Na foto a excelente Amazone, cruzamento planejado por Reynato Sodré Borges.
Meu Caro amigo,
Recebi sua carta, onde pede orientação para adquirir um
garanhão. Quanto ao picadeiro que me perguntas, não é difícil de fazer e na
oportunidade darei as opções, para você escolher entre um ao ar livre ou um
coberto, que deverá ficar próximo ao boxe do garanhão, para ser aproveitado
como local para coberturas.
Mas quero desde já botar “mosca azul” na sua cuca, com a
possibilidade de fazer uma pequena pista de treinamento para os yearlings. Caso a sua propriedade
permita uma pista entre os 900 e 1200 metros de volta fechada com 8/10 metros
de largura, você gozará de um dos maiores prazeres de um criador de PSC, que é
ver seus potros iniciando em corrida e inclusive já efetuar julgamentos
iniciais da potrada, como era feito no Haras Tibagi e é feito no Haras São José & Expedictus.
Quanto ao garanhão lembro que seu haras está situado em
importante centro criatório do nosso tufe e onde não é pequena a oferta de coberturas
de bons garanhões. Caso não me falhe a memória, já existe mais de 40 haras
entre Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo. O Posto de Monta em Teresópolis já está em fase
final de construção. O número de garanhões é elevado e mesmo nos
sindicalizados, sempre haverá a possibilidade de se adquirir quota.
Vou citar de memória, pedindo desde já desculpas pelas
omissões, garanhões que estão sediados na serra e para os quais você deve
voltar a sua atenção. Dos extrangeiros: Parnell (cavalo de primeiro time na
Europa, 1º Prix Jean Prat, 1º Irish Saint Leger, 1º Jockey Club Cup, 1º Queens
Vase e 2º King George VI & Queen Elizabeth Diamond Stakes, 2º Washington DC
International, que deve atingir fácil o
nosso 1º time, se não o de seleção), Hang Ten (bom cavalo norte-americano
vencedor de grupo 2 e deve produzir bem), St. Ives (cavalo de boa saúde – campanha
longa, bonito e com linha materna soberba, já começa a produzir bem, sendo que o
clássico Nagami se destaca, Ecletic (3º Prix Daphnis) e Exact (Grand Prix de
Lyon). Dos nacionais temos: Daião (GP Brasil), Macar (GP Cruzeiro do Sul),
Revolution (GP Cruzeiro do Sul), Tonka (GP Pres. da República – RJ), Frizli (GP
Estado do Rio de Janeiro), Grão Ducado (GP Ipiranga), mais os também clássicos Fólio, Juanero e Yanbarberik. No Haras Vargem Alegre encontram-se o bom corredor Walad,
que apesar de pouquíssimas oportunidades já produziu o clássico Waladon.
Espero que você entre de sócio do JCSP, pois facilitará o
seu acesso aos garanhões do Posto de Monta Luiz Oliveira de Barros em Campinas.
Aconselho que estude acasalamentos com o notável ZENABRE e também com Breeder’s
Dream, que pertence a uma explendida linha materna. Em outros haras de São Paulo,
que disponibilizam coberturas, você poderá utilizar Millenium, Sahib, Figurón, Xaveco,
Nageur, Rhone, Tonnerre e Arnaldo. Gosto especialmente de Sail Through e acho
que se Dom Quixote tiver maiores oportunidades vai produzir bem. O Haras São
José & Expedictus disponibilizou para venda de coberturas, em sua seção de
Campinas, os ótimos Lucarno e Orpheus. No Paraná o cavalo Giant me fascina, é
filho do extraordinário CIGAL, garanhão que comentarei em momento apropriado.
Por falar em Cigal me lembrei de seus outros filhos Lunard, que serve em São
Paulo, e Pepone, que também serve no Paraná. Ambos excelentes opções. No Rio
Grande do Sul você poderá dispor em Bagé de Egoísmo e Heathen, em Vacaria de
Nermaus e George Raft.
Todos os nomes que citei acima são de garanhões passíveis
de se comprar coberturas. Em um lindo sonho poderíamos sonhar com Earldom,
Sabinus, Locris, Waldmeister, Felicio, Tumble Lark, Pass The Word, St. Chad, Tratteggio,
mas...
Tudo isso é muito bonito e relembrando esses garanhões,
até eu mesmo estou surpreendido como a criação brasileira dispõe de excelentes
opções e poderemos através da produção desses garanhões formar excelentes linhagens
para o futuro! Mas é indispensável, uma boa criação, senão nada obterá dos
melhores acasalamentos. Não existe filhos de bons animais e de acasalamentos
tecnicamente corretos que resista a piquetes pobres, alimentação de 2ª ordem e
a uma fiscalização e atendimento de 3ª ordem. E não se esqueça que as éguas
devem ter boa linha materna clássica, serem elas mesmo de padrão clássico ou
vencedoras comuns consistentes. Também não devem ter tido longas campanhas.
Mas, quem sabe, o acaso favoreça e venhas a comprar uma
filha de Mogul que você deverá mandar, sem vacilar, para ser coberta pelo
Honeyville. E no caso de comprar uma égua da linha da Palina tente a servir com
Sabinus e caso não consiga esse serviço use seu filho Daião. Estarás repetindo
Sabinus e terás um inbreeding sobre Palina! Conseguiu uma filha da Argúcia,
mande para o Isaton (um filho clássico de Tang) que está no Haras Louveira. Não
fique surpreso, nem pense que estou pilheriando, meu bom amigo, pois desse
modo, foram obtidos ou melhor dizendo, acertaram o alvo (nick) obtendo com
essas combinações de linhagens masculinas, pela ordem citada cima, a Fitz
Emilius, Daião e Arnaldo, todos notáveis ganhadores do turfe brasileiro.
Esse nick (jogada favorável, acertar no alvo, ponto
crítico) é o maior desejo do criador consciente e, em 99% das vezes é obra do
acaso. Porém depois de obtido, passa a ser a meta principal do criador. Temos
como exemplo a combinação TOURBILLON – ASTERUS, um dos pilares da criação
Boussac, e que o Haras São José & Expedictus repetiu usando Fort Napoleon
nas éguas por Formasterus. Filhos de Nasrullah com éguas Princequillo. Na
Argentina Snow Cat com éguas por Claro e outros mais.
O mesmo se busca com os irmãos próprios. Quando jovem, eu
ouvia falar do 3 irmãos: Molok, Melik e Mehemet Ali, filhos de Diamond Jubilee
e Melilla. De Cocles, Camerino e Codihué, todos por Copyright e Cecilia
Metella. De todos esses irmãos inteiros era difícil saber qual fora o melhor.
Tivemos no Brasil Timão, Zuido e Diese, 3 irmãos próprios por Swallow Tail e
Nuvem. Qual foi o melhor? Recentemente, os magníficos produtos do acasalamento
da égua Grã com Egoísmo que foram: Grão de Bico e Grão Ducado. Na Europa lembro
dos irmãos próprios Pharos e Fairway, de Dante e Sayajirao, para não falar dos
filhos de Saint Simon e Perdita...
Mas é necessário gravar que a criação do cavalo PSC não é
uma ciência exata, o que constitui um dos encantos do turfe e uma de suas doces
incertezas. Por exemplo, um garanhão ganhador do EPSON DERBY com uma égua
ganhadora do OAKS, pode dar um produto de 2ª ordem. Apenas a meritocracia nas
pistas não garante a obtenção de um craque, se assim fosse tudo seria de uma
aridez simplicidade... Mas, não podemos negar a afirmativa que o bom cavalo tem
sempre ancestrais bons. O importante é a criação baseada na combinação de
linhagens reconhecidamente convergentes.
Me perguntaste também quanto ao tamanho ideal para um
cavalo de corrida. O que te digo é esse é um aspecto irrelevante, sei que hoje
existe um claro modismo nos EUA em selecionar cavalos enormes, na Europa esse
aspecto certamente não pegará pois lá a seleção tem uma visão técnica e
consequentemente tamanho não é parâmetro de qualidade no PSC. O norte-americano
por questões culturais gosta de coisas grandes e chamativas, é só comparar os
carros norte-americanos e os europeus...
Essa questão de qualidade me fez recordar HYPERION, que é
a sua personificação em um PSC, se posso me exprimir desse modo. A qualidade é
como a classe, fácil de constatar, mas, difícil de definir. Este filho de
Selene, com o tríplice coroado Gainsborough, era pequeno e dizem que feio, e,
por tal motivo Lord Derby, o seu criador, não o levou para licitação e ele ficou
para defender as suas sedas. Hyperion foi líder dos 2 anos. Aos 3, ganhou em
todas as 4 vezes que foi levado a raia, incluindo o Derby e o St. Leger.
Esta referência que faço sobre Hyperion é para chamar a
sua atenção que o tamanho físico e a pelagem não são elementos dominantes na
apreciação da qualidade. Muitos não gostam dos tordilhos, e veja só, a craque
EDIÇÃO, que apesar de lindamente construída era tordilha e pequena, mas, tão
pequena, que levada a leilão pelo Haras Mondesir sem base e sem defesa, não obteve
nenhuma oferta. Correu defendendo a farda de seu criador e foi a vencedora que
foi... Anteriormente a Edição posso citar EMOCIÓN, uma égua que corria com 430
quilos e que venceu dois Dianas, Emoción era filha do também pequeno ORSENIGO,
que gerou os igualmente pequenos ESCORIAL e LOHENGRIN. Recentemente vimos IRME,
uma filha de Earldom, que corria com 380 quilos aprontar nas pistas.
O tamanho físico não pode e não deve ser considerado como
elemento de mérito na avaliação de qualidade em um PSC.
Já a performance constitui o elemento de mais fácil
julgamento, nessa apreciação. Mas, querendo fazer o advogado do diabo, lembro
que ALIBHAI por Hyperion em Teresina, que não correu, por ter fraturado
sesamóide, quando em treinamento, aos 2 anos, foi garanhão líder nos EUA, por
mais de uma vez. E, aqui no Brasil, o exemplo recente é o de CIGAL, que nunca foi
apresentado as pistas por ter mancado de tendão aos 2 anos, produziu como
garanhão de seleção, isto é, pai de vários ganhadores clássicos, além de um
tríplice coroado. Então, o apressado concluirá que a performance também é
secundária, o que não é verdade, pois, a custa dela é que vem sendo feita, há
300 anos, a seleção do PSC.
Cigal, era treinado por Harry Wragg e seu companheiro de
cocheira era PSIDIUM, ambos nascidos em 1958. Harry Wragg em conversa pessoal
me disse que Cigal era o melhor cavalo de sua cocheira naquele momento e que
Psidium não conseguia o acompanhar nos treinamentos. Psidium veio a vencer o
Epson Derby de 1961...
Ou seja, Cigal é o exemplo de um potencial cavalo de primeiro time que não pode exteriorizar em corrida a sua categoria. E aí está a
resposta quanto ao tema importar garanhão que me fizeste. Caso decida por
importar um garanhão, Cigal é o perfil do cavalo que você deve procurar dentro
da ideia de um baixo investimento e com muito boa chance de sucesso na
reprodução.
Acredito que Alibhai possa ter tido um histórico parecido
ao de Cigal.
Reynato Sodré Borges
Tebas – julho - 1979