sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Teoria de Dosagens Racionais - VUILLIER




O eixo da "Teoria das Dosagens Racionais" do tenente-coronel francês Jean Joseph Vuillier ainda é hoje utilizado por escritórios de consultoria e por staffs de alguns criadores de ponta na Europa, Japão e Austrália, como mais uma ferramenta de apoio para a busca do grande craque. Com o advento da possibilidade de programação computacional, hipólogos utilizam o pensamento de Vuillier, para compor dentro de seus entendimentos suas respectivas séries, para através desse método, chegar a cruzamentos considerados mais ajustados. 

No Brasil, mestre Atualpa Soares foi o grande especialista do sistema Vuillier e o aplicava, em sua metodologia original, nos seus estudos para as Cartas de Monta dos Haras Mondesir e Itaiassu de A. J. Peixoto de Castro Junior. 



TEORIA DAS DOSAGENS RACIONAIS

“A seleção de um reprodutor para determinada matriz, deve ser indicada por sua capacidade para corrigir excessos ou deficiências pelas presenças de Chefes de Raça do passado, no pedigree da égua. Consequentemente, trazendo o pedigree do produto planejado, o mais próximo possível da dosagem recomendada”.

Essa teoria é também conhecida como de Lottery, pseudônimo que adotou seu autor, o Ten. Cel. J. J. Vuillier e foi exposta ao público em 1902 através de seu livro "Les Croisements Rationnels dans la Race Pure". Segundo Vuillier , em um determinado indivíduo são influentes seus antepassados até a duodécima (12a) geração. Ao reconstruirmos um pedigree quando alcançarmos essa geração teremos o número total de 4096 nomes. 

Esse número 4096 foi utilizado por Vuillier como denominador comum para determinar a "dose de sangue" que um determinado cavalo possui em relação aos antepassados que figuram em seu pedigree.    

A teoria é simples. Segundo Vuillier, todo cavalo possui em sua linhagem completa 4096/4096 avos. A metade desse "sangue" proveniente de seu pai e a outra metade de sua mãe. Consequentemente a "dose" que seu pai deve aportar ao filho é de 2048/4096 avos. Para deixar claro o método, se considerarmos que o pai seja também avô materno o produto terá aportada uma "dose" de 1024/4096 avos, portanto o cavalo investigado terá 3072/4096 avos desse sangue, número que representa o somatório das doses assinaladas. Esse mesmo procedimento se aplica até se chegar a décima-segunda geração, onde os indivíduos que nela figuram aportam uma "dose" de 1/4096 avos. Esse cálculo total de dosagem é hoje obtido através de programas de computação.

Para traçarmos um paralelo que permita, na atualidade, a utilização da teoria de Vuillier, temos que compreender que os mapas de dosagens originais ficaram para trás ao longo dos anos e com o surgimento de  novos indivíduos na gravitação da raça. Tal fato é o que permite aos hipólogos modernos criarem, dentro de seus conceitos individuais, suas tábuas de DOSAGENS RACIONAIS com aqueles indivíduos que em seu julgamento podem ser alçados a chefs de race ou reines de course . Consequentemente a aplicação moderna da Teoria das Dosagens Racionais  depende da finesse técnica do hipólogo ao selecionar o que dentro da sua avaliação pode pesar em um pedigree quanto  aos diversos aspectos de transmissão da herança.

Como uma explicação, en passant , para  nossos leitores que caso queiram estudar e aplicar o método em suas análises de cruzamento, comentamos que Vuillier analisou o pedigree dos melhores cavalos que existiram em diferentes épocas, um total de 654 ganhadores clássicos da Inglaterra, e estabeleceu que certos nomes se repetiam de forma sistemáticamente constante. Concluiu que esses animais influiam em menor ou maior grau para o bom desempenho dos indivíduos que os levavam. Em base da localização no pedigree em que apareciam foi determinando suas "dosagens" segundo o método acima explicado. 

Vuillier criou três séries divididas entre um total de 15 reprodutores e uma matriz, posteriormente aumentada para 5 séries com mais 5 animais. Esses indivíduos foram estatisticamente, os que mais contribuiram, por sua progênie, quanto a produção de classicismo em todo o período estudado. Em 1925 Vuillier publicou uma nova série contando com 6 novos garanhões, totalizando um número de 6 séries. Cada série é formada por variáveis números de raízes (cavalos) oriundas dos reprodutores que a compõe. E essas, por sua vez, subdivididas em variáveis números de linhas (cavalos), tudo considerando comportamento aptitudinal em competição, aplicando daí o que ele intitulou sistema de melhora . O objetivo era conduzir os cruzamentos de forma que os produtos estivessem mais proximos as dosagens ideais do que estavam seus pais. O que Vuillier define como "Écart de Dosage"  que é a diferença que tem um determinado cavalo com a dosagem ideal recomendada. 

Para maior clareza a nossos leitores, suponhamos que, atualmente, um garanhão X possui um aporte de 380 sobre Halo. Terá um "écart" de 40 sobre esse chefe de raça, já que o aporte ideal para Halo deve ser 420. Assim sendo, procurar-se-á, uma égua adequada que reduza o "écart" para se obter um indivíduo mais equilibrado. O mesmo deve ser feito com cada um dos demais integrantes da série - que cada hipólogo criou dentro de sua compreensão técnica. A soma das diferenças individuais de cada série forma o "écart" total da mesma. Como ressaltamos anteriormente a teoria de Vuillier é um conceito, que atualmente cada hipólogo trabalha dentro de seu pensamento, quanto a qualidade dos ancestrais por ele selecionados para os seus mapas de dosagens


Halo


Vuillier ressalta que essa metodologia é apenas uma ferramenta com a  qual se busca maiores chances para se obter sucesso e que não é uma fórmula mágica que o determine. Cita exemplo como o de Oakland, um craque em sua época, que tinha o mesmo sangue e consequentemente a mesma dosagem de seu irmão próprio Malevage, que foi um corredor inútil. Caloria, por sua parte, ganhadora de muitos clássicos foi o melhor elemento de sua geração. Era irmã inteira de Cruz de Malta, que nunca saiu dos perdedores. Um filho de Oakland e Caloria teria exatamente a mesma dosagem de um filho de Malevage e Cruz de Malta. Mas qualquer técnico com equilibrado critério rechaçaria uma comparação como essa. Para Vuillier a qualidade do indivíduo é essencial, portanto recomenda em sua obra que o indivíduo não tenha apenas origem seleta mas que ao mesmo tempo tenha provado em pistas algum tipo de qualidade. Outra importante recomendação de Vuillier era a de se evitar consanguinidades incestuosas e aproveitar convenientemente o vigor juvenil da raça. Como podemos ver são posições lógicas e razoáveis. 

Vuillier, em seu livro, cita a precaução em não se permanecer aferrado as dosagens ideais por ele recomendadas. Pelo contrário, o criador criterioso deveria estar atento aos novos grandes animais que surgiam na constelação do turfe e endereçar a eles novos cruzamentos.

Sob essa versatilidade de pensamentos, Vuillier e em seu falecimento, sua esposa Germaine Vuillier, foram os responsáveis técnicos da criação Aga Khan III e a conduziu ao grandioso sucesso através do surgimento de nomes estrelares como os de Tulyar, Bahram, Blenheim, Mahmoud, My Love, Palestine, Umidwar, Sandjar, Dastur, Gallant Man, Majideh, Turkhan, Firdaussi, Taj Akbar, Nasrullah, Khaled, Saint Crespin, Sheshoon, Alibhai, Charlottesville, Migoli, Theresina, Salmon Trout, Ujiji, Rustom Pasha, Noor, Qurrat-Al-Ain, Masaka, Nathoo, Brownhylda, Petite Étoile, Hindostan, Selim Hassan, Udaipur, Ut Majeur, Umiddad, Eclair, Emali, Pherozshah e outros.