terça-feira, 10 de julho de 2018

Um tema recorrente: Velocidade



Mercúrio, o deus romano da velocidade.


Na literatura turfística muito tem sido escrito sobre a velocidade no cavalo puro sangue de corrida. Infelizmente grande parte desses autores  confundem um aspecto fundamental, distância curta com velocidade. Animais velozes e vigorosos podem ganhar em distâncias mais longas - 2400 metros e 3000 metros ou mais -  e, nesse caso, a velocidade que importa é a demonstrada no último quarto da corrida. Esses exemplares com aceleração final de forma geral são bem sucedidos na reprodução. 

Existem velocistas, milheiros, cavalos clássicos e fundistas que são desprovidos de aceleração final. Esses indivíduos, no jargão do turfe são conhecidos por “sopeiros”, possuem uma só passada de corrida e quando vencedores, podem ser considerados como bons aproveitadores do ritmo imposto pelos adversários. Cavalos milheiros e velocistas desprovidos de aceleração final são simplesmente ligeiros e não velozes, os outros, apenas galopadores.

John Aiscan nos demonstrou que a aceleração final em cavalos de maior distância é sinônimo de vigor e que indivíduos dotados desse tipo de velocidade, são os exemplares com melhor constituição física dentro da raça. Alguns exemplos por ele fornecido para cavalos que suportavam distâncias longas com aceleração final são: Ribot, El Centauro, Sheshoon, Gallant Man, Neckar, Alycidon, Brantome e entre nós Waldmeister. Todos, além de terem sido vigorosos atletas equinos, se tornaram reprodutores de extremo sucesso, com seus filhos abordando uma grande gama de distâncias de forma eficaz. Indivíduos com mais stamina e aceleração final podem atuar bem sobre qualquer distância e gerar produtos de extrema flexibilidade corredora.




Nedawi.

Conseqüentemente, a antipatia que hoje se nota com os vencedores de 2400 metros e já conhecida para com stayers que cumprem suas funções na reprodução, principalmente quando dotados de aceleração final, não tem sentido, pois invariavelmente eles possuem mais vigor do que os velocistas, mesmo aqueles dotados de velocidade final.

O exemplo mais próximo de nós, que velocidade aliada a stamina é uma clássica fórmula para se obter sucesso com garanhões possui nome, NEDAWI. Notável semental a serviço do élevage nacional, um "distribuidor" de classicismo na mais pura acepção da palavra. Pai de 49 individuais ganhadores em provas de grupo, sendo 16 em G1, possuindo um índice de 6,21% em vencedores Black type, que o coloca no principal patamar dos reprodutores que já serviram no Brasil. 

Nedawi vencendo os 2.921 metros do St. Leger Stakes no muito bom tempo de 3:05.61.





Nessa prova Nedawi mostrou a forma clássica de correr dos grandes stayers, a de participar ativamente da corrida entre os primeiros, para arrematar o final em forte pointe de vitesse. A importação de Nedawi é devida ao saber do dr. Samir Abujamra, um dos grandes hipólogos que o turfe brasileiro produziu.


Dentre seus filhos podemos citar Didimo, GP Brasil, G1; Very Nice Moon, GP Immensity, G1; Generosidade, GP OSAF, G1; La Defense, GP Roberto e Nelson Seabra, G1; Right Idea, GP Diana, G1 ; Desejo Infinito, GP Henrique de Toledo Lara, G1; Parapatibum, GP Barão de Piracicaba, G1; Mr Nedawi, GP Paraná, G1; Fuco, GP Linneo de Paula Machado, G1, Core Business, GP Derby Paulista, G1, entre outros vencedores de provas de grupo.

Apesar de sua principal vitória ter sido em uma prova de fundo, Nedawi por se apresentar em corrida como um indivíduo dono de poderosa aceleração final foi capaz de produzir uma Ever Love, que venceu nos 1400 metros do GP Presidente Guilherme Ellis, G3; Cruzada Americana nos 1500 metros do GP João Cecílio Ferraz, G1; Quick As Ray nos 2000 metros do GP Diana, G1 e Faz de Conta nos 2400 metros do GP Zélia Peixoto de Castro, G1, isso ficando apenas em exemplos femininos. Os filhos de Nedawi venceram dos dois aos nove anos, dos 1000 aos 3200 metros, tanto na pista de grama como na de areia, o que evidencia de forma clara o vigor físico e a flexibilidade em distâncias transmitido por esse tipo de parelheiro. 

Há de se destacar que o melhor arenático brasileiro das últimas décadas Mr Nedawi também é seu filho. Mr Nedawi venceu por duas vezes o Dardo Rocha, 2400 m, G1-Arg e mais o Ramirez, 2400 m, G1-Ur, o que não é pouco feito.


Nedawi, confirma que a velha receita stamina com velocidade final é um dos caminhos para o sucesso na criação do PSI. As filhas de Nedawi podem ser comparadas ao mais fino diamante que se possa encontrar.