domingo, 8 de setembro de 2024

Inbreedings femininos ou "Rasmussen Factor".




O "Rasmussen Factor" (RF) ocorre quando existe repetição de grandes matriarcas, as reines-de-course, em ambas metades de um pedigree, ou seja, através do pai e da mãe do mesmo indivíduo nas primeiras cinco gerações.

A primeira menção conhecida demonstrando resultados positivos desse tipo de inbreeding foi apresentada em 1964 por Dennis Craig no seu livro "Breeding Racehorse From Cluster Mares". 

"Minha conclusão final é que os atuais criadores de PSI devem olhar os métodos clássicos de cruzamentos praticados por seus antepassados exitosos, como se discutiu em detalhe nesse livro, inbreeding não direcionado a um mesmo garanhão, mas sim, para uma mesma égua notável dentro de três a cinco gerações".

Dennis Craig




Muitas décadas se passaram sem que o estudo de Dennis Craig fosse compreendido pelo universo dos criadores de PSI, antes que Leon Rasmussen, analista ícone em pedigrees do PSI, voltasse ao tema em vários artigos publicados no Daily Racing Form.


Rasmussen atraído pelo tema posteriormente solidificou suas observações e conclusões em 1993 durante um simpósio na Austrália. No qual expôs o que ele chamou "Inbreeding to superior females throught different individuals".


Leon Rasmussen e Rommy Faversham publicaram em 1999 um livro intitulado "Inbreeding To Superior Females", que delineou essa teoria e sua aplicação.


Provavelmente um dos exemplos mais óbvios desse padrão seja Danehill, que é consanguineo em Natalma por meio de dois seus descendentes diferentes, Northern Dancer e Spring Adieu.


Desse estudo é possível destacar de forma especial dois tipos estruturais de Fator Rasmussen (RF), o Formula One (Fórmula 1) e o Delta Patterns (Padrão Delta).


a) O Fórmula 1 se constitue quando o pai e a mãe do indivíduo descendem por linha materna de mesma matriarca.


- O exemplo apresentado foi Quiet American. Seu pai Fappiano e sua mãe, Demure descendem por via materna da matriarca Cequillo. 





b) O Padrão Delta se apresenta quando o pai e a mãe do indivíduo remontam a irmãos inteiros, ambos filhos de uma mesma matriarca. Ou seja, quando o pai traça sua linha paterna a um exemplar que por sua vez na outra metade do pedigree possui uma irmã inteira na linha materna do indivíduo em questão.


- O exemplo apresentado foi Roving Boy. Seu pai Olden Times descende por linha masculina de War Relic, enquanto  sua mãe Black Eyed Lucy é neta via materna de War Kilt, uma irmã própria de War Relic. War Kilt é a terceira mãe de Roving Boy.






As estratégias para cruzamentos mais valiosas são aquelas que foram submetidas ao longo do tempo e comprovaram estatisticamente seus acertos em comparação ao resultado geral.


Leon Rasmussen e Romy Faversham examinaram mais de 1000 pedigrees contemporâneos. Os resultados mostraram que 11% desses pedigrees corresponderam a um antepassado feminino através de distintos indivíduos nas primeiras cinco gerações, por meio do cruzamento de irmãos, total ou parcial nas primeiras quatro gerações da árvore genealógica. Esta atribuição de endogamia ficou conhecida como Fator Rasmussen (RF). O valor de 11% na produção de indivíduos superiores serve como ponto de partida para ajudar a avaliar o valor do RF.


Em levantamentos posteriores nos EUA, o ótimo resultado desse tipo de endogamia foi confirmado, e se perdeu a possibilidade da amostra original estudada pertencer a uma janela estatística. Esses percentuais ao longo desses estudos ficaram entre 7.8% e 10.1% do total de vencedores G1 contra 3.2% e 4.0% da população geral.







                             

                         








quarta-feira, 4 de setembro de 2024

A importância das mães argentinas

 


Dulce, a primeira égua tríplice coroada do Brasil era filha da craque argentina Duty (GP Selección, G1).



Duty.


O sucesso das éguas argentinas em serviço na criação mundial é notório e não poderia ser diferente entre nós.

O haras mais icônico no Brasil na utilização dessas matrizes foi o Haras Guanabara, dos irmãos Roberto e Nelson Seabra. Foi partindo desses ventres que esse campo de criação obteve alguns dos seus indivíduos de maior êxito:

1 - Emerson - Coaraze em Empeñosa (Arg),

2 - Emoción - Orsenigo em Empeñosa (Arg),

3 - Empyreu - Coaraze em Empeñosa (Arg),

4 - Escorial - Orsenigo em Escoa (Arg),

5 - Dulce - Royal Forest em Duty (Arg),

6 - Loretta - Hunter's Moon em Lousiana (Arg),

7 - Bucarest - Birikil em Bumble Bee (Arg),

8 - Snooker - Bahram em Snobless (Arg),

9 - Rumor - Hunter's Moon e Rusticana (Arg),

10 - Honolulu - Felicitation em Honra (Arg),

11 - Huxley - Felicitation em Hurona (Arg),

12 - Francfort - Royal Forest em Francesca (Arg), etc.


Na década de 70 em primeiros estudos tal fato chamou a atenção. Dr. Roberto Seabra nunca se furtou em compartir seus conhecimentos, certo dia em visita à sua biblioteca perguntei: "Dr. Roberto, qual a razão do maior sucesso das éguas argentinas em detrimento das inglesas no seu haras"?

A explicação dada é que a propriedade que originou o Haras Guanabara possuía uma enorme várzea e foi sobre essa área que as pastagens foram formadas. Mas para tal, ela precisou ser drenada, para executar essa tarefa foi criada na propriedade uma fábrica de manilhas. Outra questão no Haras Guanabara era, que por razão de seus pastos estarem sobre solos drenados, havia necessidade de um maior cuidado agronômico dos mesmos para corrigir o alumínio trocável e manter sua fertilidade no melhor patamar possível.

Nota: Para se ter ideia da grandiosidade dessa obra foram drenados 27 hectares.

Dando continuidade, Dr. Roberto comentou que a sua criação era muito artificial em consequência da má relação área de pastoreio/lotação. O que impedia uma maior vida ao ar livre, pois seus cavalos eram muito encocheirados. 

Consequentemente ele priorizava a utilização de éguas argentinas na reprodução, por entender que a rusticidade adquirida geração após geração por essas éguas, em uma criação totalmente a campo era transmitida a seus filhos e também funcionaria como contrapeso a seus garanhões importados da Europa.

Passível de discussão ou não a sua teoria, o fato é que o Haras Guanabara construiu seu enorme sucesso sobre éguas argentinas.

Outro haras brasileiro que seguiu a "fórmula Seabra", foi o Rosa do Sul. Quem pode esquecer Dark Brown (Nogueira, Arg), Big Lark (Snow England, Arg), Damping Wave (Teresa, Arg), Imprudent Lark (Prudente, Arg), Ecoute (Mystere, Arg), etc.

A lista de ótimos parelheiros nacionais filhos de éguas argentinas é imensa, citamos: Maki, Grimaldi, Veraneio, Thignon Boy, Gorylla, Jex, License To Run, Coquetel, Rafaga Surena, etc. 

Obs. Rafaga Surena nasceu na Argentina mas veio ao pé de sua mãe.

São descendentes de éguas argentinas a partir da segunda mãe Clackson, Giant, Daião, Quick Road, Fitz Emilius, Duplex, Emerald Hill, Sunset, Dono da Raia, Flying Finn, Quari Bravo, Timão, Zuido, Heliaco, Corejada, Donética, Kenético, Xin Xu Lin, Cacique Negro, Canzone, Plenty of Kicks, Glória de Campeão, Abu Dhabi, George Washington, Voador Magee, Olympic Korchnoi, Fanciful, Gaivina, Bien Sureno, Doutor Sureno, Raptor's, etc.

Os criadores japoneses são reconhecidos por contratarem escritórios especializados para pesquisar as ancestralidades dos puro-sangues em todo o mundo. Eles se orgulham de sua lição de casa, lembram-se de padrões especiais de consanguinidade e linhagens de sucesso nos pedigrees de atletas de alto desempenho e identificam os membros das famílias mais fortes produtoras de vencedores de grupo.

A Argentina tem sido um campo fértil para a criação japonesa, que lá adquire éguas black-type, e essas éguas de forma costumeira produzem atletas de alta classe.

Datono Fantasy, campeã 2 anos japonesa de 2018 e o campeão 3 anos de 2016, Satono Diamond, são exemplos desse sucesso. Podemos também, citar entre outros Satono Flag (vencedor dos G1 Japanese 2000 Guineas e Japanese St.Leger) - hoje garanhão no Haras Vacación, Resistencia (G1 Hanshin Juvenile Fillies), Hishi Iguazu (G2 Nakayama Kinen), Harper (G3 Daily Hai Queen Cup), Gratias (G3 Keisei Hai), Val d'Isere (G3 Nikkan Sports Sho Shinzan Kinen), etc. A vencedora do G1 Tokyo Yushun de 2019 Makahiki têm uma segunda mãe argentina.


P.S. Não podemos deixar de destacar que a oitava mãe do campeão europeu Vadeni é a argentina Lost Horizon, uma corredora clássica do Haras Comalal nascida em 1966.