sábado, 10 de julho de 2021

Novamente Sangarius


 

Em conversa com amigos que prestam serviços a alguns dos grandes criadores europeus não poderia faltar o tema "criação brasileira" e o excelente impacto causado pela recente importação de SANGARIUS. 

Um aspecto de pouca compreensão a esses mesmos profissionais é como que um turfe como o brasileiro, construido aos moldes europeus - principais provas clássicas em pista de grama, hipódromos possuindo imensas retas somadas a curvas de grandes raios, que favorece a um tipo de atleta, pode ter virado as costas para a genética européia e caído no colo da criação norte-americana. Sendo que a genética por lá predominante é, de forma quase que geral, oposta morfológicamente ao necessário para atender as características de nossos hipódromos. 

Foi argumentado sobre a existência de aspectos que infelizmente pesam e fazem a nossa criação abdicar dessas questões, ou seja, pouco conhecimento técnico quanto a genética européia do PSI, facilidade na logistica de importação notadamente quanto a custo do frete aéreo e relativo baixo valor dos cavalos norte-americanos ao se aposentarem das pistas.

Evidentemente o menor valor do preço da genética norte-americana acompanha o diferencial de classe entre a mesma e a européia, não vemos na criação norte-americana, pensando em grama e na alta classe - e é o que as estatísticas mundiais demonstram, além de MEDAGLIA D'ORO e KITTEN'S JOY nada que possa se aproximar mesmo remotamente de GALILEO, DUBAWI, FRANKEL, KINGMAN, SHAMARDAL, DARK ANGEL, SIYOUNI, etc. E isso sem considerarmos Japão, onde nesse momento se destacam DEEP IMPACT (Sunday Silence) mais seu filho KIZUNA, HEART'S CRY (Sunday Silence), além de King Kamehameha (Kingmambo) por seus continuadores LORD KANALOA e RULERSHIP. 

Também contra-argumentamos, apenas como informação e não defesa, que o principal foco para nossas exportações é hoje o turfe norte-americano, e essa resposta causou ainda maior espanto. Pois assim como nós, esses mesmos profissionais não compreendem como o mercado norte-americano possa se interessar por yearlings que carregam uma genética inferior ao que é por lá produzido. E é fato, imaginemos um garanhão norte-americano X, que foi por lá descartado por já ter fracassado na reprodução ou um garanhão Y, com campanha inferior a inúmeros seus irmãos paternos em serviço nos EUA. Mesmo no baixo preço brasileiro, essa genética vai interessar a proprietários norte-americanos que queiram buscar inéditos? 

Consequentemente a esperança de nossos criadores e/ou proprietários é o surgimento de uma exceção produzida por esse tipo de garanhão, que os haras brasileiros privilegiam, e que possa ser exportada. Tal fato com certeza não atende a criação brasileira como um todo. 

Sempre pensamos, não será que interessaria mais ao mercado dos EUA um inédito p.ex. filho de GIBRALTAR POINT, um respeitabilíssimo internacionalmente ROCK OF GIBRALTAR e uma égua robustecida por uma bela linha materna? Ou um yearling de CARROCEL ENCANTADO, filho do também respeitabilíssimo ELUSIVE QUALITY? Não seria melhor a nossa criação focar na importação de potrancas com boa genética para a reprodução e utilizar um excelente parelheiro nacional como garanhão em vez de cavalos norte-americanos do pelotão intermediário para baixo?   

Mas, como a nossa criação privilegia o não aproveitamenento do craque nacional na reprodução, retornemos a Europa e Sangarius. Ele foi um craque? Claro que não, pois se tivesse sido não viria servir na reprodução no Brasil, craques só são descartados em suas origens quando comprovadamente o mercado já os colocou na prateleira  de fracassos. Mas, esse frescor da importação de um filho inédito de Kingman, com um padrão de carreira correto, trás um novo olhar para a criação brasileira e a expectativa de novas buscas na Europa por inéditos de bom patamar intermediário que possam surpreender futuramente dentro de nosso élevage. 

Tal raciocínio entendemos como viável inclusive visando um imaginável mercado norte-americano de yearlings. Eles possuem por lá Kingman? É mais apetitoso a um possível comprador comum norte-americano de 2 anos buscar um KINGMAN ofertado em leilões brasileiros ou europeus? 

A expectativa é que Sangarius seja um divisor de águas quanto a visão de nossos criadores para importação futura de garanhões, e abrir assim novas possibilidades para a criação brasileira no mercado internacional. Sabemos o quanto é dificil se conseguir aqui filhos dos garanhões acima citados, por isso voltamos a parabenizar todas as conexões envolvidas na viabilização da importação de Sangarius.