias base da criação Wertheimer, a fundada por Sweet Revenge (múltipla vencedora e colocada em provas de grupo). Danzigaway é irmã materna de Gold Away (pai de Alexander Goldrun - múltiplo vencedor G1) e de Red Runner (pai de 12 vencedores de grupo). Danzigaway é também mãe de Silent Name (pai de 9 vencedores de grupo mais 42 vencedores de listeds e colocados em grupo).


É incompreensível o "efeito manada" que por vezes atinge o turfe brasileiro e leva a uma falta coletiva de razoabilidade, que relega ao ostracismo garanhões que entre nós se mostram de excepcional rendimento, e Salto é infelizmente hoje o maior exemplo.

Lamentavelmente tal sentimento, sem nenhuma justificativa técnica, é rebatido na produção desses amaldiçoados. Podemos citar os exemplos de Nedawi (39 vencedores clássicos) e Crimson Tide (33 vencedores clássicos). Ambos garanhões de notável sucesso, e com raríssimas filhas aproveitadas nos haras, mas que mostram a perenidade de suas genéticas através de netos com extrema classe.

Esperamos que diante do extraordinário êxito de Siyouni, a criação brasileira olhe Salto com maior respeito e não siga cometendo com ele os mesmos equívocos praticados no passado com Nedawi e Crimson Tide.


Salto possui todos os predicados para ser o Siyouni tupiniquim.