terça-feira, 5 de outubro de 2021

Surpresa no Arco - vitória de Torquator Tasso

 


 

A 100ª edição do Prix de L'Arc de Triomphe foi considerado como aquela que nos últimos anos reuniu o campo tecnicamente mais forte e equilibrado. Lamentavelmente Paris vinha de 3 dias seguidos com fortes chuvas, sendo que na véspera do Arco e em seu dia a chuva cessou, mas como o tempo continuou frio, úmido e nublado não ocorreu evaporação suficiente e a prova foi disputada em pista bastante pesada, o que abaixou o perfil técnico da disputa. 

Nessas condições as raias de 1 a 3 na reta de chegada sempre ficam pegajosas e vão melhorando ao exterior, o que pode ser percebido pela quantidade de torrões de grama que se desprendem.

Quanto a Tarnawa, o entendimento é que Soumillon fez uma boa corrida dentro do desenrolar da prova. Largando na raia 5 Soumillon optou em buscar o meio da disputa e a raia 1, o que a pouparia para o final. A prova se desenvolveu em ritmo moderado, Adayar entrou na reta de chegada comandando o pelotão e atolando pela raia 1, o que praticamente liquidou sua chance de vitória. A corrida começou a ser decidida na altura dos 500 metros finais. Adayar já mostrava pouca ação e que não iria disputar a vitória. Tarnawa teve problemas ao tentar encontrar sua passagem para o meio da pista, ficando encaixotada entre Raabihah, adiante com pouca ação e Hurricane Lane que vinha a sua esquerda durante toda prova - na função de cheval de jeu da Godolphin para Adayar. Foi sofreada e abriu-se a passagem pelo pior terreno da pista - a raia 1. Nos 200 finais conseguiu ao exterior a raia 2, algo melhor, onde lutou e bateu Hurricane Lane que vinha com muita ação pela 3. Torquator Tasso se manteve por fora durante todo o percurso, dessa forma sempre correu no terreno menos encharcado e foi beneficiado por essa opção de seu jóquei.

Certamente esse Arco será lembrado pela derrota de seus 3 favoritos Tarnawa, Adayar e Hurricane Lane frente uma pista que exigiu deles algo além de suas forças.

De fato suas apresentações devem ser destacadas diante das péssimas condições das raias de 1 a 3, evidentemente sem tirar o mérito do vencedor.



Câmara embarcada em Tarnawa.


Torquator Tasso aproveitou uma raia em condição  superior e fez o melhor tempo dos 200 finais 00:12.44, a prova apresentou um tempo de 2:37.62, que não pode ser considerado como dos melhores, apesar de ter sido muito superior ao de Sottsass - 2:39.30, que também foi corrido em pista pesada. Quanto a tempos cabe destacar que Tarnawa mesmo sempre correndo nas piores raias foi quem apresentou o melhor tempo da prova para os 600 metros finais - 00:36.64.  

Com certeza Torquator Tasso não tem nada a ver com o desenrolar da prova para seus 3 principais concorrentes e não pode ter a sua vitória menosprezada. É um sólido performer alemão com relevantes conquistas em sua campanha 1º Großer Preis von Berlin (Ger-Gr1) 2400m, 1º Großer Preis von Baden (Ger-Gr1) 2400m, 1º Großer Hansa Preis (Ger-Gr2) 2400m, 2º Deutsches Derby (Ger-Gr1) 2400m, 2º Großer Preis von Bayern (Ger-Gr1) 2400m, 2º Großer Preis von Berlin (Ger-Gr1) 2400m e 3º Großer Preis von Baden (Ger-Gr1) 2400m. 

Torquator Tasso é um típico produto alemão, um turfe que não segue os modismos mundiais. Turfistas de bastante competência já deixaram seus registros que Hyperion, Nearco, Ribot, etc são "dinossauros genéticos", que suas linhagens são "coisas do passado" e o que possui valor na modernidade são combinações envolvendo duas ou três específicas genéticas norte-americanas. O que até concordamos, em parte, quando o foco é corrida na terra, como são as principais provas dos EUA, mas quando falamos em grama estamos diante de outro patamar em classe. 

Acreditamos que com os últimos resultados da "Copa do Mundo" do turfe esses estudiosos ao observarem os pedigrees de Enable, Waldgeist, Sottsass e agora Torquator Tasso se rendam ao óbvio e daí conseguir sair de uma idolatria cega pela genética norte-americana e descrédito as demais existentes. Toda genética do PSI é boa, desde que seja corretamente trabalhada e se saiba quais os objetivos que se quer atingir.

Torquator Tasso apresenta em seu pedigree nomes como Adlerflug, Acatenango, Birkhahn, Lombard, Trempolino, Last Tycoon e Cadeaux Genereux, animais de relevante gravitação no turfe germânico e que soam como palavrões dentro do modismo atual alavancado por míopes entendimentos turfísticos. "O que seria do azul se todos gostassem do amarelo?" Felizmente existem turfistas que habitam fora da "caixinha norte-americana" e que gostam do azul.

Esse Arco nos mostrou novamente, que em momentos nos quais a solidez se torna fator decisório, temos que nos render para uma genética germanizada. Como se Allegretta, a avó materna de Galileo não representasse o que há de melhor em sangue alemão. Torquator Tasso possui um pedigree Fórmula 1.