O dia de ouro do turfe peruano

1 - CLASICO ASOCIACION NACIONAL DE CRIADORES Y PROPIETARIOS DE CABALLOS PERUANOS DE PASO, 1000 metros, grama. 

Nota: Apesar de não ser grupada é considerada a prova máxima peruana, na grama, para sprinters.

Chalpon. Foto: Julio Villanueva

Chalpon, 20-9-5-2, S/. 81.752, por Yazamaan (Galileo) em Milandely por Tapit, é um tordilho peruano de 4 anos, criação do Haras Gina Santa Rosa e propriedade do Stud Amaranthe.

Extremamente versátil venceu nos 1000, 1200,1300, 1400, 1500 e 1800 metros, sempre na grama. São poucas as provas peruanas grupadas pela IRPAC para a pista de grama, portanto as oportunidades para Chalpon nas mesmas é muito restrita, o que não impede dele ser o quarto maior handicap de todos os cavalos em atividade no Peru.

Venceu o Cl. Pedro Garcia Miró (G.III,1800mG), foi 2º no Cl. Gustavo Prado Heudebert (G.III, 2000mG) e 3º no Cl. Claudio Fernández Conch (G.III,1600mG). Chalpon possui vitórias em provas locais não grupadas com premiação superior a muitas grupadas, algo que torna o turfe peruano muito peculiar. Nessas provas localmente consideradas como clássicas ele possui 5 vitórias, 4 segundos lugares e 2 terceiros lugares.

Chalpon é considerado pela crônica especializada peruana, o melhor cavalo em atividade no Peru até os 1800 metros.

Obs. Nessa prova correram 2 cavalos argentinos e 1 norte-americano.

2 - CLASICO POSTIN (G.II), 2400 metros, grama.

Forty Angela. Foto: Julio Villanueva

Forty Angela, 4-3-0-0, é uma argentina nascida em 2021 no Haras Vacación e propriedade do Stud Jet Set, por Fortify (Distorted Humor) e Itan de Hui por Roman Ruler. Ela representa a combinação Fortify - Roman Ruler que teoricamente se apresenta muito correta.

Antes do Cl. Postin, Forty Angela havia vencido o Cl. Oscar Berckemeyer Pazos (G.III, 2000mG).

Obs. No Cl. Postin correram 5 cavalos argentinos e 1 norte-americano. Sendo que a criação peruana ficou com a segunda e terceira colocações.

3 - CLASICO DERBY NACIONAL (G.I), 2400 metros, areia.

Magic Power. Foto: Julio Villanueva

Magic Power, 5-3-0-2, S/. 66.420, por Power World (Distorted Humor) e Verakai por Man of Iron é um alazão peruano de propriedade do Stud Valle Sagrado, nascido e criado no Haras San Pablo.

Com sua vitória no Derby Nacional, Magic Power consolidou a posição daqueles que o consideravam o melhor elemento da geração 2021. Tarefa difícil de ser confirmada, já que nessa prova estavam as presenças da potranca La Kika, doble coronada da geração, que acabou na segunda colocação; Santuario, vencedor da Polla de Potrillos (G.I, 1600mA) e cavalos já clássicos como Millenial Boy, Mikoyan e South Omar.

Anteriormente Magic Power foi terceiro no Cl. Ricardo Ortiz de Ceballos (G.I, 2000mA) e Polla de Potrillos (G.I, 1600mA).

Obs. Nessa prova correram 2 cavalos norte-americanos, 2 chilenos e 3 argentinos.

Há de se notar a prevalência da genética de Distorted Humor na hípica sul-americana. É estupendo o sucesso de seus filhos nos haras dessas plagas. Fortify na Argentina, Distorted Economy no Chile, Power World, Spin Master e Westow no Peru, Drosselmeyer e Public Speaker no Brasil deixam claro que Distorted Humor encontra na América do Sul um terreno propicio para a extensão de sua linha paterna. O paradoxo é que nos Estados Unidos seus filhos não conseguiram se destacar como garanhões.

Se existe uma característica comum é a precocidade na descendência dos filhos de Distorted Humor que  tiveram êxito nessa parte do mundo, com o dado, para nada menor, que logo estendem essa capacidade para correr também maiores distâncias, sem distinção de tipo de pista.

Consequentemente, qualquer filho de Distorted Humor, ainda em corrida nos Estados Unidos e que tenha apresentado campanha honesta, torna-se uma boa opção para qualquer haras sul-americano.

Alguns Haras peruanos:

Vista aérea do antigo Haras Barlovento - seção 2, Conchán, atual Haras Jet Set - Pope.

Haras El Embrujo, Chaclacayo.

Haras San Pablo, Irrigación Santa Rosa.

  

Haras Los Eucaliptos, San Vicente de Cañete.

Haras Gina Santa Rosa, Irrigación Santa Rosa.

 

Hipódromo de Monterrico.

Coastline, novo garanhão à serviço da criação brasileira

 

A criação brasileira recebeu o recente aporte de 3 garanhões,  Indestructible, World of Trouble e Coastline. Em artigo anterior tratamos de World of Trouble, agora comentaremos Coastline.

Coastline, fam. 3-c, é um filho de Speightstown em Culinary por El Amante. O ramo materno de Coastline remonta a Canicula, uma das maiores matriarcas da criação brasileira.

El Amante

Canicula foi uma vencedora da Polla de Potrancas - 1000 Guineas (Arg-G1) e seu ventre iniciou uma série de campeões, seu filho Maki - correu apenas 10 vezes, obtendo 6 vitórias e 2 colocações. Apesar de ter sofrido um acidente de treinamento no seu primeiro ano de campanha, foi um dos melhores da sua geração. Foi 3º  no GP Outono (2000 Guineas da época) e 2º colocado no GP Cruzeiro do Sul. Foi recordista dos 1800 metros na pista de areia no Hipódromo Brasileiro. Maki tornou-se destacado garanhão em sua época, pai de 12 Great Stakes winners. Além de Maki, Canicula também foi mãe de Halcyon (G2) e Queen Fairy (G2).

Podemos citar outros descendentes de Canicula e Great Stakes winners, Fantasie (G1), Fast Queen (G1), Ebbrezza (G1), Brigitte (G1), Toreador (G1), Heracleon (G1), Dominó (G1), Liberté (G1), Laurus (G1), Plenty of Kicks (G1), Amazon (G2), Aporema (G2), Speedy Gonzales (G2), Grigio (G2), Vice Reine (G3), Volupia (G3), Ouro Negro (G3), Dó-Ré-Mi (G3), etc.

Culinary, a mãe de Coastline, foi muito boa égua de pistas, além de precoce foi longeva, 20-5-4-1. Ganhadora na sua estreia aos 2 anos, nessa idade venceu o Arlington-Washington Lassie S. (G3). Posteriormente foi 1ª colocada no Sam Houston Distaff H. (BT) e Fur Sail H. (L), 2ª colocada no Dogwood Breeder's Cup S. (G3), Goddess S. (L) e Heavenly Cause S. (BT), 3ª Chou Croute Breeder's Cup H. (L), 4ª no La Troienne S. (G3) e Monmouth Breeder's Cup Oaks (G3). Volunteer, a segunda mãe de Coastline, foi uma vencedora que frequentou a esfera clássica, tendo sido 3ª colocada na Copa de Plata Roberto Vasquez Mansilla (Arg-G1) e 4ª no Gran Premio Enrique Acebal (Arg-G1).

El Amante, avô materno de Coastline, venceu o Flamingo S. (G3,1800mD) e o Salvatore Mile H. (G3, 1600mD), foi segundo colocado nos Commonwealth Breeder's Cup S. (G2, 1400mD), Illinois Derby (G2,1800mD), Iroquois S. (G3, 1600mD), Gulfstream Park Breeder's Sprint Championship H. (G3, 1400mD) e Tampa Bay Derby (G3, 1700mD), terceiro nos Churchill Downs H. (G3, 1400mD) e Kentucky Jockey Club S. (G3,1700mD).

El Amante com muito poucas oportunidades no haras, teve 81 filhos corridos obtendo 49 vencedores (60,49%). Além de Culinary foi pai de Josie G (2ª Tiffany Lass S., L), All Maxed Out (2º Riley Allison Futurity, L) e Lil Lover (3ª Yellow Rose S., BT). Pai de mães dos vencedores Coastline (BT) e Mr Grumpy Stripes (BT).

Como corredor Coastline, 39-5-5-7, além de saudável, apresentou velocidade e precocidade. Em suas quatro apresentações aos dois anos obteve duas vitórias e um segundo lugar, vencendo o Street Sense S. (BT,1600mD). Venceu também o Clocker's Corner S. (BT,1300mT), foi segundo colocado no San Carlos S. (G2,1400m,D) e Daytona S. (G3,1300mT), obteve ainda uma terceira colocação no Horseshoe Casino Cincinnati Spiral S. (G3,1800m,D).

Seu pai Speightstown foi 2004 Champion sprinter, teve na Breeder's Cup Sprint (G1) sua principal vitória. Como garanhão produziu, até a presente data, 144 Black-type winners, 6 campeões e 956 vencedores de 3488 corridas com prêmios de $ 161,284,950.

A linhagem da mãe de Coastline reúne na sua linha ventral fina flor da seleção Paula Machado (Haras São José & Expedictus) mais Forli, Kasteel - gigante genético argentino, e Icecapade via Wild Again e Ski Champ. 

Coastline possui assim, em sua genética materna, muita força de indivíduos adaptados a hípica sul-americana e ousamos dizer que  acreditamos que ele entregará mais que seu irmão paterno Sum of The Parts, anteriormente trazido para o Brasil e precocemente desaparecido.

Dirt, arenáticos e gramáticos

 

Victory is Ours, o melhor garanhão arenático do Brasil na atualidade.

Chronnos, outro grande garanhão potencialmente arenático à serviço da criação brasileira.

O que devemos ter claro em corridas de cavalo é que uma superfície de grama é grama em qualquer hipódromo do mundo, quer ele esteja no Brasil, Argentina, Inglaterra, França, Japão, África do Sul, Estados Unidos... mas superfícies de areia e de dirt são completamente distintas em qualquer hipódromo que as possua. Eventualmente pode haver hipódromos com certas similitudes, como exemplos, a areia da Gávea com a areia de Monterrico, o dirt de Belmont Park com a areia de Maroñas, La Plata e Palermo.

No turfe é conhecida a condição de alguns animais produzirem mais na pista de grama, outros na areia e outros no dirt. 

Primeiramente tem que ser considerada a estrutura física da pista, pois a mesma afeta o equilíbrio e a tração do indivíduo.  Pistas de dirt e areia são um grande obstáculo no comparativo a grama, pois oferecem mais tração do que a grama e essas pistas favorecem cavalos com velocidade explosiva.

Essas superfícies por serem mais firmes e abrasivas exigem do cavalo um maior desafio para sua adaptação a elas. Pistas mais duras como o dirt afetam a tração e estabilidade, exigindo mais resistência e tiros de velocidade.

Nas corridas de dirt ou areia, a genética enfatiza uma forte garupa que possibilite tração para arranques explosivos em contraste com a genética gramática, que tende a conservação de energia. Cavalos de dirt ou areia necessitam uma constituição muscular que possibilitem uma velocidade inicial forte e força para manter o ritmo nessas superfícies.

Já as genéticas gramáticas produzem indivíduos leves, com passadas suaves e longas, enquanto as genéticas de dirt ou areia produzem indivíduos com passadas curtas e poderosas. Mal comparando é como o torque em veículos automotivos, motor girador (gramáticos) e motor de força (arenáticos e 'dirteiros') para lidar com a superfície.

Cavalos com genética gramática tendem a serem longilíneos e com maior comprimento de patas, eles, com suas passadas largas, aumentam a dificuldade em manter o ritmo no dirt ou areia, sem se exaurirem rapidamente. A superfície de grama é mais macia e almofadada, o que exige cascos maiores e uma paleta mais forte para aceleração poderosa de posteriores.

As genéticas de dirt e areia entregam cavalos que levantam mais as patas em corrida, característica que oferece maior equilíbrio e coordenação, habilidades indispensáveis nessas superfícies. Outra característica dessas genéticas é possuir cascos menores e mais fortes, que possibilitam passadas mais profundas e curtas, já que passadas largas são menos eficientes na utilização de energia.

Superfícies de dirt, areia e grama possuem aderência e texturas diferentes, sendo as de dirt as mais rápidas, consequentemente genéticas de dirt são as mais resistentes em termos pulmonares. 

Outro fator a ser considerado é o kickback, uma dificuldade comum nas pistas de dirt e areia que pode afetar o desempenho dos cavalos. Essas superfícies produzem significativa quantidade de detritos lançados pelos líderes. Esses retrocessos podem ser desconfortáveis para muitos dos cavalos que seguem atrás, atrapalhando assim o ritmo e disposição dos mesmos para acompanhar o grupo, testando assim, suas capacidades de permanecerem competitivos. 

Inbreeding sobre Storm Cat

 

O estupendo sucesso de Storm Cat na reprodução deveu-se à sua precocidade e velocidade, mas a principal razão pela qual a consanguinidade com Storm Cat é buscada pelos técnicos de forma muito cuidadosa é que todos estão muito cientes de que, por melhor que Storm Cat tenha sido, ele foi obscurecido por transmitir fragilidades de joelhos, problemas de garganta e sangramento para sua prole. Assim, somos propensos a evitar a consanguinidade sobre ele por receio de potencializar a possibilidade de surgir um produto com problemas semelhantes.

Quando se planeja um acasalamento, obviamente queremos reproduzir as características que levam à excelência e ficar o mais longe possível de taras hereditárias, é extremamente importante que o produto seja durável para termos o vislumbre de atingir campanha clássica sem problemas físicos.

O grande erro na utilização de inbreedings é não considerar que essa é uma ferramenta para melhoramento genético animal e assim deve ser utilizada. No caso específico do PSI é muito comum encontrarmos em um pedigree consanguinidade sobre um ou vários indivíduos  e, que de forma geral, não passa apenas de um amontoado sem sentido de nomes.

Um exemplo que poderia ser dado é pensarmos em Danzig, o que ele fundamentalmente transmitiu e era buscado em sua prole? Em um hipotético exercício qual seria então, o sentido em se buscar consanguinidade sobre Danzig através de Dayjur e Danzig Connection?

Se não pensarmos  quanto da utilização de consanguinidade, na convergência de méritos comuns dos mensageiros utilizados na busca ao alvo ou alvos desejados, um resultado satisfatório dificilmente será alcançado. Foi somando qualidades comuns através de inbreedings  que o notável criador  Marcel Boussac  foi reconhecido por criar ‘uma raça dentro da raça’ em seu Haras de Fresnay-Le-Buffard.

O que devemos buscar quando procuramos  obter o melhor com a consanguinidade sobre Storm Cat? A resposta é simples, utilização de descendentes que apresentaram as características mais proeminentes de Storm Cat, ou seja, explosão de velocidade, musculatura de garupa, dorso e metacarpos curtos, e evidentemente que não tenham apresentado os problemas dominantes da estirpe.

World of Trouble

Tiger Heart

Forestry

Dentre algumas combinações consideradas ótimas para a linha Storm Cat, citamos, para ilustração, as linhagens de Rahy e Galileo como exemplos de éguas adequadas às suas características.

Giant's Causeway, Tiger Dance, Tumblebrutus, Roar of the Tiger e Freud, são todos frutos de Storm Cat com filhas de Rahy. As Storm Cat x Rahy com Galileo também sugerem indicar um bom caminho, Yoursothrilling, mãe de Gleneagles, campeão dois anos na Grã-Bretanha e destacado reprodutor, e Pearling, mãe de Decorated Knight, vencedor de G1 com mais de £1,326,618 e bom garanhão são exemplos. 

De Galileo diretamente com Storm Cat, temos Churchill (2000 Guineas , G1; Irish 2000 Guineas, G1, National S., G1 e destacado garanhão), Joan of Arc (Prix de Diane, G1), Ballydoyle (Prix Marcel Boussac, G1), Clemmie (Cheveley Park S., G1), Happily (Prix Jean-Luc Lagardere, G1; Moyglare Stud S., G1), Misty for Me (Irish 1000 Guineas, G1; Pretty Polly S., G1; Moyglare Stud S., G1), Marvellous  (Irish 2000 Guineas, G1) , etc.

Quanto a ótimos resultados da consanguinidade sobre Storm Cat podemos citar os vencedores de grupo Giant's Step (2x3), Last Gunfighter (3x3), Pepper Crown (3x3), Leave The Light On (3x4), Lady Aurelia (3x4), Early Voting (3x4), Gun Pilot (3x4), Harlan's Pure (3x4), Magic Power (3x4), Echo Zulu (4x4), Jack Christopher (4x4), Gun Song (4x4), Vahva (4x4x5), Ain't Easy (4x5), Wicked Halo (4x5), Pappacap (4x5), etc.  

O importante não é o grau de consanguinidade e sim se os méritos dos mensageiros são convergentes e estão sendo transmitidos nas gerações subsequentes.