sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Alipio e como se prospectar um ótimo garanhão

 

Na falta de uma foto de Alipio fica o craque Orpheus, seu melhor filho brasileiro.




A importação de Alipio mostra como é possível encontrar um excelente garanhão fora do senso comum, e é mais uma lição que Francisco Eduardo de Paula Machado deixou para o turfe brasileiro.

Com o declínio físico de Fort Napoléon tornava-se fundamental encontrar um substituto a altura do pastor-chefe do Haras São José & Expedictus.

Dr. Francisco sempre atualizado com o turfe europeu conhecia o histórico de Alipio e o escolheu como sucessor de Fort Napoléon. Alipio teve uma campanha sui generis, pois debutando aos 3 anos mancou no fim dessa campanha, reaparecendo somente aos 6 anos de idade. 

Nessas duas temporadas Alipio demonstrou boa categoria, tendo participado somente em corridas de nível clássico. Venceu 11 provas, dos 1500 aos 2400 metros. Foi 2º colocado no GP della Repubblica, derrotado no photochart por Sedan (o craque da geração), também foi 2º no GP Cittá di Roma e 3º no St. Leger Italiano.

Seu pai Verso II, foi o melhor cavalo francês em seu tempo, tendo vencido os Prix de L'Arc de Triomphe, Prix du Jockey Club, Prix Royal Oak, Prix Hocquart, Prix Kergolay, Prix de Condé e Grand Prix de Deauville. Também foi excelente reprodutor, dentre seus melhores produtos podem ser destacados  Lavandin (vencedor do Derby de Epson) e Barbara Sirani (líder italiana 2yo e 3yo). Como avô materno também demonstrou ótimo desempenho, tendo entre outros netos, Le Fabuleux (Prix du Jockey Club) e Pretendre (King Edward VII Stakes). Foi o lider da estatística de avô materno na França em 1964.


Verso II.

Alipio pertencia a E.V. Crespi, um pequeno criador/proprietário que atuava entre a Itália e França. Levado para a reprodução em 1960, já com 7 anos de idade, teve apenas 20 filhos corridos na Itália e provou ser um consistente reprodutor. Dentre seus filhos destacaram-se Chio (8 vitórias, inclusive o St. Leger Italiano; 2º no Derby Italiano; 2º no GP di Milano; 2º na Coppa d'Oro di Milano; 3º no GP d'Italia e 3º Prêmio Parioli), Fauno (1º Derby Trial Italiano) e os vencedores clássicos Conte d'Argento, Orlono e Vacuna.

Chio e Fauno nasceram em 1963, Alípio foi importado no início de 1966, antes que esses seus 2 filhos fossem vencedores do que hoje chama-se provas de grupo. Nas estatísticas de 1966 na Itália, Alipio com apenas 13 produtos em corrida, ocupou o 6º lugar, sendo que todos os seus filhos foram vencedores e levantaram um total de 33 provas.

Dr. Francisco explicou que os 4 filhos de Alipio nascidos em 1961 e 1962 haviam sido monitorados, e que todos foram bons vencedores, sendo que 2 haviam vencido provas clássicas*. 

*Nota: Acreditamos que, nos termos de hoje, essas provas clássicas seriam consideradas listeds. 

Somava-se que Alipio era dono de régio pedigree, pois além de ser filho de Verso II, sua terceira mãe Alena foi uma vencedora do Gran Criterium e do Oaks Italiano e também avó materna de Alberigo (líder de sua geração na Itália com 14 vitórias, 1º 2000 Guinéus Italiano, 1º 2x Prêmio Omnium - Coronation Cup, 2º Derby Italiano, 2º Gran Criterium, 2º GP di Milano, 2º GP di Napoli, 3º Criterium Nazionale, 3º GP Cittá di Roma, etc.).

E Alberigo servindo no Haras Mondesir, com pouquíssimos filhos, já havia produzido o destacado parelheiro Egoísmo (1961), vencedor dos GP's Derby Paulista, Conde de Herzberg, Outono e Antenor  de Lara Campos. Consequentemente a proximidade familiar materna de Alberigo agregava valor para Alipio como reprodutor. 

Alipio é um exemplo de que ao se saber interpretar tecnicamente todo o histórico de um cavalo é possível se aumentar as possibilidades de sucesso na escolha de um garanhão. Dr. Franco Varola sempre citava a importação de Alipio como o modelo a ser seguido dentro de um máximo que o conhecimento do PSI poderia alcançar.

Infelizmente Alipio morreu em 1969, apenas 3 anos após a sua importação, tendo deixado 4 diminutas gerações no Brasil, das quais somente 20 produtos foram apresentados às pistas. Destes, 6 foram ganhadores black-type, totalizando o extraordinário número de 30% de sucesso na classe.

A lamentável curta passagem de Alipio em nossa criação experimentou uma tragédia. A queda de um raio nos pastos do Haras São José ceifou a vida de 10 de suas filhas - Obalala, Odalisque, Odinea, Olguita, Omision, Orangerie, Orestia, Orion, Orsila e Ortygia - todas pertenciam ao lote elite daquela que veio a ser a última geração de Alipio.

A lacuna deixada por Alipio às vésperas da temporada de coberturas criou um contratempo, as cartas de monta para 1969 já haviam sido estudadas e as éguas direcionadas a Alipio já estavam definidas. Com a sua falta, o arrendamento de Chio (Alipio em Chiloé por Orsenigo) junto ao Haras Guanabara, foi uma solução pragmática para substituir seu pai e evitar dessa forma uma profunda alteração nos estudos direcionados a Alipio e uma quebra total das esperanças envolvidas nos mesmos. 

Dessa única temporada de Chio em Rio Claro nasceram em 1970, Pavane (4º GP Henrique Possolo), que vindo a ser servida por Falkland gerou o craque Baronius, Pilcomayo (1º GP Estado do Rio de Janeiro) e Porto Alegre (2º GP Derby Club, 3º GP Oswaldo Aranha e 3º GP Pres. Vargas).

A utilização de Chio em substituição ao seu pai Alipio, deixa evidente o pensamento cartesiano de Francisco Eduardo de Paula Machado como criador de PSI.