sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

Varola - Análise de tendências - 7ª parte





Lydia e Frederico Tesio.




(continuação)


A aplicação dos 50 nomes de garanhões chefes-de-raça às dosagens atualizadas dos animais clássicos perminitiu-nos verificar que, em média, um pedigree contém de 20 a 25 nomes de chefes-de-raça e que a sua distribuição ideal seria um diagrama de tipo 5-5-5-5-5 ou 4-4-4-4-4, indicativo de equilíbrio e de uma pluralidade de influências genéticas no próprio pedigree. Entretanto, este equilíbrio raramente é alcançado na prática e, em certos casos o número de 50 chefes-de-raça escolhidos para a dosagem não é suficiente para fornecer une retrato autêntico do indivíduo examinada, razão pela qual é necessário escolher outros nomes para completar o valor da unidade de medida usada.

Estes nomes acrescentados podem ser obtidas simplesmente juntando-se garanhões mais recentes à lista original, mas, mesmo assim, a dosagem não poderia ser calculada com equidade nos casos em que as fundamentais influências passadas não sejam oportunamente tomadas em consideração; consequentemente, a ampliação da lista deverá ser obtida em duas partes uma que compreenderá garanhões do passado que, por razões diversas, não foram integrados à lista original e outra que compreendera garanhões recentes ou, pelo menos, nascidos depois de 1940. O primeiro grupo em acréscimo compreenderá vinte e cinco nomes, dez dos quais serão dos assim chamados "pais de reprodutoras", um tipo que não foi considerado na lista original. O segundo grupo em acréscimo compreenderá também vinte e cinco nomes. Os acréscimos compreenderão, portanto, um total de cinquenta nomes que, adicionados aos  cinquenta chefes-de-raça originais, formarão um total geral de exatamente cem nomes, um limite além do qual a pesquisa se tornaria demasiadamente complexa. Por outro lado, o  desenvolvimento quantitativo das corridas e da criação no mundo, nos últimas vinte anos, foi de tal vulto que mesmo cinquenta nomes a acrescentar não serão muito difíceis de ser encontrados, porquanto devem abranger, com as devidas proporções, todos os países em que a criação foi suficientemente desenvolvida, de forma que a dosagem possa ser estudada sobre os pedigrees de qualquer proveniência. Quanto mais se amplia o campo da pesquisa » mais se encontram garanhões com credenciais quase idênticas. Minhas escolhas obedecem, por essa razão, e em vários casos, as diveras alternativas disponíveis.

Para exemplificar o problema de calcular a dosagem dos pedigrees com equidade, tomemos ao acaso Armistice, 1959, vencedor do Grand Príx de Paris. Ele tem quatro correntes de Phalaris, urna das quais através de Fairway, totalizando assim cinco pontos na seção brilhante, enquanto as presenÇas de outros chefes-de-raça são 14 (Rabelais, Blandford, Swynford, Solario, Gainborough, Bayardo 2x, Teddy, Son-in-Law, Dark Ronald, La Farina, Chaucer 2x e Sunstar) com um índice de consistência de 14.5 = 2,8, que parece insuficiente para caracterizar seu tipo. Porém, se concedêssemos pontos ulteriores a seu pai Worden, a seu avô WiId Risk, a seu avô materno Vandale e entre seus outros antecessores, a Bruleur e Sardanapale, todos nomes muito importantes, alcançaríamos urna proporção de 5 a 19, com um índice de consistência de 3,8, que estaria evidentemente mais próximo da realidade.

Este ajuste do índice por meio do uso de nomes adicionais torna-se necessário também a todos os pedigrees que contêm o nome de Tourbillon. Este é o único garanhão de sua linha compreendido entre os 50 garanhões chefes-de-raça originais, enquanto as outras linhas contam com três ou quatro nomes consecutivos (ex.: Phalaris Pharos - Nearco - Nasrullah, ou Swynford - Blandford - Bienheim),com o resultado de que pedigrees fortemente baseados em Tourbillon, que são encontrados com frequência, especialmente na França, não são facilmente interpretáveis em termos de dosagem, porquanto o próprio Tourbillon compreende o nome de um único outro reprodutor da série original (Rabelais) em seu pedigree razão pela qual um cavalo inbreed sobre Tourbillon possui apenas quatro nomes elegíveis, que não são suficientes para caracterizar um inbreeding deste tipo.

Esta estirpe não é somente básica da criação francesa, mas adquiriu prestígio mundial, razão pela qual será preciso encontrar nomes adicionais para individualizá-la claramente. Um destes nomes será, naturalmente, Djebel, que em termos genealógicos é o mais importante e o mais geograficamente difundido de todos os filhos de Tourbillon, um outro nome nome deverá ser escolhido entre o pai de Tourbillon, Ksar, e o avô, Bruleur. Não só Bruleur compreende uma porção mais ampla de população equina do que Ksar, mas é também o mais importante dos dois em termos absolutos; com  efeito, pode-se afirmar que Bruleur seria, históricamente, um reprodutor importante, ainda que Ksar jamais tivesse existido, enquanto é improvável que Ksar fosse hoje um elemento importante não fosse por Tourbilion. Existe porém uma marcante diferença entre Bruleur, Tourbillon e DjebeI: o primeiro pode ser considerado um fator de reforço no        pedigree, e, portanto, deverá ser classificado entre os robustos, enquanto Tourbillon pertence ao grupo clássico e Djebel, por sua vez, deverá ser colocado no grupo dos intermediários, embora também fosse apropriada sua classificação entre os brilhantes.

Traduzindo em termos práticos o que foi dito acima, o pedigree do garanhão Hugh Lupus teria, com a lista restrita, apenas seis nomes elegíveis (Tourbilion 2x, Rabelais 2x, Bayardo, Teddy), enquanto uma lista ampliada eleva estes nomes a 10 (mais Bruleur 2x e Djebel), fornecendo assim um quadro mais completo e especialmente util quando se compara a dosagem da reprodutora a ser enviada à cobertura com o garanhão.

Ajustes análogos serão necessários no que diz respeito aos vários ramos de St. Simon, que voltaram ao auge nos últimos anos. Só o de Chaucer estava bem representado na lista original, com o próprio Chaucer, Vatout e Bois Roussel e, no máximo, poder-se-á acrescentar Vatellor, cuja inclusão, aliás, me foi solicitada por vários correspondentes, mas é importante reexaminar os três ramos de Rabelais, Persimmon e Florizel lI.

Rabelais é também representado por Havresac II, mas a extraordinária sequência que tem origem neste ultimo dá motivo a que não se possa ignorar Tenerani e Ribot, e também Traghetto, que foi o mais importante expoente de Cavaliere d'Arpino na raça. Além disso, o ramo de Rabelais para Rialto também deve ser considerado por mérito de Wild Risk e Worden. A linhagem de Persimmon, era representada na origem por Prince Rose, mas os descendentes de Prince Rose estabeleceram um domínio clássico tão forte nos últimos anos que deverão ser incluídos na lista e é difícil escolher entre Prince Chevalier, Prince Bio, Sicambre e Princequillo, que possuem credenciais impressionantes na Inglaterra, França, Estados Unidos e alhures.

A linha de FlorizeI II só é importante em função de Massine e de seu filho Mieuxcé, mas em um panorama global de 100 garanhões nem um nem outro pode ser ignorado. Massine é um poderoso fator de robustez na criação francesa, enquanto Mieuxcé alcançou uma posiçao de proeminência através de suas filhas. Surge aqui o problema dos "pais de reprodutoras", que não foram considerados na lista original. Garanhões como Bachelor's Double e Clarissimus adquiriram fama eterna exclusivamente através do êxito de suas filhas e é extraordinário que suas influências positivas nos pedigrees sejam ainda sentidas, porquanto remontam, respectivamente, a cerca de sessenta e cinquenta anos atrás. Entretanto, no pedigree do "derby-winner" italiano Braccio da Montone o nome de Clarissimus surge, não além da terceira geração, como pai da avó do vencedor Bayuk. Na América do Norte há vários nomes de pais de reprodutoras a serem considerados seriamente, dos quais os mais ilustres são Sir Gallahad III, War Admiral e Mahmoud.

Além disso, não se pode desprezar Navarro, que, como pai de reprodutoras, só cede o primeiro lugar a Ortello no turfe italiano contemporâneo a talvez como índice qualitativo é mesmo superior ao próprio Ortello. Com exceção de Bachelor's Double, que eu colocaria no grupo dos robustos, sou levado a classificar todos os outros no grupo clássico, pela absoluta excelência de sua contribuição genealógica.

Incidentalmente, apresentam-se duas interessantes observações. Uma é que os garanhões norte-americanos, que muito raramente são elegíveis para o grupo clássico como pais de vencedores, são, ao contrário, representados "ad abundantiam" no mesmo grupo clássico como pais de reprodutoras. Esta com efeito, é uma das peculiaridades das estatísticas norte-americanas. Sua lista de pais de vencedores lamentavelmente é condicionada a distância média de suas corridas, mais a lista de pais de reprodutoras da lugar nas primeiras posições apenas aos cavalos de primeirissimo plano e de indubitável qualidade clássica. A segunda observação é que, ao contrário, os garanhões francêses, que se  sobressaíram como pais de grandes vencedores nestes ultimos anos, não parecem contar com nenhum expoente importante entre os pais de reprodutoras, com exceção de Sardanapale e Massine, que, porém, pertencem ao passado, e de Mieuxcé, que, todavia emergiu nesta especialidade na  Inglaterra. lsto não implica em que sejam menos eficientes do que outros neste setor particular, mas antes que seu êxito como pais de vencedores foi de tal forma grande que não têm necessidade de ser qualificados especificamente como pais de reprodutoras.

O setor pais de reprodutoras não estaria completo sem Foxbridge, fator básico do desenvolvimento na criação da Austrália e da Nova Zelândia, cuja presença permitirá uma leitura mais cuidadosa dos pedigrees daquela parte do mundo. Da mesma forma, o já lembrado Sardanapale deverá ser incluído em consequência de sua presença intensiva e constante nos pedigrees clássicos, não obstante o transcurso de mais de cinquenta aros de seu nascimento. SardanapaIe pertence a uma linha excêntrica, que de outra forma não seria representada na lista, e seu único produto de grande valor  nas pistas foi Apelle, que, por sua vez, se tornou um nome obrigatório através de Tofanella e dos descendentes desta, Tenerani e Ribot. A influência de Apelle, que foi considerado um cavalo de grande robustez, capaz de suportar qualquer "training", é nitidamente perceptível na síndroma de seus      descendentes, através das grandes reprodutoras Tofanella, Tokamura e Trevisane, mas, além disso, Sardanapale aparece frequentemcnte nas seções inferiores dos pedligrees franceses.

Entre os cavalos do passado que conferem mérito particular a um pedigree e que agora devo levar em conta afim de preencher as lacunas da seleção original, já mencionei Djebel e Bruleur e agora devo examinar Sir Cosmo, Colorado, Equipoise e Man O'War, todos nascidos antes de 1930. Sir Cosmo demonstrou saber exercer uma influência muito mais profunda do que se poderia deduzir de sua sindroma exclusivamente brilhante e aparece frequentemente na seção inferior de muitos indivíduos importantes recentes, sem contar que é avô materno do ex-campeão mundial de somas ganhas, Round Table, por sua vez reprodutor de futuro. Além disso, vale para Sir Cosmo, ao contrario, o que foi dito a respeito de Tourbillon e Bruleur no caso de Armistice, ou seja, quando examinamos um pedigree de um velocista inglês desta linha dispomos apenas do nome de Panorama como contribuição para um índice de consistência realístico, mas o acréscimo de Sir Cosmo no setor brilhante permite naturalmente uma avaliação melhor. Pode-se, portanto, afirmar  que em um pedigree tendencialmente de velocidade pura, a presença de Sir Cosmo equilibra a dosagem, enquanto em um pedigree tendencialmente clássico ou robusto, sua presença fornece aquela pitada de brio que é sempre indispensável e desejável.

Colorado foi rapidamente esquecido em sua época porque não chegou sequer a completar sua segunda temporada de monta; entretanto, nenhum reprodutor jamais foi capaz de gerar tantos cavalas qualitativos e importantes em um período de tempo tão restrito. Todos os seus filhos e filhas voltaram agora ao cenário, especialmente nas seções inferiores dos pedigrees ingleses, com possibilidades de ulterior  desenvolvimento em vários países europeus e americanos. Quanto a Man O'War, ele se tornou em fator por assim dizer obrigatório nos pedigrees dos Estudos Unidos e nem deveria ser preciso comentá-lo, mas poder-se-ia objetar que sua linha já é suficientemente representada por seu pai Fair Play, membro do grupo originário, e por seu melhor filho, War Admiral, ora eleito entre os pais de reprodutoras. Porém, a importancia desta linha cresce com os anos em lugar de diminuir, razão pela qual creio que a inclusão dos três nomes é justa. Entre os produtos importantes nascidos depois de 1930 e antes de 1940, merecem menção especial Brantôme e Bahram, ambos filhos de Blandford e cavalos de corrida de primeiríssima ordem. Sua avaliação exata foi impossível antes de agora, porquanto Bahram funcionou em vários países com sucessos alternados e Brantôme também foi transferido durante a guerra, razão pela qual não se lhe deu grande    importancia até uma época muito recente, havendo aliás a tendência de considerá-los genealogicamente modestos, mas com o passar dos anos a situação modificou-se completamente. Aprecia-se hoje em seu justo valor o trio deixado por Bahram na Europa: Persian Gulf, Turkhan e Big Game, para não falar em outros bons elementos além-mar, enquanto Brantôme, além do êxito de suas filhas na reprodução reprodutoras, estabeleceu através de Vieux Manoir uma fonte aparentemente inesgotável de vencedores clássicos.

Acrescentando aos nomes propostas o anglo-americano  Heliópolis e o anglo-argentino British Empire no setor          brilhante, o anglo-argentino Full Sail e os norte-americanos Eight Thirty e Roman no setor intermediário e o norte-americano Alibhai no setor clássico, temos os 25 nomes adicionais do passado que nos seriam uteis. Futuramente, será útil ver quais poderiam ser os 25 nomes recentes. ou sejam, nascidos depois de 1940, necessários para completar a lista final dos cem garanhões mais importantes do século.


                                           Fim


Franco Varola


Tradução: Ricardo Imbassahy