Procurar aprender com os grandes mestres do passado, e não aceitar simplesmente por aceitar como dogmas, doutrinações particulares que pretendem indicar único rumo aceitável no estudo de um futuro cruzamento, é aspecto fundamental para se poder filtrar a essência do tema.
Apresentamos abaixo cópia, de nossa tradução, de apontamento original escrito pelo Dr. Franco Varola. Além de grande amigo, o Dr. Varola foi inquestionavelmente o mais fidedigno interlocutor de Tesio, e por consequência totalmente gabaritado para "explicar" a filosofia Tesiana de criação, bem como, aportar seus próprios conceitos quanto ao estudado.
O artigo do Dr. Franco Varola, mesmo tendo sido escrito no passado, continua atual e é um alerta para o cuidado a ser tomado com a febre dos tempos modernos quanto a nicks e inbreedings, sobre determinados garanhões, sem se analisar a tipologia funcional dos mensageiros envolvidos. Afinal, o que vale é a combinação de características.
Inbreeding, Outcross e Tesio
Uma das questões fundamentais da criação do cavalo de puro sangue de
corrida é a da utilização do
inbreeding. O que será melhor, esse método de seleção ou o outcross?
Havresac II.
Havresac II,
foi o maior exemplo de garanhão
com forte inbreeding que
prestou serviços na Itália, era um 2 x 3 em St.Simon; seu pai Rabelais era filho
de St.Simon, enquanto que
sua mãe Hors Concours era filha de Simona, esta por sua vez filha também de St.Simon.
Esse grau de consangüinidade é,
praticamente o mais fácil de ser praticado na
atualidade; foi repetido por TESIO com
Naucide que era 2 x 3 sobre
Havresac II ( Bellini – Cavaliere d’Arpino – Havresac II e Nogara - Havresac II ),
com resultado total de
5 x 7 x 4 x 5 em St.Simon.
Certo que existe o
inbreeding 2 x 2, ou seja, quando o
pai e a mãe são filhos ou do
mesmo pai ou da mesma mãe. Mas é muito raro, ainda que possamos citar os exemplos de
Coronation, de BOUSSAC,
por Djebel – Tourbillon em Esmeralda – Tourbillon e também Tanaka, de TESIO, por
Tenerani – Tofanella em
Tokamuro – Tofanella.
Essa questão do inbreeding
sempre foi uma das mais debatidas e como as questões relativas ao puro sangue de
corrida, sempre deu lugar
a juízos extremos. Há ardentes defensores do inbreeding, como há opositores do
mesmo. Creio que, uns e outros,
exageram, e torna-se necessário colocar as coisas em sua justa perspectiva.
Não estamos aqui para
explicar as bases genéticas do
inbreeding, isto é, a repetição
de um antepassado comum no pedigree, com a esperança de que as qualidades deste
sejam exaltadas pela união
de genes afins; considerado fator hipotético, presente nos cromossomos, e
explicativo das leis da herança,
pois entendemos que tais noções sejam suficientemente conhecidas pelos criadores. Digo, no entanto, que
se o inbreeding consiste
nisso, seria absurdo investigar o modo de
evitá-lo de todo, porque se cairia em contradição a respeito das finalidades que se
procuram, pois afinal
essa é uma raça com livro genealógico fechado.
Nas origens da raça, se tomarmos como base os 3 fundadores machos e as 50 fundadoras fêmeas, ou mais até de 50 segundo estudos recentes; veremos que é inevitável algum grau de parentesco.
Nas origens da raça, se tomarmos como base os 3 fundadores machos e as 50 fundadoras fêmeas, ou mais até de 50 segundo estudos recentes; veremos que é inevitável algum grau de parentesco.
Se o número dos sujeitos do cruzamento
é limitado, não se pode evitar o
inbreeding; tornando-se apenas uma questão de que em qual grau
existe algum parentesco. Trata-se, pois, de uma
questão de medida, entendemos dizer na prática, que o mesmo número não se
encontra duas vezes nas primeiras cinco gerações de
seu pedigree quando dizemos que o cavalo é de
cruzamento livre ou em outras palavras mais claras, que seus
2 + 4 + 8 + 16 + 32 = 62 antepassados, são indivíduos
diferentes um do outro e, ao contrário , quando
dizemos que um cavalo é inbred, entendemos dizer, que
um mesmo nome se repete duas ou mais vezes no espaço
compreendido entre a primeira e a quinta geração, isto é,
62 antepassados mais próximos não são 62 indivíduos
diferentes.
Dito isto, e posto que o criador de nossos dias
dado o grande desenvolvimento quantitativo da raça,
possui o privilégio, negado a seu colega de há 200 anos atrás, de
utilizar ou não o inbreeding, restando verificar
porque ele,deveria, ou não, regular-se desse
modo. Não devemos
esquecer que criamos essa raça eqüina para fazê-la correr,
e que insistir sobre um determinado animal pode significar somente que se quer aumentar a probabilidade de fixar as suas qualidades que são consideradas úteis.
esquecer que criamos essa raça eqüina para fazê-la correr,
e que insistir sobre um determinado animal pode significar somente que se quer aumentar a probabilidade de fixar as suas qualidades que são consideradas úteis.
Nesse sentido devemos admitir
que os criadores do passado, utilizaram de muito o
inbreeding, e isso era necessário para se fixar as
características funcionais da raça, priorizando assim a presença dos
indivíduos mais corredores nos pedigrees. Desta
maneira, foram obtidos alguns dos melhores corredores e
reprodutores do século XIX, Galopin era inbred 3 x 3 sobre
seu bisavô paterno Voltaire, e consequentemente, seu filho St.Simon, também
era portador dessa duplicação 4 x 4 sobre o mesmo indivíduo que, nesse
caso, era seu trisavô. Pode-se compreender bem que
um exemplar inbred por sua vez, sobre St.Simon ( como
Havresac II ) leva dentro de si uma concentração desse
sangue que é absolutamente excepcional e o fato de
que tenha sido um bom corredor, é sinal de que o inbreeding
é um fator positivo na seleção. Recordemos aqui, que
também Pharos, Nearco, Hyperion e Blue Peter, eram
inbred sobre St.Simon. Tudo o exposto acima, não
significa que o criador deva fazer o inbreeding apenas pelo prazer
de fazê-lo.
St. Simon.
Como é fácil notar, a simples presença de uns nomes em um pedigree não diz nada, se não se
sabe o que representam esses nomes. Para se fazer
inbreedings é mister, antes de tudo, saber o que representa
o sujeito que se quer repetir no pedigree e através de quem ele é buscado.
Sobre questões que se referem á melhores exemplos podemos
extrair no estudo dos métodos de FREDERICO TESIO.
Examinemos
o pedigree de Braque, um dos muitos que podem servir
a esse fim. Notaremos que na quarta geração figura
duas vezes o nome de Hurry On. Isso não significa que TESIO
haja querido fazer um inbreeding sobre Hurry On, através
de Coronach e Althea. Mas, analisando a fundo,
vemos que esse pedigree aparece como uma construção
admirável baseada sobre grandes linhas clássicas. Os
quatro pais de terceira geração são: Ortello,
Coronach, Blenheim e
Pharos; e as quatro mães, são as “
Dormelleanas " Tempesta, Nogara, Althea e Bunworry.
Esta simetria de garanhões consagrados e de grandes
êxitos e éguas da casa não são outra coisa do que um exemplo
sintético da habilidade e da perseverança com que
TESIO chegou a construir seus próprios pedigrees e
notemos, sem preocupar-se excessivamente no
abstrato de fazer uns inbreedings e outros outcrosses, mas
tomando cuidado em recolher o melhor sangue disponível da
praça, misturando-o de novo em combinações sempre mais
substanciais. Nota-se também, e é incidentalmente prova da difícil matéria de que estamos tratando, que
Braque, se
assemelhava muito a Hurry On, porquanto se pode afirmar que
ele se assemelhou a seu pai Antonio Canale, que é um
elemento livre de inbred. O próprio TESIO afirmou que em
Braque a presença consecutiva de Hurry On fora casual.
assemelhava muito a Hurry On, porquanto se pode afirmar que
ele se assemelhou a seu pai Antonio Canale, que é um
elemento livre de inbred. O próprio TESIO afirmou que em
Braque a presença consecutiva de Hurry On fora casual.
A maioria dos pedigrees TESIANOS
apresenta essa
admirável variedade na unidade, devido precisamente ao
cuidado de TESIO em procurar sempre e onde estivesse o
melhor sangue, e aqui é oportuno observar que os
conceitos de inbreeding e de outcross tem mais do que
outro, um valor ambiental e geográfico; como já
afirmamos, o criador inglês, francês, pode gastar parte de
seu tempo em investigar combinações particulares de
sangue, enquanto que o italiano ( leia-se TESIO ) se
preocupa de levar a sua casa tudo do melhor que possa
conseguir.
admirável variedade na unidade, devido precisamente ao
cuidado de TESIO em procurar sempre e onde estivesse o
melhor sangue, e aqui é oportuno observar que os
conceitos de inbreeding e de outcross tem mais do que
outro, um valor ambiental e geográfico; como já
afirmamos, o criador inglês, francês, pode gastar parte de
seu tempo em investigar combinações particulares de
sangue, enquanto que o italiano ( leia-se TESIO ) se
preocupa de levar a sua casa tudo do melhor que possa
conseguir.
Frederico Tesio.
Não gostaria que essas
considerações pudessem dar a impressão de que o cálculo do
inbreeding ou do outcross não tenha nenhuma importância; digo
somente que não se pode aceitar um fetiche, nem de um, nem de
outro, tendo o cuidado de não se tomar literalmente
as teorias que se lançam de vez em quando e que
normalmente possuem o
defeito de uma excessiva rigidez dogmática. O fato é, que
o inbreeding e o outcross são dois momentos da produção, de igual importância, e em última análise é o criador que deve julgar se é o caso de orientar-se em um sentido ou em outro. Trata-se de conceitos que valem somente se são vistos na perspectiva do momento em que se executa.
defeito de uma excessiva rigidez dogmática. O fato é, que
o inbreeding e o outcross são dois momentos da produção, de igual importância, e em última análise é o criador que deve julgar se é o caso de orientar-se em um sentido ou em outro. Trata-se de conceitos que valem somente se são vistos na perspectiva do momento em que se executa.
Por outro lado, não tememos a
formar, que de sua mais ou menos rigorosa planificação
dos cruzamentos depende, em última análise, a
prosperidade da criação e sua possibilidade de manter-se em um
nível internacional. Amiúde, temos lido
certas listas destinadas a garanhões e nos indagamos quais
critérios presidiram á seleção ... Alguns criadores, mais
perspicazes, após uma investigação de equilíbrio entre as
qualidades físicas e morais do garanhão e da égua, fruto de
raciocínio formal, fazem as escolhas. Quase
sempre uma solução de momento, sem pensar que aquele
cruzamento formará um dia, um esquema mais amplo.
Vejamos agora, 50 garanhões dos mais
importantes das últimas décadas, dentro do ponto de
vista inbreeding e
outcross, eles se dividem nos seguintes grupos:
outcross, eles se dividem nos seguintes grupos:
A –
Inbred sobre antepassados na linha
direta masculina,
Havresac II, Blandford, Blenheim, Bois Roussel, Rock Sand,
Orby, Solario, Panorama, Pharis e Alycidon.
Havresac II, Blandford, Blenheim, Bois Roussel, Rock Sand,
Orby, Solario, Panorama, Pharis e Alycidon.
B – Inbred
sobre outro nominativo, The Tetrarch, Son-in-Law, Gainsborough, Pharos, Spearmint, Tourbillon, Asterus,
Congreve, Fairway, Hyperion, Nearco, Bayardo, La Farina,
Ortello, Donatello II, Bahram, King Salmon, Phalaris e Big Game.
C – Inbred sobre nominativo e com pai inbred: Oleander.
D – Cruzamento
livre: Teddy, Bull Lea, Ticino, Nasrullah, Chaucer,
Rabelais,Cicero, Tetratema, Dark Ronald, Fair Play,
Swynford, Alcantara II, Sunstar, Black Toney, Chateau
Bouscaut, Prince Rose, Admiral Drake, Hurry On, Fair Trial e
Precipitation.
Note-se a
curiosa situação de Oleander, que é
bastante típica da criação alemã. O cruzamento Oleander –
Ostana ( égua clássica italiana ) por contraste, deu
lugar ao cruzamento livre Orsenigo, que por sua vez obteve
seus melhores resultados com éguas também de
cruzamento livre. Isso não prova absolutamente nada, mas
demonstra o movimento pendular dos termos inbred e outcross.
Também não prova nada a constatação de que entre os 50
garanhões acima mencionados, haja 30 inbred contra somente 20 outcross. Especialmente no patamar mais clássico
da criação inglesa é muito mais fácil fazer um inbreeding
do que evitá-lo, por isso, quase todos os cavalos são
inbred, e somente são lembrados os que deram resultados, convenientemente não afloram
á mente as centenas ou milhares de produtos inbred que nunca
se destacaram, nem em corrida nem em criação.
O mesmo
raciocínio serve para os outcross. Em nossa larga resenha
de grandes garanhões, falamos de animais
pequenos, como Hyperion e grandes como Hurry On; férteis como
Sunstar e praticamente estéreis como The
Tetrarch; pacíficos como Gainsborough e intratáveis como
Nasrullah; filhos de pais excelsos como Alcydon ( Donatello II )
e filhos de pais modestos como Bayardo ( Bay Ronald ),
belos como Pharis e feios como Admiral Drake; preciosos
com Cicero e duradouros como Son-in-Law;
anatomicamente perfeitos como Bahram e defeituosos como Blandford e,
sem embargo, cada um deles contribuiu para o
desenvolvimento da
raça. Em substância, estudar e não sentenciar deve ser o
dote do criador.
raça. Em substância, estudar e não sentenciar deve ser o
dote do criador.