domingo, 11 de dezembro de 2022

Emerson e os equívocos da criação brasileira



O "europeu" Emerson.


Assistindo uma antiga live no YouTube, houve assombro com a declaração de que o Brasil criava no passado animais que podiam ser classificados como "puro-sangue brasileiro", e subentendeu-se que esse tratamento pejorativo era em razão de serem portadores de genéticas supostamente de menor qualidade. 

De fato a criação brasileira sofreu a partir da década de 90 a influência de agentes com interesses econômicos na criação norte-americana e os haras brasileiros foram infestados, de forma quase que majoritária, por indíviduos de quinta categoria oriundos daquele turfe. 

Portanto, se o espaço-tempo referido naquela live está compreendido após os anos 90 concordamos com tal assertiva. Mas se a referência está para antes dos anos 90 somos obrigados a discordar. 

A criação brasileira do final dos anos 1940 ao fim dos 1980 importou garanhões como Coaraze, Swallow Tail, King Salmon, Sayani, Mât de Cocagne, Alberigo, Orsenigo, Felicitation, Sandjar, Hunter's Moon, Birikil, Royal Forest, Normanton, Violoncelle, Pharas, Faublas, Cadir, Téléférique, Fort Napoléon, Blackamoor, Karabas, Cigal, Dragon Blanc, Elpenor, Waldmeister, Felício, Alipio, Tratteggio, Locris, etc. Infelizmente todas essas genéticas estão hoje praticamente perdidas e graças aos interesses daqueles profissionais que convenceram os criadores brasileiros quanto a necessidade de "modernizar" seus plantéis. Logicamente com a importação de animais norte-americanos seja lá de que qualidade for. 

Entendemos que o abandono das éguas e mesmo garanhões descendentes dessas linhas anteriores a década de 90, mais o advento da importação de genética norte-americana discutível, criaram a atual situação de baixa qualidade do plantel PSI no Brasil. 

Um aspecto importante é quanto a tipologia funcional e que se reflete na morfologia do cavalo de corrida. Nossos principais hipódromos tiveram suas pistas projetadas e construídas dentro do modelo europeu. Grandes retas entre os 600 e 750 metros com curvas de arcos abertos e a genética europeia é selecionada para desenvolver o seu melhor esforço nessas condições de desenho de pista. 

Já a genética norte-americana é selecionada de forma diametralmente oposta, seus principais hipódromos possuem retas com média 250 metros de extensão e arcos de curva fechados. 

Outro aspecto fundamental é que as nossas provas de elite com maiores dotações são na pista de grama e a genética norte-americana é selecionada para correr no dirt, que dependendo do hipódromo pode ser qualquer coisa, desde terra batida até uma areia de estuário.

Evidentemente se tivermos uma prova em 2400 metros na grama, formada unicamente por filhos e/ou descendentes de éguas e garanhões norte-americanos inferiores com genéticas aptas para o dirt e mesmo inaptas para a distância, algum cavalo terá que chegar na frente... E o PSI criado no Brasil segue em sua curva descendente de qualidade técnica.

Sem maior esforço de análise é mais do que claro que a melhor genética para as nossas principais provas é a europeia. Tal fato não impede de termos algum respeito por garanhões norte-americanos como Kitten's Joy, English Channel, Medaglia d'Oro, War Front e More Than Ready, mesmo sabendo que os parelheiros europeus quando levados aos EUA, para disputarem os grandes embates internacionais na grama, esmagam as genéticas locais. 

E isso acontece em desenhos de pistas totalmente inadequados as suas características de esforço atlético quanto a sua seleção zootécnica.


Retornando a Emerson... 


Em cinco apresentações aos três anos, Emerson não perdeu uma só carreira. Estreou em 1400 metros, na pista de areia, três semanas depois venceu os 1800 metros, na raia de grama, do Clássico America. No dia 15 de Novembro, venceu na Gávea o GP Cruzeiro do Sul - Derby Brasileiro e completou a série como líder de sua geração, com sua convicente vitoria no Derby Paulista. Em 1962, seguiu para  correr em Cidade Jardim no 5º Derby Sul-Americano, importante carreira internacional lamentávelmente extinta, obteve sua última e esmagadora vitória diante dos melhores 3 anos sul-americanos.

Emerson foi levado para reprodução na França, onde se destacou como excelente garanhão.



Emerson, com a elegância de seu biotipo europeu retornando após sua vitória no Derby Sul-Americano. Obs: Nessa prova Emerson correu com 462 quilos, segundo programa da época.




Acima pedigree de Emerson, para análise de nossos leitores quanto a qualidade do "puro-sangue brasileiro" do passado.