Phalaris
O universo da
criação do PSI é tão vasto e complexo que nele cabe inúmeras teorias sobre a
presumível vertente ideal para se conseguir o cavalo fora de série e cada qual
pode defender seu ponto de vista apresentando inúmeros exemplos de bons
resultados, mas existe
um ponto comum que é o elemento catalisador da
amálgama de onde pode surgir um craque e se chama “VELOCIDADE.”
Lord Derby
concentrou sua criação em Phalaris, um sprinter-miler que corria de bandeira a
bandeira e foi ganhador de 15 provas comuns entre 1200 metros e a milha.
Em seu livro “Il
Purosangue, animale da esperimento”, Tesio escreve:
“Se em todos os
64 primeiros ascendentes de um cavalo de corrida existirem apenas stayers é
certo que este cavalo jamais ganhará uma corrida decente sobre qualquer
distância.” e mais adiante completa, “Sem um grande representante da milha em
um pedigree será difícil de se produzir um animal extraclasse pois faltará a
explosão nervosa que é sinônimo de VELOCIDADE.”
H.H. Aga Khan
III, criador entre outros de Bahram e Mahmoud além de proprietário de Mumtaz Mahal, Teresina, Blenheim, My Love,
Salmon-Trout... acreditava em velocidade prolongada no tempo, é conhecida sua
famosa carta na qual escreveu: “Neste momento quando todos que dirigem o turfe
buscam meios para manter o prestígio do PSI tenho um conselho a dar: sejam mais
cuidadosos quando jogarem água para fora da banheira. Não permitam que a
criança se perca, e essa criança se chama VELOCIDADE.”, o atual Aga Khan, o IV, manteve o império hípico herdado de seu pai, o príncipe Aly Khan, assentando sobre suas matrizes
sangue Never Bend, um grande vencedor dos 1300 aos 1800 metros que era velocidade, velocidade e mais velocidade.
O que de forma
geral se busca através da palavra “VELOCIDADE” é aquela velocidade capaz de se
destacar por qualidade, seja a velocidade “pure-brilliant” dos flyings e
sprinters ou a velocidade “trans-brilliant”. Não é nossa intenção e nem faria
sentido considerar aqui sobre categorias de velocidade mas é clara a divisão entre os
velocistas puros que apresentam maior possibilidade para transmitirem a seus
descendentes velocidade explosiva e os garanhões
da tribo “trans-brilliant”, que é aquela que oferece mais capacidade para sua produção exteriorizar a condição de sustentar velocidade ao longo do tempo e chegar as
distâncias clássicas dos Derbies, mas na essência esses dois tipos de velocidade são frutos da
mesma árvore, uma Hyperion servida por Nearco gerou a Nearctic, um puro sprinter, e esse gerou a Northern Dancer provando que em algum ponto de uma genealogia elas se fundem e complementam-se. No
passado primeiro Phalaris e posteriormente Hyperion e Nearco foram os paradigmas de velocidade mais classe,
Northern Dancer também era esse cavalo e hoje alguns exemplos seriam os
chefs-de-race Danzig, Mr Prospector, Nijinsky e Nureyev.
Para uma melhor
compreensão da relação milheiro e velocidade colocarei aqui excelente análise
de Milton Lodi sobre Quartier Latin.
“Um
dos milheiros brasileiros de maior sucesso nas pistas foi Quartier Latin, de
criação e propriedade do Haras São Bernardo, da Baronesa Marie Blanche
Rotschild Von Leithner. O jóquei oficial da coudelaria era Gastão Massoli, de
superior educação sempre bem vestido e atencioso com todos. Acontecia que com
Massoli, sempre com boas direções o Quartier Latin corria com facilidade entre os
ponteiros, e na reta final não correspondia. A Baronesa então resolveu entregar
a direção de Quartier Latin a Luiz Rigoni, para muitos com destaque o melhor
jóquei brasileiro de todos os tempos.
Rigoni montava no regime de freio, e com um suave toque nas rédeas dominava por
completo os corredores mais voluntariosos e com serenidade instigava os mais
preguiçosos. Com Rigoni, Quartier
Latin ficou outro,
Rigoni o fazia ficar em último, em galope tranqüilo e ritmado, e quando no
inicio da última reta por ele procurava, Quartier
Latin acelerava
rapidamente e sempre vencia com folga. Foi assim que Quartier Latin,
com Luiz Rigoni, venceu em um ano o Grande Premio Presidente da República,
Grupo I, em Cidade Jardim a milha internacional da semana do Grande Premio São
Paulo, e no mesmo ano, venceu a mesma prova no Jockey Club Brasileiro. E mais
ainda, a mesma dobradinha repetida no ano seguinte. Os menos detalhistas
entenderam que ali estava um futuro garanhão de sucesso. Mas na prática sucedeu
diferente, Quartier Latin não alcançou o êxito esperado. Mas por
quê? Resposta simples, o bom milheiro, o realmente bom, tem que mandar na
corrida desde o principio, não pode ser, digamos assim, um bom aproveitador do
ritmo imposto por outros. Não é ter a obrigação de correr na ponta, é fazer
parte de um bom ritmo desde o inicio, na ponta ou perto, e ainda aumentar a
velocidade na última reta. A perspicácia de Luiz Rigoni logo percebeu que
Quartier Latin era muito bom, mas não tinha a fundamental característica dos
grandes milheiros, velocidade inicial, ritmo forte, e ainda uma brilhante reta
final. Essa soma de características é privilégio de poucos”.
Isso posto temos
que ter especial atenção no estudo dos pedigrees para planejar cruzamentos ou
comprar animais e não apenas considerar os resultados de pistas. Partilho com
aqueles que pensam que a característica mais importante para um cavalo ter
sucesso como reprodutor além de campanha, um belo pedigree e tipo físico é VELOCIDADE aliada a um compromisso visceral com a vitória mesmo diante de evidentes deficiências
físicas, deficiências essas que não o permitiu demonstrar em pistas a sua
capacidade locomotora em plenitude, os meus exemplos para esse tipo de
cavalo são BLADE PROSPECTOR e QUE FENÔMENO, o primeiro infelizmente já
desaparecido é um reconhecido grande produtor de penqueiros e o segundo uma
viva esperança pois certamente possui um dos hoje melhores pedigrees da
reprodução brasileira. Me recordo de outro cavalo do mesmo quilate, CIGAL, a
história contada pelo dr. Antonio Jorge de Camargo foi a seguinte: Harry Wragg
era um bom amigo dele desde os tempos de estudante na Inglaterra e treinador de
Cigal e de Psidium, esse o derby-winner da geração, mas Cigal era considerado o
melhor potro da cocheira e que sua VELOCIDADE e volúpia pela vitória nos
treinos era algo que Harry Wragg lhe disse nunca ter visto em nenhum cavalo que
até então havia treinado, continuou que após Cigal mancar de tendão em sua
única apresentação Harry Wragg o ofereceu a ele como uma certeza absoluta de sucesso na reprodução por sua psique, o indispensável "will to win", Cigal chegou ao Paraná e foi o
que foi, lembram de DANZIG...