quarta-feira, 4 de setembro de 2024

A importância das mães argentinas

 


Dulce, a primeira égua tríplice coroada do Brasil era filha da craque argentina Duty (GP Selección, G1).



Duty.


O sucesso das éguas argentinas em serviço na criação mundial é notório e não poderia ser diferente entre nós.

O haras mais icônico no Brasil na utilização dessas matrizes foi o Haras Guanabara, dos irmãos Roberto e Nelson Seabra. Foi partindo desses ventres que esse campo de criação obteve alguns dos seus indivíduos de maior êxito:

1 - Emerson - Coaraze em Empeñosa (Arg),

2 - Emoción - Orsenigo em Empeñosa (Arg),

3 - Empyreu - Coaraze em Empeñosa (Arg),

4 - Escorial - Orsenigo em Escoa (Arg),

5 - Dulce - Royal Forest em Duty (Arg),

6 - Loretta - Hunter's Moon em Lousiana (Arg),

7 - Bucarest - Birikil em Bumble Bee (Arg),

8 - Snooker - Bahram em Snobless (Arg),

9 - Rumor - Hunter's Moon e Rusticana (Arg),

10 - Honolulu - Felicitation em Honra (Arg),

11 - Huxley - Felicitation em Hurona (Arg),

12 - Francfort - Royal Forest em Francesca (Arg), etc.


Na década de 70 em primeiros estudos tal fato chamou a atenção. Dr. Roberto Seabra nunca se furtou em compartir seus conhecimentos, certo dia em visita à sua biblioteca perguntei: "Dr. Roberto, qual a razão do maior sucesso das éguas argentinas em detrimento das inglesas no seu haras"?

A explicação dada é que a propriedade que originou o Haras Guanabara possuía uma enorme várzea e foi sobre essa área que as pastagens foram formadas. Mas para tal, ela precisou ser drenada, para executar essa tarefa foi criada na propriedade uma fábrica de manilhas. Outra questão no Haras Guanabara era, que por razão de seus pastos estarem sobre solos drenados, havia necessidade de um maior cuidado agronômico dos mesmos para corrigir o alumínio trocável e manter sua fertilidade no melhor patamar possível.

Nota: Para se ter ideia da grandiosidade dessa obra foram drenados 27 hectares.

Dando continuidade, Dr. Roberto comentou que a sua criação era muito artificial em consequência da má relação área de pastoreio/lotação. O que impedia uma maior vida ao ar livre, pois seus cavalos eram muito encocheirados. 

Consequentemente ele priorizava a utilização de éguas argentinas na reprodução, por entender que a rusticidade adquirida geração após geração por essas éguas, em uma criação totalmente a campo era transmitida a seus filhos e também funcionaria como contrapeso a seus garanhões importados da Europa.

Passível de discussão ou não a sua teoria, o fato é que o Haras Guanabara construiu seu enorme sucesso sobre éguas argentinas.

Outro haras brasileiro que seguiu a "fórmula Seabra", foi o Rosa do Sul. Quem pode esquecer Dark Brown (Nogueira, Arg), Big Lark (Snow England, Arg), Damping Wave (Teresa, Arg), Imprudent Lark (Prudente, Arg), Ecoute (Mystere, Arg), etc.

A lista de ótimos parelheiros nacionais filhos de éguas argentinas é imensa, citamos: Maki, Grimaldi, Veraneio, Thignon Boy, Gorylla, Jex, License To Run, Coquetel, Rafaga Surena, etc. 

Obs. Rafaga Surena nasceu na Argentina mas veio ao pé de sua mãe.

São descendentes de éguas argentinas a partir da segunda mãe Clackson, Giant, Daião, Quick Road, Fitz Emilius, Duplex, Emerald Hill, Sunset, Dono da Raia, Flying Finn, Quari Bravo, Timão, Zuido, Heliaco, Corejada, Donética, Kenético, Xin Xu Lin, Cacique Negro, Canzone, Plenty of Kicks, Glória de Campeão, Abu Dhabi, George Washington, Voador Magee, Olympic Korchnoi, Fanciful, Gaivina, Bien Sureno, Doutor Sureno, Raptor's, etc.

Os criadores japoneses são reconhecidos por contratarem escritórios especializados para pesquisar as ancestralidades dos puro-sangues em todo o mundo. Eles se orgulham de sua lição de casa, lembram-se de padrões especiais de consanguinidade e linhagens de sucesso nos pedigrees de atletas de alto desempenho e identificam os membros das famílias mais fortes produtoras de vencedores de grupo.

A Argentina tem sido um campo fértil para a criação japonesa, que lá adquire éguas black-type, e essas éguas de forma costumeira produzem atletas de alta classe.

Datono Fantasy, campeã 2 anos japonesa de 2018 e o campeão 3 anos de 2016, Satono Diamond, são exemplos desse sucesso. Podemos também, citar entre outros Satono Flag (vencedor dos G1 Japanese 2000 Guineas e Japanese St.Leger) - hoje garanhão no Haras Vacación, Resistencia (G1 Hanshin Juvenile Fillies), Hishi Iguazu (G2 Nakayama Kinen), Harper (G3 Daily Hai Queen Cup), Gratias (G3 Keisei Hai), Val d'Isere (G3 Nikkan Sports Sho Shinzan Kinen), etc. A vencedora do G1 Tokyo Yushun de 2019 Makahiki têm uma segunda mãe argentina.


P.S. Não podemos deixar de destacar que a oitava mãe do campeão europeu Vadeni é a argentina Lost Horizon, uma corredora clássica do Haras Comalal nascida em 1966.