Franco Varola e John Aiscan, afirmavam que o PSI, em alguns aspectos, é uma expressão de sua adaptação geográfica. E Varola ia além, dizia que o cavalo de corrida se comporta como uma consequência de seu nacionalismo.
Varola tratou do tema no seu livro "The Functional Development of Thoroughbred" e também em artigos publicados na revista Turfe e Fomento, um marco do turfe brasileiro que infelizmente sofreu solução de continuidade.
Conceitualmente, Varola definiu, que o puro-sangue na Inglaterra é caracterizado por seu caráter pragmático e profissional, são especialistas; o PSI francês e o brasileiro são descritos por sua souplesse e consequentemente são ecléticos, dificilmente existe o paradigma ou o especialista; o PSI alemão por sua sobriedade e vitalidade; o cavalo argentino, por seu estilo de correr ter algo dos grandes "matadores espanhóis", aliado ao profissionalismo britânico; no Chile a identidade é "amazônica" (adjetivo usado em sentido mitológico e não estritamente geográfico), no aspecto de ser uma criação praticamente dominada por valores femininos. Varola cita textualmente : "... por exemplo, a frequência com que as potrancas no Chile, manifestam igualdade ou até superioridade com respeito aos potros da mesma geração, seria inadmissível na Inglaterra".
Varola, assim definia o PSI produzido em seu país: "... o puro sangue italiano, manifesta-se constantemente de acordo com a vocação humana do país ao qual pertence, isto é, por relâmpagos de gênio ao invés de valores médios." e continua "... quando um cavalo italiano fica descolocado em uma grande corrida no exterior ninguém liga, mas se acontecer de ficar em segundo ou terceiro lugar, o fato torna-se traumático."
Quanto ao PSI norte-americano, Varola o precisou como pertencente a dois universos distintos e que essa distinção atinge principalmente os garanhões, e cita "... as diferenças, no puro-sangue norte-americano, prendem-se mais a uma questão de 'status' do que de classe alta ou comum".
Dentro do espirito comercial norte-americano, existe uma forte demanda, contínua e estável, quando se trata dos serviços procurados e da progênie para linhagens masculinas com mensageiros melhor trabalhados pelo marketing.
Consequentemente, garanhões com maior número e qualidade de éguas servidas, apresentam maior volume de ganhadores e maior visibilidade para os fundadores de suas linhas: Curlin, Distorted Humor, Speightstown, etc. (Mr Prospector); War Front, Kitten's Joy, Medaglia d'Oro, etc. (Northern Dancer) e Tapit, Bernardini, Malibu Moon, etc. (A.P. Indy).
No entanto, ressurgiu com bastante força, duas linhagens masculinas anteriormente desprezadas, que poderão vir a ocasionar uma ruptura no status quo dos atuais veios masculinos dominantes no turfe norte-americano.
1 - RUNHAPPY, que nunca correu sob o efeito de medicamentos, pertence a um ramo "fora de moda" de sua linhagem masculina, ramo esse que privilegia a precocidade e velocidade.
Ele e seu pai Super Saver são típicos Maria's Mon. Este apesar de um tanto leve, foi um corredor poderoso, bem equilibrado, com bom comprimento e alcance. Maria's Mom, assim como seu neto Runhappy, foi o campeão norte-americano de 2 anos. Como garanhão Maria's Mon, precocemente desaparecido aos 14 anos, em que pese o modesto suporte comercial quanto a qualidade das éguas a ele dirigidas, produziu 51 vencedores black-type e junto com Exclusive Native e Alydar, forma o triunvirato dos descendentes masculinos de Native Dancer que são pais de 2 vencedores do Kentucky Derby - são seus filhos Super Saver e Monarchos.
Maria's Mon
Devido a questões de glamour, Monarchos, assim como toda essa linha masculina (Maria's Mon - Wavering Monarch - Majestic Light e Majestic Prince) também foi desprezado como garanhão, recebendo éguas de terceiro time, mas, mesmo assim, produziu 53% de vencedores e com premiações superiores a 19 milhões de dólares. Ele é pai de Informed Decision, velocista campeã de 2009 - Breeder's Cup e Mare Sprint; de Aces Star, campeão 2 anos na Escandinávia em 2009; de Estrela Monarchos, a égua campeã brasileira de 2014; de Win Willy, vencedor do Rebel Stakes e com mais de U$ 1 milhão em prêmios, etc.
Monarchos, é um evidente exemplo, que temos modernamente, das razões que levaram Varola a considerar, que a criação norte-americana está mais atenta à aspectos outros do que a classe.
Super Saver interrompeu o abandono desse ramo de Raise A Native e através da qualidade de seus filhos tornou-se, muito tardiamente, o "queridinho" dos treinadores e pinhookers. Mas, não interessa aos grandes potentados norte-americanos do PSI que surja um disruptor. Por consequência, nunca existiu maior publicidade para Super Saver e a mesma lógica serve atualmente para Runhappy, seu melhor filho em pistas, e garanhão líder de 3ª safra nos EUA em 2022 (Bloodhorse).
Runhappy é praticamente desconhecido pelo turfista comum.
Super Saver, agora adquirido pelo Jockey Club da Turquia (o turfe que mais cresce na Europa) - para servir aos moldes do antigo Posto de Monta do JCSP, é pai de 8 G1W's: Runhappy, Letruska, Happy Saver, Competitive Edge, Embellish The Lace, Lindalevesolta, Super Nao e Super Turco.
Obs.: Happy Saver, Competitive Edge nos EUA e Super Nao no Peru, foram incorporados recentemente na reprodução, possibilitando maiores chances de perpetuação desse ramo masculino.
2 - NYQUIST, "1st cumulative third-crop sire by G1 horses and Graded Stakes horses, 13 G'S 2yos from hist first 2 crops - more than any other stallion ever!" (Bloodhorse).
Aqui se têm um vencedor do Kentucky Derby nos 2000 metros e provas de grupo nos 1300, 1400, 1700 e 1800 metros. Além de ter sido um extraordinário corredor já está se sobressaindo como reprodutor.
Nyquist é outro disruptor que surge em alto patamar, mas, por total falta de interesse da mídia turfística dos EUA, também é desconhecido da maioria dos turfistas.