quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Cruzamentos, Boussac e Tesio


Frederico Tesio.

Outbred ou inbred? Essa é a pergunta que muitos criadores se fazem antes de elaborar as suas cartas de  monta. Sabemos que ambos os métodos funcionam, mas, atualmente é fácil constatar pelo gargalo genético da raça que um elevado percentual dos vencedores Gr.1 - segundo alguns autores aproximadamente 70% - possuem inbreedings na proporção 4 x 4 ou menos. Mas, infelizmente, esse excesso de consanguinidade tem cobrado seu preço a raça, quanto a saúde e longevidade atlética de seus indivíduos. Se optarmos em seguir a linha inbred a verdadeira questão é: Para minha égua qual inbreeding poderia ser realmente favorável?

O estudo dos inbreedings pode ser classificado para o PSI em 3 categorias:

1 - Positivo, que são os cruzamentos provados em nível mais alto e com um percentual de sucesso maior que a média da raça. Northern Dancer seria aqui o exemplo.

2 - Neutro, aqueles inbreedings que não são percentualmente determinantes, mas, também não podem ser considerados como a serem evitados.

3 - Negativo, são as consanguinidades que devem ser evitadas em razão de percentualmente já terem se provados como ineficientes, quer quanto a desempenho, quer quanto a saúde do indivíduo. Um exemplo clássico de inbreeding negativo foi o praticado sobre Storm Cat, que nunca produziu nenhum vencedor de Gr.1. Storm Cat é um reconhecido transmissor de qualidade, mas também em transmitir problemas respiratórios, de anteriores e de caráter, a sua duplicação se mostrou uma péssima escolha na tentativa de se obter bons resultados. 

Consequentemente os inbreedings, tanto masculinos ou femininos, a se objetivar em um cruzamento, devem ser analisados sobre diversos parâmetros, para assim, procurarmos minimizar ao máximo as chances de erro. 

Outra vertente que pode ser considerada é a utilização de nicks, e assim, como os inbreedings podem ser divididos em Positivos, Neutros e Negativos. Um aspecto fundamental, também a ser observado, é o cuidado quanto a utilização de nicks clássicos em produzir elementos de sucesso, alguns comprovadamente reconhecidos como transmissores de problemas de saúde, quando praticados através da combinação de determinados mensageiros. Nasrullah x Princequillo é um nick clássico positivo para performance e saúde, já, Northern Dancer x Mr Prospector serve como duplo exemplo, o de tanto poder transmitir alta classe como também elevada possibilidade na transmissão de fragilidade em locomotores. No lado oposto temos Northern Dancer x Bold Ruler, um conhecido exemplo de nick negativo quanto a performance, mas positivo quanto a saúde.

Tanto para nicks como inbreedings entendemos como primeiro pilar, o estudo à luz da Tipologia Funcional no relacionado aos mensageiros envolvidos, pois no final o que vale é a combinação de características e não o antagonismo das mesmas ... 

Outro método muito utilizado e procurado por grande número de criadores é o cruzamento entre garanhões provenientes da mesma família materna próxima, e cuja eficácia tem sido comprovada ao longo dos anos. Podemos citar como exemplos passados Sadler's Wells x Nureyev (ambos fam. 5-h), Danehill x Machiavellian (ambos fam. 2-d), Mr Prospector x Seattle Slew (ambos 13-c), Nijinsky x The Minstrel (ambos fam. 8-f), ou vice-versa. 

Marcelo Augusto da Silva recentemente nos apresentou seu muito importante estudo nomeado "REAPROXIMAÇÃO FAMILIAR". Onde pode ser citado como exemplo bem elucidativo de um animal "superestruturado" em uma família materna o de Glória de Campeão, no caso a família 3.

O Outcross, na visão de grandes criadores do passado como Roberto Grimaldi Seabra e Francisco Eduardo de Paula Machado era um aspecto fundamental a ser perseguido para se obter indivíduos mais saudáveis pela influência da heterose. A busca da abertura de pedigrees em suas três primeiras gerações, sempre foi e continua a ser o norte do élevage Aga Khan, no passado com seus fundamentos baseados em Vuiller e hoje com influencias da TIPOLOGIA FUNCIONAL. Mas, sem nunca esquecer o lema de sua criação: "Velocidade, velocidade e mais velocidade."

Cruzamentos Fórmula 1 clássico (método que se baseia na duplicação do DNA mitocondrial, e o que cabe aqui é a potencialização dessa "usina de força" celular), inbreedings tipo RF, exploração de Pontos de força, utilização de cruzamentos TML (Tail-male linebreeding), X-Factor, reaproximação e/ou superestruturação familiar, acasalamentos entre semelhantes ou desemelhantes, quer sejam endógamos ou exógamos...  o universo no qual podemos divagar na busca do craque PSI não possui limite.



Marcel Boussac e S.A. Aga Khan IV.


O grande criador Marcel Boussac, era eclético em seus cruzamentos, ia desde uma rara endogamia estreita, Coronation (2 x 2 sobre Tourbillon) até cruzamentos 100% abertos como o nosso conhecido Pharas, ou muito abertos, como Coaraze, um 5 x 5 em St. Simon. Estudar as nuances e os tipos de cruzamentos Boussac é uma grande escola para quem gosta do tema, justamente por eles oferecerem ecletismo em pensamento. O pressuposto de que Boussac era um praticante contumaz de inbreedings fechados ou muito fechados, e que essa era uma rotina em Fresnay-le-Buffard é um equívoco, uma breve análise de seus ganhadores de elite assim o evidencia.

De forma geral, elevada consanguinidade como 2 x 2, 2 x 3 e 3 x 3, ou mesmo, os mais suaves 2 x 4, 2 x 5, 3 x 4 e 3 x 5 podem produzir um grande cavalo. Mas, a história do PSI nos leva a compreender que cruzamentos 4 x 4, 4 x 5 e 5 x 5 estão mais próximos do ideal. 

Tomando 4 chefs-de-race como exemplos, vemos que Seattle Slew é 4 x 4 em Nasrullah, Mr. Prospector é 4 x 5 em Teddy, Northern Dancer é 4 x 5 em Gainsborough e Nijinsky que é 5 x 5 em Phalaris e 5 x 5 em Selene.

O genial criador Frederico Tesio, observou em seus estudos que nenhuma linhagem masculina conseguia vencer o Derby de Epsom por mais de 3 gerações consecutivas e percebeu que existia um fluxo e refluxo de grandes linhas de garanhões, e as que se encontravam em hibernação também necessitavam ser exploradas.  Passando, por essa razão, a utilizar sistematicamente o linebreeding sobre essas linhas a partir da quarta geração e assim justificava:

 "...embora não possamos reduzir o número de ancestrais de um cavalo, podemos selecionar seus pais de uma forma onde um ancestral em particular irá ocupar mais de um lugar em seu pedigree, garantindo assim, uma grande probabilidade de que certas características desejadas sejam herdadas." 

Um exemplo da filosofia tesiana no encaminhamento de cruzamentos é Ribot, invicto em 16 carreiras, um vencedor de 2 Arcos do Triunfo e do King Georde VI and Queen Elizabeth. Ribot é um indivíduo outcrossed até a quinta geração e linebred sobre St. Simon em suas gerações 6, 7, 8 e 9 somados a outros linebreds distantes, como é possível ver em seu pedigree.






Tudo indica que provavelmente a maneira mais segura para incluir traços desejáveis seja o uso de múltiplos padrões de alinhamento, tendo como início a quarta geração e a partir dela. O que poderíamos chamar de um linebreeding "profundo", método adotado atualmente pelo élevage de S.A. Aga Khan IV.

Busquemos novamente no passado alguns exemplos além de Ribot:

- Nearco - 5 x 4 x 4 x 5 sobre St. Simon,
- Brigadier Gerard - 6 x 7 x 6 x 6 x 4 sobre Phalaris,
- Citation - 5 x 6 x 5 x 4 sobre St. Simon e
- Affirmed - 5 x 5 x 6 x 7 x 6 em Teddy.

Tesio era único em seu método, tendo formado seu plantel de matrizes a partir de éguas "fora do mercado", sem maior valor comercial por possuírem pedigrees considerados pela maioria dos criadores como "fora de moda". De forma geral essas éguas, como Varola escreveu em seu livro The Tesio Myth, mesmo quando corredoras sem maior expressão possuíam grandes ancestrais clássicos, pelo menos, entre as suas quarta e oitava geração. O seu fundamento básico era a concentração de sangue exponencial a partir da quarta geração, conseguindo assim, a possibilidade em se obter "bons" genes e trazendo importante heterose até a sua terceira geração.

Mas, de fato, toda essa busca pelo cavalo ideal se resume em uma passagem de Frederico Tesio:

"...o meu objetivo é errar no máximo sete a oito, em dez acasalamentos, já que meus concorrentes inevitavelmente erram nove, quando não os dez."

O nosso entendimento para o sucesso na criação do PSI, baseia-se na correta escolha dos ancestrais com os quais se pretende construir o grande vencedor, e acreditamos que tanto possa ser através de linhas abertas, como por endogamia leve ou estreita. Nos filiamos ao ecletismo de Marcel Boussac. Mas, na verdade, além da expertise, é o "feeling", como dizia Roberto Seabra, a alma da atividade. 


"A escolha correta é tarefa para os experts, para aqueles que conseguem ver onde a maioria não enxerga. Ou, para os artistas, como FREDERICO TESIO."
                                                                                                                                         Franco Varola


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