segunda-feira, 1 de maio de 2023

Runhappy e Nyquist - os disruptores norte-americanos

 


Franco Varola e John Aiscan, afirmavam que o PSI, em alguns aspectos, é uma expressão de sua adaptação geográfica. E Varola ia além, dizia que o cavalo de corrida se comporta como uma consequência de seu nacionalismo.

Varola tratou do tema no seu livro "The Functional Development of Thoroughbred" e também em artigos publicados na revista Turfe e Fomento, um marco do turfe brasileiro que infelizmente sofreu solução de continuidade. 

Conceitualmente, Varola definiu, que o puro-sangue na Inglaterra é caracterizado por seu caráter pragmático e profissional, são especialistas; o PSI francês e o brasileiro são descritos por sua souplesse e consequentemente são ecléticos, dificilmente existe o paradigma ou o especialista; o PSI alemão por sua sobriedade e vitalidade; o cavalo argentino, por seu estilo de correr ter algo dos grandes "matadores espanhóis", aliado ao profissionalismo britânico; no Chile a identidade é "amazônica" (adjetivo usado em sentido mitológico e não estritamente geográfico), no aspecto de ser uma criação praticamente dominada por valores femininos. Varola cita textualmente :     "... por exemplo, a frequência com que as potrancas no Chile, manifestam igualdade ou até superioridade com respeito aos potros da mesma geração, seria inadmissível na Inglaterra".  

Varola, assim definia o PSI produzido em seu país: "... o puro sangue italiano, manifesta-se constantemente de acordo com a vocação humana do país ao qual pertence, isto é, por relâmpagos de gênio ao invés de valores médios." e continua "... quando um cavalo italiano fica descolocado em uma grande corrida no exterior ninguém liga, mas se acontecer de ficar em segundo ou terceiro lugar, o fato torna-se traumático."  

Quanto ao PSI norte-americano, Varola o precisou como pertencente a dois universos distintos e que essa distinção atinge principalmente os garanhões, e cita "... as diferenças, no puro-sangue norte-americano, prendem-se mais a uma questão de 'status' do que de classe alta ou comum". 

Dentro do espirito comercial norte-americano, existe uma forte demanda, contínua e estável, quando se trata dos serviços procurados e da progênie para linhagens masculinas com mensageiros melhor trabalhados pelo marketing.

Consequentemente, garanhões com maior número e qualidade de éguas servidas, apresentam maior volume de ganhadores e maior visibilidade para os fundadores de suas linhas: Curlin, Distorted Humor, Speightstown, etc. (Mr Prospector); War Front, Kitten's Joy, Medaglia d'Oro, etc. (Northern Dancer) e Tapit, Bernardini, Malibu Moon, etc. (A.P. Indy). 

No entanto, ressurgiu com bastante força, duas linhagens masculinas anteriormente desprezadas, que poderão vir a ocasionar uma ruptura no status quo dos atuais veios masculinos dominantes no turfe norte-americano. 


1 - RUNHAPPY, que nunca correu sob o efeito de medicamentos, pertence a um ramo "fora de moda" de sua linhagem masculina, ramo esse que privilegia a precocidade e velocidade. 


                    


Ele e seu pai Super Saver são típicos Maria's Mon. Este apesar de um tanto leve, foi um corredor poderoso, bem equilibrado, com bom comprimento e alcance. Maria's Mom, assim como seu neto Runhappy, foi o campeão norte-americano de 2 anos. Como garanhão Maria's Mon, precocemente desaparecido aos 14 anos, em que pese o modesto suporte comercial quanto a qualidade das éguas a ele dirigidas, produziu 51 vencedores black-type e junto com Exclusive Native e Alydar, forma o triunvirato dos descendentes masculinos de Native Dancer que são pais de 2 vencedores do Kentucky Derby - são seus filhos Super Saver e Monarchos.


                     

Maria's Mon


Devido a questões de glamour, Monarchos, assim como toda essa linha masculina (Maria's Mon - Wavering Monarch - Majestic Light e Majestic Prince) também foi desprezado como garanhão, recebendo éguas de terceiro time, mas, mesmo assim, produziu 53% de vencedores e com premiações superiores a 19 milhões de dólares. Ele é pai de Informed Decision, velocista campeã de 2009 - Breeder's Cup e Mare Sprint; de Aces Star, campeão 2 anos na Escandinávia em 2009; de Estrela Monarchos, a égua campeã brasileira de 2014; de Win Willy, vencedor do Rebel Stakes e com mais de U$ 1 milhão em prêmios, etc.

Monarchos, é um evidente exemplo, que temos modernamente, das razões que levaram Varola a  considerar, que a criação norte-americana está mais atenta à aspectos outros do que a classe.

Super Saver interrompeu o abandono desse ramo de Raise A Native e através da qualidade de seus filhos tornou-se, muito tardiamente, o "queridinho" dos treinadores e pinhookers. Mas, não interessa aos grandes potentados norte-americanos do PSI que surja um disruptor. Por consequência, nunca existiu maior publicidade para Super Saver e a mesma lógica serve atualmente para Runhappy, seu melhor filho em pistas, e garanhão líder de 3ª safra nos EUA em 2022 (Bloodhorse).

Runhappy é praticamente desconhecido pelo turfista comum.


                
                     

Super Saver

Super Saver, agora adquirido pelo Jockey Club da Turquia (o turfe que mais cresce na Europa) - para servir aos moldes do antigo Posto de Monta do JCSP, é pai de 8 G1W's: Runhappy, Letruska, Happy Saver, Competitive Edge, Embellish The Lace, Lindalevesolta, Super Nao e Super Turco.

Obs.: Happy Saver, Competitive Edge nos EUA e Super Nao no Peru, foram incorporados recentemente na reprodução, possibilitando maiores chances de perpetuação desse ramo masculino. 


2 - NYQUIST, "1st cumulative third-crop sire by G1 horses and Graded Stakes horses, 13 G'S 2yos from hist first 2 crops - more than any other stallion ever!" (Bloodhorse).



                     


Aqui se têm um vencedor  do Kentucky Derby nos 2000 metros e provas de grupo nos 1300, 1400, 1700 e 1800 metros. Além de ter sido um extraordinário corredor já está se sobressaindo como reprodutor.

Nyquist é outro disruptor que surge em alto patamar, mas, por total falta de interesse da mídia turfística dos EUA, também é desconhecido da maioria dos turfistas.

Uncle Mo, o pai de Nyquist, é um notável garanhão no turfe norte-americano, oferecendo filhos de alta classe e com grande versatilidade em distâncias. Ele possui ótimos resultados (fee U$ 150.000 em 2023) e 12 vencedores de G1, mas, por ser um disruptor, não foi inicialmente bem visto pela mídia turfística local, em razão de seu pedigree ser considerado "fora de moda" *.


                    

Uncle Mo

*Obs.: Essa condição também existe na Europa e hoje atinge, principalmente, a linha Iffraaj - Wootton Bassett - Almanzor (também neto materno de Maria's Mon), muito esquecida pela mídia local, pois nunca foram considerados completamente  fashionables em certos círculos europeus, talvez devido a uma certa rusticidade de aspecto e a pedigrees considerados "raros".

Voltando a Uncle Mo, ele é filho de Indian Charlie, outro notável disruptor da década de 1990. Indian Charlie veio da Califórnia, onde seu pai, In Excess (Ire) reinava de forma absoluta.

Indian Charlie, era um grande e poderoso cavalo, que tinha um galão largo e fluido, foi apresentado invicto no Kentucky Derby e alçado a favorito, tendo conseguido a terceira colocação. Foi retirado de campanha após lesão em ligamento  suspensor, durante treinamento em Del Mar. Indian Charlie, que morreu aos 16 anos vitimado por um câncer, produziu 83 vencedores black-type


                                  
                               


Indian Charlie

Obs.: Outros filhos de Uncle Mo como: Outwork (pai de G1 em sua primeira safra) e os recentemente encaminhados para reprodução Mo Donegal, Mo Forza e Mo Town, aumentam a chance da rara linhagem masculina do grande CARO, sobreviver aos modismos que dominam o turfe mundial.



                    

Caro