sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Nathaniel, um garanhão fora da moda

 


NATHANIEL, é um comprovado pai clássico e enfrenta o inacreditável desprezo da criação das ilhas. Um fenômeno cuja origem é o modismo que vez por outra atinge certos garanhões, os entregando ao limbo do esquecimento e isso sem maiores justificativas técnicas. Infelizmente a propriedade do animal pode também suscitar rejeições que não se justificam dentro de uma visão técnica pragmática.

Como corredor Nathaniel foi extremamente duro e sólido, apenas teve o azar de nascer na mesma geração de FRANKEL. Em 2011 ele foi Champion 3yo (9.5-11f) na Europa e Top rated 3yo na Inglaterra. Seu Timeform rating foi de 131.

Aos 2 anos, em sua estréia, foi 2º no EBF Maiden, 1600m, Newmarket, para Frankel por 1/2 corpo e deixou a 5 corpos em segundo lugar o Gr. 1 Colour Vision. 

Aos 3 anos saiu do perdedor nos 2400 metros de um Class 5, impondo 9 corpos ao segundo colocado. Conseguiu seu batismo de fogo ao vencer por cinco corpos o King Edward VII Stakes, Gr.2, 2400m, sem jamais ser exigido. Continuando sua campanha de 3 anos venceu na sequência os 2400 metros do King George VI and Queen Elizabeth Stakes, Gr.1, derrotando um campo extremamente seletivo com corredores como os grupo 1 Workforce (Prix de L'Arc de Triomphe), St Nicholas Abbey (Breeders Cup Turf), Debussy (Arlington Million Stakes) e Rewilding (Dubai Sheema Classic). Foi segundo por cabeça para Treasure Beach (Irish Derby) no Gr.3 Chester Vase.

Aos 4 anos, reapareceu após ausência no Derby de Epson vencendo por 1/2 corpo o Coral-Eclipse Stakes em 2000 metros derrotando corredores de gabarito superior como os vencedores de grupo 1 Cityscape (Dubai Duty Free), Farhh (Champion Stakes), Twice Over (Champion Stakes), Monterosso (Dubai World Cup) e Crackerjack King (Premio Presidente della Repubblica). Defendendo o título do King George, perdeu apenas na última passada por focinho para a vencedora do Arc Danedream, após uma luta extraordinária e inesquecível com a gigante corredora alemã - Cartier Awards 2011 3yo Filly e German Horse of the Year 2011 & 2012. Obteve mais um segundo lugar nos 2000 metros do Irish Campion Stakes, Gr.1  para o 7 vezes Gr.1 Snow Fairy por 1 1/4 corpos. Nathaniel encerrou sua carreira em uma incrível corrida de despedida, o 2012 Champion Stakes (Gr.1) em Ascot, com um 3º lugar atrás do superstar invicto Frankel. 




Supostamente considerado pela midia européia, altamente comprometida com específico grupo de investidores, não rápido o suficiente, ou "clássico" demais, ou pouco versátil. Nathaniel não começou suas funções como garanhão com maior alarde dessa mesma mídia especializada. Embora não tenha vencido aos 2 anos, vale lembrar que Nathaniel foi rápido o suficiente para terminar em segundo na sua estréia em agosto para Frankel, por apenas meio corpo em 1600 metros. Nenhum outro cavalo chegou tão proximo de Frankel em uma corrida!




Logo em sua 1ª geração entregou ao turfe mundial ENABLE, a craque da Juddmonte Farms, que se encontra entre os maiores campeões de todos os tempos, vencedora de 11 Gr.1, incluindo duas vezes o Arco do Triunfo. Esse resultado em sua primeira geração não o tornou popular, nenhum dos grandes protetorados do turfe o prestigiou enviando éguas de maior qualidade. E mesmo Khaled Abdullah, o criador de Enable, nunca mais enviou alguma outra égua para ele, exceto a mãe de Enable, apenas uma vez em 2018.

Enable


Mesmo servindo expressivo número de éguas destinadas a produção de saltadores, Nathaniel produziu muitos cavalos de qualidade no galope - 59 Stakes horses, sendo 6 vencedores de Gr.1.

Nathaniel é também pai de Channel, vencedora do Prix de Diane (Gr.1), God Given, Premio Lydia Tesio (Gr.1), Mutamakina, EP Taylor Stakes (Gr.1) e  Lady Bowthorpe, Nassau Stakes (Gr.1). Mas na última primavera, seu destino parecia traçado... para o salto, já que praticamente todo o seu book era composto por éguas saltadoras. 

Na atualidade, a Inglaterra e a Irlanda são radicais em termos de criação. Ou é estudado um pedigree que produza, se possível, um sprint aos 2 anos, ou se planeja o cruzamento para obstáculo. Quase não há ponte entre esses 2 mundos tão diferentes, o que cria um universo paralelo onde cavalos como Nathaniel são abandonados para produção de galope. Os produtos das grandes fortunas correm no verão, entre maio e final de setembro. Enquanto os cavalos criados pelas não fortunas, devem suportar os rigores do inverno inglês nas provas de salto ou aguardar o surgimento de um outsider, para então, os criadores mais modestos se contorcerem de riso dos grandes potentados que dominam a criação das ilhas.  

E eis que... Nathaniel lançou uma nova estrela, o invicto Desert Crown, que em 3 partidas obteve 3 vitórias, os 2400 metros do Derby de Epson e o Gr.2 Dante Stakes nos 2100 metros de Yorkshire.

Do outro lado do Canal, os poucos resistentes aos extremistas da "velocidade precoce de moda", esses que por consequência são contrários a diversidade e a versatilidade, demonstram que nem sempre o mercado tem razão. Com efeito, a ultraespecialização leva inevitávelmente a beneficiar apenas um pequeno grupo de garanhões - quase sempre pertencentes a um mesmo grupo investidor - que acabam por serem os mais utilizados e com seus serviços mais valorizados, atingindo valores além da razoabilidade.

Consequentemente garanhões como Nathaniel passam a não ser considerados comerciais pela mídia especializada e servilmente pelos agentes, que atendem aos interesses econômicos de grupos predadores da diversificação genética e que tentam ser hegemônicos no turfe europeu com seus escolhidos garanhões. Então, de forma geral, cavalos com perfil "clássico" são segregrados e passam a cobrir de forma majoritária éguas saltadoras.

Nathaniel é um caso fascinante para profunda análise e reflexão, antes de escolhermos os garanhões para os serviços que iremos planejar.




Nathaniel, mais um garanhão incompreendido.