Epiphaneia, por Symboli Kris S e Cesario por Special Week (Sunday Silence), castanho, Japão, 2010, foi um cavalo de primeiro time no turfe japonês.
“A parte mais fraca de qualquer pedigree geralmente está na parte inferior.” Frederico Tesio ... "É sempre a mãe que melhora o pai, e não o pai que melhora a mãe." Jean-Joseph Vuillier
Epiphaneia, por Symboli Kris S e Cesario por Special Week (Sunday Silence), castanho, Japão, 2010, foi um cavalo de primeiro time no turfe japonês.
Elisie (F. Pereira Filho up), a melhor égua de sua geração, mais um cruzamento Reynato Sodré Borges. O Haras Tibagi nunca teve mais de 40 éguas em reprodução e produziu em 11 gerações à 18 vencedores de grupo.
Meu Caro amigo,
Na última carta eu figurava como exemplo (naquele lindo
sonho que tivemos), que a égua viria cheia da Europa para nascimento no 1º
semestre.
Então vamos pensar em adquirir éguas na Europa, cheias é
claro e compradas nos leilões de Newmarket ou de Deauville.
Lembro a classificação feita e, éguas de seleção são de
forma geral inegociáveis, pois seus possuidores não se desfazem delas ou nessa
possibilidade os valores pedidos são incompatíveis com o poder de compra da
nossa moeda e não ficam ao nosso alcance. Bom... há exceções, reconheço e
voltarei a elas no momento oportuno.
Restam então éguas de 1º time e do 2º time (não esqueça
que dada a cor local às de 2º, serão aqui de 1º time) que em muito melhorarão a
qualidade de nossos plantéis. Lembro a você que as éguas de seleção são aquelas
ganhadoras de provas de grupo e também éguas de campanha fraca ou sem campanha,
mas de boa linha materna e que produziram filhos ganhadores dessas provas
clássicas. O critério formador de seleção (como em futebol) varia com a
apreciação do técnico e mesmo com a época, mais ou menos rica de bons
exemplares. Já te disse que o julgamento para a escolha não é fácil e por isso
estabeleci essa comparação futebolística, tão bem entendida por todos nós.
Então, é indispensável estabelecer bons juízos para o julgamento seletivo. Nem
sempre a égua que ganha é a melhor. Ou melhor dizendo, não é somente o que
chega em primeiro, pois outros animais que se colocam no placar final são
merecedores de atenção, dependendo do desenrolar da corrida. E sempre a linha
materna deve dominar na escolha, não esqueça.
Conto um caso que é mais um ensinamento. Em um leilão de
potrancas francesas no Posto de Monta, o Haras Tibagi comprou AMETHYSTE, a
menor delas (1,50m), “quarteluda” dos pés, mal feita e não foi das de menor
preço, pelo contrário. Não vetei, porém não me entusiasmei pela compra mas, era
Celerina – Diavolezza enfim, Saint Astra, linha
das melhores do turfe francês. Não chegou a ganhar. Estreou com chance,
mas feriu os “machinhos” e fez papelão. Encaminhada a reprodução e com Nageur –
vencedor clássico de nobre pedigree e
correto tipo físico - produziu AMAZONE, vencedora de grupo. Veja você
como isto é sério e verdadeiro. A filha Amazone também não é grande, porém bem
feita e com qualidade, que demonstra mais uma vez que a linha materna é de
capital importância.
Também o nosso machismo pode servir de escolha na Europa
desde que você compre filhas de MILL REEF, RIVERMAN, CARO, LYPHARD e LUTHIER,
pois eles só servem éguas de seleção ou do 1º time, não só pelo preço das
coberturas como há implicitamente uma seleção, dado o número de solicitações.
Aqueles criadores que possuem mais de uma quota, enviam suas melhores éguas e
quando vendem uma cobertura é também para uma égua de alta qualidade.
O problema que preocupa os nossos criadores é o das éguas
importadas virem cheias para nascimento no 1º semestre. Eu também há alguns
anos achava isto um inconveniente, mas modifiquei meu ponto de vista. Cheguei
mesmo a propor a um dos nossos melhores criadores, a enviar éguas nacionais de
seleção e prenhas de garanhões nacionais, também de seleção, - cheias em temporada
europeia – para que seus produtos corressem primeiramente na Itália e Alemanha.
À primeira vista parece uma atitude pretenciosa, mas não a mim, que acho que o
cavalo bom, é bom em qualquer parte do mundo. É, sem dúvida, dispendioso, mas
não a quem quer projetar sua criação na Europa, usando como cabeça de ponte
turfes com qualidade técnica similar ao nosso, e daí ter a possibilidade de
abrir um mercado ao nosso PSC. Mas, voltando ao nascimento europeu (1º
semestre) dos produtos de éguas importadas cheias. Já tínhamos o exemplo de
ADIL (Epigram), QUIPROQUÓ (The Phoenix) e PLATINA (Blue Train) para citar os
que foram excepcionais no nosso turfe. Eles eram resultantes de seleção com
seleção? Não, e no máximo do bom com bom. E repare que tiveram campanhas longas
e clássicas e foram criados como os seus contemporâneos de haras, porém têm
eles um denominador comum que é o fato de suas mães os terem aleitado sem estar
gerando outro em seu ventre. É frequente em haras de ponta europeus, os
criadores não servirem suas éguas todos os anos e isto me chamava a atenção.
Verifiquei mais tarde, que os produtos das éguas que pariam no 1º semestre em
nossos haras, serem comparativamente mais fortes que os de nascimento normal
(2º semestre) e isto só se pode justificar pelo fato da égua dar tudo ao recém
nato e não ter que dar nada a um produto em gestação.
O interesse comercial é que força os criadores a quererem
que suas éguas tenham produtos todos os anos. E não sabem alimentar... Em 1964
estive no Haras de Jardy e conversando
com o stud groom, disse-me em resumo,
que a égua vazia come x, a que está prenha come 2 x e a com cria 3 x. E isto é
lógico e de bom senso.
Dentro da lei natural, a fêmea quando aleita, não ovula.
As mulheres simples sabem disso, (que quando aleitam os filhos até 1 ano ou
mais, não engravidam). A égua também e só ovula pela excitação do macho (daí a
rufiagem) ou com artifícios medicamentosos. E 1 ou 2 meses após o desmame,
apresenta ciclos com ovulação, mesmo sem rufiagem. Então a lei biológica é
contrariada na criação do cavalo de puro sangue de corrida.
Meu caro, pense nisso tudo. Reflita, pois é coisa nova entre
nós e acredite trará sorrisos aos céticos. Mas estou fazendo o que me pediu,
isto é, dando orientação. Também não falo que faças só o que aconselho, mas
peço que reflita sobre eles.
Então quando tiveres uma égua que venha a parir no tarde
novembro ou dezembro, não se preocupe e a sirva em fevereiro ou março.
Constatarás que estes produtos serão melhores fisicamente que os com nascimento
no final do 2º semestre e isto porque a égua aleitará, no mínimo, 5 meses, sem
ter desgastes pela gestação de um novo produto. Insisto que medite sobre o que
disse, pois acho que em sua política de élevage
poderás usar desse artifício com sucesso.
Voltando às éguas enviadas para a Europa, para parirem lá
e voltarem cheias. Os grandes garanhões de seleção não cobrem no 2º semestre e
assim elas só poderiam ser dadas a garanhões do 2º time e que não sejam
sindicalizados. Ora, esta possibilidade não nos interessa, pois nossos
garanhões de seleção são bons e a
cobertura não seria tão dispendiosa. Não há dúvida que você sempre poderá
encontrar um garanhão de 1º time e que seja propriedade de apenas um haras, e
posso citar EMBUIA, mãe da notável EMERALD HILL. Embuia é filha da craque
EMOCIÓN que foi levada à Europa para ser servida por SUNNY BOY, garanhão de 1º
time na França e que foi líder das estatísticas francesas de 1954.
Já expostos os não óbices do nascimento europeu, você
poderá enviar a égua do nosso sonho para ser coberta por um bom garanhão da
França, Inglaterra ou Irlanda. Nesse caso deves recorrer a agências como a
Flying Fox em Paris ou a B.B.A. em Londres. Elas possuem quotas de garanhões,
ou procuram daquele que desejar (é óbvio que são muito caros se forem do 1º
time). Também cuidam dos haras onde poderão estacionar, enfim de tudo que você
precisar em assunto turfe e são instituições corretas e merecedoras de
confiança.
Gostaria de alertar você para o fato de que só se vende o
que não se gosta. Caso um criador tenha 3 éguas da mesma linha, ele poderá
vender uma, e evidentemente, a que menos goste. Normal esta conduta, e então
observará que as melhores éguas que importamos, mesmo por elevado preço (para
nós), possui algum defeito, ou os pais são do 2º time e eventualmente do 1º
time. Ter um pai de 2º time, no meu modo de ver, é secundário para a nossa
criação, que está sempre ávida de boas linhas maternas.
E aí, chega um amigo seu, e “entendido”, e diz: como ele
só elogia as linhas maternas e tal égua que venceu um grande clássico, têm
ascendentes maternos desconhecidos? Você poderá retrucar, em meu nome, que isto
ocorre (raramente) e ocorreu durante 200 anos e assim se firmaram determinadas
éguas, como “éguas base”. E essa ganhadora, confirmando performances
semelhantes, poderá também criar a sua linha, mas isso só o futuro confirmará.
Mas sem fazer blague, aconselho você a comprar a que tirou 2º lugar tendo boa
linha materna.
Resumindo: forme seu plantel com estas 4 diretrizes:
1 - Compre potrancas em leilão que tenha boa filiação e com uma linha materna dominante, que sejam possuidoras de bom físico e oriundas de haras com bom padrão de criação.
2 - Compre éguas cheias que tenham boa linha materna e sendo possível, de haras em liquidação. Há um sucesso mundial nos leilões de liquidação, em razão de tudo ser vendido. Não há reserva e nem defesa.
3 - Comprar na Europa, éguas cheias de boa linha materna, mesmo (e são estas que estão à venda) com coberturas de garanhão de 2º time.
4 - Sempre estude os catálogos para identificar o ritmo de parição das éguas ofertadas cheias (se for uma égua com baixa fertilidade não interessa por melhor que seja o seu pedigree), o percentual de seus produtos que correram e o percentual de ganhadores.
E não se esqueça que o que se vende é sempre o que não se
gosta, mas não constitui óbice, pois se os gostos fossem iguais, o que seria do
amarelo. Lembre o que relatei da Amethyste, porque ela foi vendida tendo tão
boa linha materna? Porque além de pequena, era mal feita e ficaram na Europa
com outras melhores de físico e da mesma linha. Custou caro, mas valeu a pena.
Já estava no fim desta carta, quando chegou a sua pedindo
uma relação das boas linhas maternas do nosso turfe. Aí me complicou. Não tenho
mais aquela memória angélica da mocidade. Poderei citar somente algumas,
prometendo porem analisar as éguas ou potrancas que você estiver selecionando.
Os nossos catálogos são incompletos e quando muito, vão até a 3ª geração. Você
já deve estar assinando a “British Bloodhorse” e a “Course et Élevage” e
verificando como se faz um pedigree (até a 5ª geração e análise da linha
baixa). E quando folhear os catálogos de Deauville e de Newmarket, verá como
são bem esclarecedores. Mas vamos lá...
A linha da TACY e a da NUVEM me parecem excepcionais sendo
que esta égua deu 2 ganhadores do Cruzeiro do Sul – Derby brasileiro, TIMÃO e
ZUIDO, além de DIESE uma vencedora do Diana, todos pelo garanhão de seleção SWALLOW
TAIL, o que a primeira vista parece ser um nick
felicíssimo. Esta performance para uma mare
é gigantesca (faltou superlativo). A da NAVE também é boa e a de CARAN (EGEU,
HOMERO e GOLDANA), com garanhões diferentes e assim demonstrando que a boa era
ela mesma. A linha da EMPEÑOSA (EMERSON e EMPYREU) é também excepcional, assim
como a da DUTY (DULCE). Da CANTATA (agora LONG LADY, ganhadora da Taça de Ouro,
é filha da CANDI que é CAPRI que é CANTATA). A linha da JACUTINGA está
brilhando também. A explosão no Brasil da EASTERN SWAN e a da A.A. deverá
continuar.
As linhas europeias, são muitas e faltam-me dados além da
memória, assim como para as argentinas.
Para melhores esclarecimentos e detalhes, consulte o
Carlos Roberto Martins Costa, grande conhecedor do assunto.
Reynato Sodré Borges
Tebas – maio - 1979
Dr. Franco Varola e o o presidente Juscelino Kubitschek, durante as festividades do GP Brasil.
(continuação)
Deveríamos seguir a análise relativa aos garanhões chefes-de-raça, e nos dedicarmos inteiramente às verificações estatísticas, mas, entrementes, o argumento foi reiniciado por uma voz bem mais prestigiada do que a minha, a da sra. Vuillier que, em uma entrevista, explicou os critérios elaborados por seu falecido esposo e até agora seguidos nas criações do Aga Khan. A sra. Vuillier admitiu também que, com o envelhecimento da série que compreende os nomes de Bend'Or, Hampton, Isonomy, Hermit, Galopin e St. Simon, tornou-se necessário preparar uma nova série, relativa ao primeiro período de nosso século; não disse porém quais sejam os nomes escolhidos e não a podemos condenar por isso, porquanto as criações do Aga Khan constituem uma empresa de tal importância que a ela se aplica o critério do "segredo de fabricação", da mesma forma que tantas outras empresas de diferentes ramos produtivos. Assim, permanece aberto a todos o exame desse fascinante argumento.
Inicialmente é oportuno perguntar: que desenvolvimento tiveram os nomes indicados pela sra. Vuillier em sua última série e que outros nomes lhe foram acrescentados nesse ínterim? Constitui uma grande homenagem ao estudioso francês o fato de que, ainda hoje, a maioria dos nomes importantes que se assinalaram de 1900 até agora, descende das cinco estirpes por ele indicadas, embora o aumento da produção do puro-sangue e, ainda mais, a grande expansão geográfica das corridas e da criação, tenham necessáriamenle projetado e valorizado outras estirpes que já não se podem ignorar. A situação atual pode ser resumida da seguinte forma:
1 - Isonomy manteve sua refinadíssima expressão clássica e conta, neste século, com pelo menos sete garanhões fundamentais: Swinford, Blandford, Blenheim, Donatello II, Alycidon, Big Game e Ticino.
2 - A sequência Galopin-St.Simon, continuou a mostrar uma extraordinária vitalidade e conta pelo menos com uma dúzia de representantes cujo estudo é imprescindível: Chaucer, Rabelais, Havresac II, Prince Rose, Prince Rio, Sicambre, Wild Risk, Worden, Vatout, Bois Roussel, Alcantara II e Mieuxce.
3 - A descendência de Ben d'O subdividiu-se em vários ramos de grande prolificidade e de alto rendimento, tanto que nada menos de dezoito garanhões são hoje necessários para caracterizá-la inteiramente: Ortello, Sir Gallahad III, Bull Lea, Asterus, Fairway, Cicero, Chateau Bouscaut, Fair Trial, Pharis, Clarissimus, Bachelor's Double, Orby, Panorama, Phalaris, Teddy, Pharos, Nearco e Nasrullah.
4 - O grupo Hampton manteve suas características fundamentais de solidez e alto rendimento, muito embora. como já citei a "fashionability" de Hyperion tenda a obscurecer nosso julgamento sobreos efetivos méritos intrínsecos desse garanhão e de seus descendentes. Em todo caso, pelo menos oito descendentes de Hampton devem ser tomados em consideração: Gainsborough, Dark Ronald, Son-in-Law, Hyperion, Aureole, Bayardo, Solario e Oleander.
5 - Enfim, a descendência de Hermit é a única que que se desenvolveu de acordo com as previsões e o único produto a ela pertencente, nascido neste século, ao qual se pode atribuir uma influência nos pedigrees clássicos contemporâneos é La Farina, aliás surgido há cerca de cinquenta anos. Até aqui, limitamo-nos à última série de Vuillier. É preciso agora examinar o que fizeram entrementes as outras estirpes e, antes das outras, as duas que produziram os fundadores Herod e Matchem. Estas foram representadas na primeira série de Vuillieir, mas omitidas tanto na segunda como na terceira e última séries.
6 - Herod conta, em nosso século, com pelo menos cinco indivíduos importantes: Bruleur, Tourbillon, Djebel, The Tetrarch e King Salmon.
7 - Matchem possui quatro indivíduos fundamentais: Hurry On, Man o'War, Fair Play e Precipitation.
E, finalmente, é preciso indicar as estirpes que produziram Eclipse, e que se salientaram fora da terceira série de Vuillier, existindo pelo menos seis, que indicarei da seguinte forma:
8 - A extraordinária sequencia Rock Ruod - Tracery - Congreve.
9 - O grupo formado por Sunstar, Admiral Drake e Count Fleet.
10 - O imprescindível Spearmint.
11 e 12 - Os norte-americanos Black Toney e Equipoise.
13 - O prematuramente desaparecido Navarro, um dois maiores pais de reprodutoras de nossa época e único expoente da outrora poderosa linhagem de Melton, ainda vivo na lembrança geral.
Temos assim um total de 65 garanhões importantes no decorrer desse século e, se quiséssemos apenas estender a admissão aos que dominaram em certos países sem porém ultrapassar-lhes os limites - tais como Foxbridge na Austrália, Fremonto na Bélgica, Traghetto na Itália, Postin no Peru e muitos outros na Inglaterra e na França - chegaríamos facilmente a uma centena.
Mas é evidente que uma série de Vuillier, ainda que ilimitada, não pode compreender um número tão grande de nomes e isso por duas razões pelo menos:
a) em lugar de oferecer um ponto fixo ao criador, confundi-lo-ia, por colocar diante de si uma lista ampla demais para ser posta em prática;
b) os 65 garanhões citados distribuem-se por um período de meio século, de Chaucer (1900) a Aureole (1950), que é uma contradição em termos com relação ao conceito vuillieriano de série.
De fato, esta, por assim dizer, deve fotografar (os pontos de passagem compulsória em um determinado momento; os garanhões de uma série devem representar, se me permitem a comparação, as Termópilas no plano dos cruzamentos de um criador. E portanto, se quisermos atualizar Vuillier, devemos formar uma série localizada o mais possível por volta do princípio do século e constituída por número não superior a uns vinte nomes, tentativa essa que foi justamente a razão do livro 'Garanhões Chefes-de-Raça".
Mas, dizíamos que se pode e se deve fazer o controle estatístico, porém desde que seja feito com cautela. No caso de Vuillier, a unidade de medida foi dada por um certo número de corridas clássicas. Naquela época, a identificação entre corrida clássica e cavalo superior era quase absoluta. Em nossos dias, as coisas são diferentes. Os ricos "handicaps", as provas propagandísticas e os prêmios ''mamute", em vários países entre os quais até mesmo a tradicional Inglaterra desligaram um pouco a ideia da antiga fórmula do campeão absoluto. Talvez a única corrida que atualmente mantém unia identidade perfeita entre grande prêmio monetário e excelência qualitativa do campo dos participantes, ano após ano, seja o "Prix de l'Arc du Triomphe". Portanto, no momento em que nos dispomos a escolher a unidade de medida do cálculo estatístico (o que em inglês se chama "yardstick" e na linguagem de nossos pesquisadores de mercado, "campeão"), somos obrigados a exercitar nosso senso crítico para distinguir, no acervo das grandes provas hípicas de hoje, as que efetivamente possam servir ao nosso objetivo. Qualquer estatística associada a uma pesquisa, portanto, é um compromisso entre a vastidão da matéria e o rigor que se deseja aplicar a própria pesquisa.
Tenho em mãos um cálculo feito sobre 77 vencedores das grandes provas internacionais dos últimos anos, escolhidas entre as principais provas deste tipo na Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Estados Unidos, Argentina e Brasil. O método consiste em tomar o pedigree de cinco gerações do animal vencedor e assinalar um número de pontos a favor de cada um dos 31 antepassados nele constante.
Apresentam-se imediatamente duas objeções: primeiro, o critério de atribuição dos pontos é arbitrário. Pode-se responder que o resultado final do somatório para cada um desses campeões é limitado com relação a totalidade de toda matéria pesquisada. Além disso, esse resultado é amplo, ganhando em extensão o que perde em profundidade.
A segunda objeção é mais complexa. É verdade que, segundo um dos princípios básicos da genética, a influência de um antepassado é maior na primeira geração do que na segunda; maior na segunda do que na terceira, e assim por diante. Costuma-se dizer, com efeito, que os dois pais contribuem com 50% para o patrimônio genético, os quatro avós com 25%, os oito bisavós com 12,55, e assim por diante. De fato. Vuillier seguiu aproximadamente este princípio na elaboração da teoria da dosagem. Por outro lado, alguns autores seguem um sistema de contagem por pontos, semelhante ao que é usado no jogo de "bridge", conhecido como sistema Goreli, ou computo absoluto, e oposto ao sistema Cutbertson ou computo relativo. Em seu excelente livro ''Bloodstock Breeding", sir Charles Leicester atribui 4 pontos a cada presença na primeira geração, 3 pontos na segunda, 2 pontos na terceira e 1 ponto na quarta, quando examina os pedigrees dos vencedores do Derby de Epsom. Aliás, em toda a obra, permanece fiel ao pedigree de quatro gerações. Eu próprio, em "Garanhões Chefes-de-Raça", adotei as quatro gerações para o cálculo do eventual "inbreeding" dos garanhões examinados. Trata-se, com efeito, neste caso, de um dado sintético, cujo valor se dividiria se atribuído a um número maior de antepassados. Praticamente, todos os cavalos têm um ou mais ''inbreedings" da quinta ou sexta geração em diante. Mas quando se trata de calcular as presenças de antepassados que, em muitos casos, remontam ao principio do século parece-me que só um pedigree de cinco gerações pode dar à pesquisa a sua justa perspectiva. Cinco gerações correspondem, grosso modo, a meio século, como no exemplo clássico de Ribot (1952), cujos cinco antepassados diretos são Tenerani (1944), Bellini (1937), Cavaliere d'Arpino (1926), Havresac II (1915) e Rabelais (1900). Assim, quando examinamos as cinco gerações de um vencedor atual, abrangemos, quase sempre, meio século.
Como o objetivo de nossa pesquisa é conhecer os nomes dos garanhões com maior frequência presentes nos pedigrees e não necessariamente saber se neles ocupam uma posição mais próxima ou mais distante, acredito que o critério da proporcionalidade usado por "sir" Charles não é indispensável e que é suficiente atribuir um ponto para cada presença.
Segundo este método, os setenta e sete vencedores das grandes provas internacionais no período 1957-1961 apresentam as seguintes presenças de garanhões chefes-de-raça: Chaucer 68, Phalaris 64, Polymelus 49, Swynford 47, Bayardo 46, Gainsborough 44, Teddy 41, ,St. Simon 41, Ajax 35, Blandford 34, Rabelais 33, Phalaris 32, Havresac II 29, Dark Ronald 28, Son-in-Law 28, Spearmint 28, Tracery 28, John O'Gaunt 25, Bay Ronald 25, The Tetrarch 25, Marcovil 25, Hurry On 23, Sans Souci II 21, Hyperion 20, William The Third 19. Persimmon 18, White Eagle 18, Sundridge 18, Friar Marcus 17, Gallinule 17, Desmond 16, Sunstar 16, Cyllene 16, Minoru 16, Nearco15, St. Frusquin 15, Cicero 14, Perth 13, Sardanapale 14, Rock Sand 11, Carbine 13, Blenheim 12, Bruleur 12, Tredennis 12, Alcantara II 11, Charles O'Malley 11, Chouberski 11, Bachelor's Double 11, Gay Crusader 11, Roi Herode 10, Marco 10, Perrier 10 e Buchan 10.
Setenta e sete "pedigree" de cinco gerações, contendo cada um 31 nomes masculinos, perfazem um total de 2.387 presenças. Estas são divididas entre 616 garanhões diferentes, dos quais citamos acima apenas os que têm pelo menos 10 presenças, que são 53 animais diferentes. Totalizam 1.239 presenças, isto é, menos de 100 dos garanhões representados absorvem mais da metade das presenças. Isto demonstra o predomínio de pouquíssimos e prepotentíssimos garanhões sobre a grande massa dos reprodutores, em paradoxal contraste com a noção corrente, segundo a qual o puro-sangue deve ser o animal selecionado por antonomásia. Convém observar ainda que os quatro primeiros garanhões - Chaucer, Phalaris, Polymelus e Swynford - que são menos de um por cento do total, representaram, só eles, cerca de dez por cento do total das presenças (228).
Um outro fato que impressiona imediatamente é que Chaucer, Polymelus e Swynford ocupam uma posição predominante (a presença de Polymelus é devida quase exclusivamente a seu filho Phalaris) e que estes três reprodutores são provenientes do Stanley Stud; isto indicaria que, tomado como centro de criação individual, Stanley Stud foi o mais poderoso fator de propagação hereditária do puro-sangue em qualquer parte do mundo. Além disso, acredito que, mesmo ampliando dez vezes o campeão examinado, não haveria grande modificação nos resultados no que diz respeito aos citados primeiros nomes da lista. Observe-se ainda que, dos 20 + 30 garanhões examinados em "Garanhões Chefes-de-Raça", 23 são mencionados na lista parcial acima, enquanto outros 23 figuram 9 menos vezes. Os únicos que não comparecem de forma alguma são Bull Lea, Château Bouscaut e Panorama. Os dois primeiros seriam mencionados se o campeão pudesse ser levado a alguns anos antes, enquanto Panorama representa um caso diferente. Todas as corridas que contribuíram para a pesquisa são corridas de distância e, portanto, é bastante raro que um filho ou descendente de Panorama tenha tomado parte nelas, embora pudesse haver um vencedor na seção feminina do pedigree com o nome de Panorama.
Phalaris
Por outro lado, em um estudo critico que inclua a totalidade da raça, o nome de Panorama não pode ser omitido, porquanto representa o paradigma contemporâneo do velocismo puro, ou seja, um dos conceitos básicos da seleção e como distinguimos os nomes dos "stayers" puros, também devemos assinalar os dos mais importantes "sprinters". Em outras palavras, o desenvolvimento da raça ocorre com a contribuição de todos os fatores positivos e se entre estes encontra-se Son-In-Law pela mesma razão também deve estar Panorama.
Como já indiquei, Polymelus ocupa uma posição elevada em uma lista baseada nas presenças nos pedigrees devido a seu filho Phalaris. Mas quem ignora êste particular pode pesquisar o sangue de Polymelus em si e por si. O que seria coisa inteiramente ociosa. Para todos os fins práticos, o nome de Polymelus é hoje representado por Phalaris, tanto é verdade que nem mesmo julguei necessário incluir o nome de Polymelus entre os 12 garanhões do grupo Bend'Or citados no início deste artigo.
Mas também erraria quem pretendesse aplicar este conceito indiscriminadamente a todas as sequencias pai-filho que aparecem nas estatísticas e considerasse as 46 presenças de Bayardo devidas principalmente à existência de Gainsborough, que tem 44. Na realidade, Bayardo tem uma importância fundamental nos pedigrees, até mesmo prescindindo do notável desempenho de Gainsborough como reprodutor. Entretanto, encontramos pouco mais adiante um caso, semelhante ao de Phalaris-Polymelus, com Teddy-Ajax. A importância assumida por Teddy é tal que o nome de Ajax se tornou secundário, embora tenha dada classe a mais de um pedigree isento do sangue de Teddy; é suficiente pensar em Havresac II, cuja mãe, Hors Concours, é justamente uma filha de Ajax. Mas vejamos um caso ainda mais patente: Blandford conta com 34 presenças, enquanto seu filho Blenheim conta apenas com 12 e Charles O'Malley, avó materno de Blenheim, com 11. Temos aqui uma situação na qual é fácil perceber que Blandford fez sentir sua influência através de uma pluralidade de descendentes dos quais Blenheim só representa um entre muitos, embora seja o mais importante. Mas, por sua vez Charles O'Malley, garanhão totalmente obscuro e que nem mesmo seria lembrado hoje não fosse a reprodutora Malva, surge naestatística, evidentemente, só porque existe Blenheim surge, enfim, em função de Blenheim. Mas é evidente que em qualquer escolha critica de garanhões o nome de Charles O'Malley jamais poderia ser tomado em consideração porque, sejam quais forem suas virtudes, vem a ser automaticamente representado quando é escolhido o nome de Blenheim, e Blenheim é um nome que nunca pode estar ausente de uma lista de Garanhões Chefes-de-Raça.
Vemos assim emergir dessa contagem duas tendências opostas e distintas: uma é aquela em que as presenças diminuem de pai para filho, ou seja, Swynford 47, Blandford 34, Blenheim 12. Neste caso, temos uma sequencia que deve ser considerada em conjunto, porquanto cada um de seus componentes demonstra não ter' transmitido suas qualidades a um só filho, mas a uma pluralidade de descendentes.
Portanto, um criador que raciocine em termos práticos deverá não só pesquisar o sangue de Blenheim mas também o de Blandford e até mesmo o de Swynford, quando se apresentar, por outra via que não seja Blandford. O caso oposto é o de Cyllene 16, Polymelus 49, Phalaris 65, em que é evidente que cada pai se manifesta em termos concretos através de um só filho. Portanto o criador que pesquisa Phalaris não precisará pesquisar separadamente Polymelus e Cyllene.
(continua)
Manacor (Edson Ferreira up), outro craque do Haras Tibagi, um campo de criação que deixou saudades. Mais um primoroso cruzamento de Reynato Sodré Borges.
Obs.: Dr. Sebastião Ferreira, Chanchão, um amante do PSI, como todo empresário de sucesso, sabia que cada setor de um empreendimento bem sucedido deve ser "tocado" por especialista. Quanto a pedigrees, adorava conversar sobre cruzamentos, mas, jamais palpitou ou achou que sabia o que não sabia. E assim foi em seu Haras Tibagi...
Meu Caro amigo,
Vamos continuar com o plantel, pois fiquei receoso que
interpretando o que afirmei (que as éguas são principais) conclua que os
garanhões valem pouco. Nada disso, o que já falei é que o número de garanhões
de 1º time é escasso no nosso turfe. De seleção estamos em busca de
companheiros para Waldmeister, lembrando que de um ano para outro podem surgir
nomes novos, como aconteceu agora na França com Caro e Lyphard.
Mas continuo na linha materna. Folheando a British Race
Horse encontro o nome de MORE SO (1000 Guinéus da Irlanda) com Credenda como
quinta mãe. É também da linha materna de Roland Gardens (2000 Guinéus) e que
possui como quinta mãe Jury, da linha da Credenda (que acham os ingleses fazer
parte das suas 20 melhores linhas maternas). Mas a pesquisa continuou e no
ganhador do Derby que foi SHIRLEY HEIGHTS, encontrei como quarta mãe a King’s
Cross, uma filha de King Salmon e Doublure, isto é, irmã inteira de
Belbroughton que é a terceira mãe de CORPORA, garanhão incompreensivelmente
desprezado por nosso tufe que o colocou no 3º time, apesar de ser o único filho
de RIBOT a vir para a nossa criação, tendo ganho prova de Gr.2, tirando
terceiro nos 2000 Guinéus e quinto no Derby de Epson, perdendo o favoritismo nas apostas
nos últimos minutos para Relko que foi o ganhador. Na primeira geração deu 2
ganhadores clássicos, mas foi imediatamente crucificado pela incompetência da
maior parte de nossos treinadores que reputaram seus filhos como “difíceis de
treinar por serem muito sanguíneos”, consequentemente os criadores o
abandonaram. Infelizmente o nosso turfe patina na mediocridade da falta do profissionalismo em todos os setores, menos no veterinário, e a cada ano que passa o buraco no qual se encontra é mais profundo.
Semelhante foi o destino de Romney, uma criação Aga Khan
de pequeno porte e cuja produção foi desprezada por ter o mesmo tipo físico
do pai. Ele era um filho de Mahmoud e Lover’s Path, tendo esta ganho
importantes provas aos 2 anos e filha de Fairway na Trustful, filha de
Credenda. Com um número pequeno de filhos (4 e 5 por ano) chegou a ser líder da
estatística nacional e pai de JOIOSA, a melhor égua já nascida no Brasil.
Antes desses garanhões citados, passou-se o mesmo
esperdício com Bala Hissar (líder de Free Handicap), um Blandford na Voleuse e
esta uma mãe deTeft e Le Voleur, bons ganhadores mas não chegando ao plano
clássico, pois na época só existiam 5 provas clássicas (2000 Guinéus, Derby,
St. Leger e a Ascot Gold Cup). Comprado pelos irmãos Seabra junto com
Felicitation, houve demora na chegada (época da 2ª Guerra Mundial) o que os fez
comprar Hunter’s Moon que já estava na Argentina e produzindo muito bem. E
assim com 3 garanhões e poucas éguas, anunciaram a venda de coberturas como se
fazia na Europa. Aqui, não houve o menor interesse e Bala Hissar mesmo com poucos
filhos e assim mesmo deu inúmeros ganhadores clássicos. Veja então, meu bom
amigo, que por essas e outras é que somos um país de miséria dourada e o
esperdício caracteriza nossa ignorância. Não veja nenhuma crítica aos Seabra,
pois dentro de sua política de élevage – são dos poucos que a possuem – o
aproveitamento de Hunter’s Moon fazia-se principal, pois já tinha 16 anos e
Bala Hissar e o Felicitation, que foi muito melhor corredor (Ascot Gold Cup de
1934 sobre THOR e HYPERION) podiam aguardar as suas vezes por serem muito mais
novos. E o aproveitamento imediato de Hunter’s Moon se mostrou acertado pois
foi um belo pai, produzindo em seu breve período no haras os clássicos Fairplay, Panchito, Acapulco, Loretta, Accordeon,
Lover’s Moon, Park Lane, Rugendas, Scaramouche, Rumor, Silfo e Algarve, e como
avô materno só para citar um exemplo o foi do craque Lohengrin. Volta e meia
terei que fazer referências aos Seabras, pois o turfe brasileiro deve a eles o
seu maior avanço.
Sempre deverás ter em mente ao buscar um garanhão, principalmente se o quiseres importar, em não se deixar levar pelas indicações da maior parte dos agentes, cujo principal e quiça único interesse são as comissões. De forma geral indicam os conhecidos matungos de régio pedigree e mais defendem as comissões pagas pelos vendedores do que o futuro de sua criação. Além de comumente praticarem sobrepreço para defenderem “mais algum por fora”.
Tenha em mente a lição do campeoníssimo garanhão CIGAL que
serve no Haras Palmital – Antonio Jorge Ribeiro de Camargo – em Curitiba. Ele
era treinado por Harry Wragg e foi contemporâneo de cocheira de PSIDIUM
vencedor do Derby de 1961. Ambos nasceram em 1958. Cigal sempre foi a estrela
da cocheira e Psidium não conseguia o acompanhar nos treinos. Mas
lamentavelmente em sua estreia e única
corrida sentiu o tendão e terminou descolocado. Foi tentado durante 1 ano a sua
cura e sem sucesso acabou sendo exportado para o Brasil aos 4 anos por
indicação direta do seu treinador. Então essa é um receita excelente para o
pouco poder de nossa desvalorizada moeda, a de “pescar” através de boas
referências esses cavalos que por distintas razões não puderam expressar nas
pistas todo o seu potencial. José Paulino Nogueira – Haras Bela Esperança - é
um craque em “pescar” esse tipo de cavalo para garanhão, todos os por ele
importados obtiveram sucesso (TINTORETTO,
SEVENTH WONDER, EBOO e PHARAS).
Vamos conversar sobre a pelagem, pois certamente terá suas
preferências. Mas peço que não tenha “implicâncias” com determinadas pelagens.
A pelagem não faz parte dos critérios para a apreciação da qualidade de um puro
sangue de corrida. Em 10.000 nascimentos cerca de 7.500 são castanhos, 2.000
alazões e 500 são tordilhos. É evidente que o maior número de bons cavalos no
mundo turfista é de pelagem castanha.
Pesquisando no Leicester
(edição de 1957) e espero que já tenha mandado buscar o seu e se não o fez ainda, peça 2 exemplares da 2ª edição e eu ficarei com um, encontrarás um belíssimo
estudo sobre os ganhadores do Derby de 1900 a 1957. Em sua homenagem, contei as
pelagens e encontrei 43 castanhos, 11 alazões e 3 tordilhos, o que dá
aproximadamente o exposto acima, 75%, 20% e 5%.
Existe uma historinha árabe,
contada por Tesio que me atrevo a traduzir do italiano; um velho e um garoto
montaram seu camelo e meteram-se no deserto, fugindo de beduínos a cavalos que
queriam matá-los. Quando o camelo começou a dar mostras de fadiga, o velho
perguntou ao jovem qual era a cor da pelagem do cavalo que vinha na frente;
alazão disse ele ao que o velho retrucou, este é veloz mas vai parar mais
rápido. Mais adiante nova pergunta e o jovem informou que era tordilho e novo
resmungo do velho, este para também. Mais tarde nova pergunta e o garoto
informou que era castanho e o desespero chegou, dizendo o velho: “estamos
perdidos e encomendemos nossas almas a Allah.” Só que a história não conta se o
camelo já não estava esgotado...
Quanto as marcas brancas,
também não dê importância. Quando comecei nas corridas de cavalo, ouvia ditos
curiosos entre velhos treinadores, que diziam que um potro cruzado (pata e mão
oposta marcadas de branco) era sempre bom. Para o calçado de 3 membros diziam:
“não o vendas por dinheiro algum.” Mais tarde vim a saber que os franceses
dizem há mais de 200 anos: “balzane de trois, cheval de Roi.” E havia nítida
implicância com o animal calçado das quatro patas e deles diziam que eram
péssimos corredores. Essas marcas nos quatro membros, são menos comuns e dentro
da proporcionalidade o número de cavalos bons é também menor. Mas, não esqueça
que entre outros, o notável HYPERION era calçado das quatro. Também o magnífico
THE MINSTREL, ganhador do Derby e com duas segundas colocações nos Guinéus
(inglês e irlandês), é um lindo alazão com frente aberta e calçado das quatro
patas. Assim meu caro estas marcas são como dizem os franceses, meros sinais de
beleza. Caso sejam bem colocadas embelezam o animal, caso contrário, o enfeiam.
Não possuem valor na apreciação da qualidade.
Agora, estou certo que já
podes pensar na política de élevage que
vais adotar. A política do Haras Guanabara, que é a mesma do élevage Aga Khan, é a que mais me
agrada. Buscar o “hibridismo” com garanhão sem inbreeding até a quarta geração, cobrindo éguas livres de
consanguinidade também até a quarta geração. O que lhe dará um produto com
pedigree aberto até a quinta geração. Não é fácil esta conduta no nosso turfe em
razão do pequeno stock genético de
qualidade. Não que a consanguinidade seja prejudicial, existe um aforisma que
diz que a melhoria das raças é conseguida através da consanguinidade, mas o
perigo é o de não saber compor e principalmente exagerar a mão. Esse é um tema
que foge de uma carta e o deveremos tratar pessoalmente, principalmente
convidando o Franco Varola para nos ministrar aulas. Já mandei inclusive
importar uma caixa de um ótimo Chianti para nossa próxima reunião.
Me lembrei agora de
CORONATION (filha de 2 meio irmãos) que venceu grandes provas na França e até o
Prix de L’Arc, nervosa e dizem que difícil de treinar e por ser estéril nada produziu
no haras. Já sua irmã inteira Ormara, que não correu, com Venture VII produziu Locris que foi muito bom cavalo na Europa e está sendo ótimo garanhão no Brasil
(importação de Roberto Seabra).
Imagine ou melhor sonhe - e
o grande sonho não deve ter limites – que Papai Noel nos deu (e estou nessa) um
produto filho do The Minstrel na Madelia. Não nos preocupemos agora se será
macho ou fêmea (a cavalo dado não se olha os dentes, já dizia um Conselheiro
Acácio qualquer), mas certamente será alazão como o pai e a mãe. Ele será
protegido na primeira infância, só comerá um pouco de aveia aos 3 meses e
dissolvida no leite, receberá as vacinações indispensáveis, mas só fará
vermífugo se o exame de fezes mostrar infestação. O desmame será feito em
moldes modernos, evitando assim tensões que o possam marcar para o futuro. Amansamento perfeito, relação homem-cavalo
sem atritos, sem violências. Novos estudos de seu pedigree e encontramos como
avô paterno a Northern Dancer e avó
paterna a Fleur, filha da Flaming Page mãe do Nijinsky. Como avô materno Caro
dispensa apresentação e a avó materna é Moonmadness que antes de Madelia deu 3
produtos ganhadores e placês em provas de grupo, a sua linha materna é da Point
Duty, Ambers Flash (Oaks).
Vamos agora escolher o sexo.
Vamos preferir fêmea pois você é criador e se fosse macho iria criar questões
entre a nossa parceria, dado as corridas magníficas que ganharia e as ofertas
em dólares já começariam cedo, você o iria querer manter e eu encher as minhas
algibeiras.
Então seria uma fêmea,
evidentemente com nome começando por Ma, como é usual em criadores de bom
gosto. A doma sem problemas pois a doçura e a persuasão seriam dominantes e
desse modo a segunda crise da potrada que é doma passaria sem tropeços. Entrou
em treinamento e com 30 meses estreou ganhando uma prova comum e sem maior
significação, mas pode-se observar sua atitude na raia, no partidor e em
corrida, pois ao ser solicitada na boca, amiudou o galope ganhando fácil. Nada
de chicote, mas esquecia-me que na Europa não é necessário recomendar, pois os
jóqueis sabem disso quando lidam com estreantes. E que também não se estreia um
2 anos no último furo; é preferível recolher do que surrar um estreante para
que ele se esforce ao máximo para ganhar. Então a estreia que constitui a
terceira crise de um cavalo de corrida passou em branca nuvem. E continuou seu
treinamento onde obteve boas vitórias comuns, confirmando seu bom desempenho
nos treinos. E começa o preparo para as provas de grupo seguindo ela muito bem,
mas com uma distração de Papai Noel, ela
pisou em um buraco e fez uma entorse grave em um anterior. Você perguntará: há
buracos nas pistas de Chantilly e de Newmarket? E eu respondo que as
probabilidades são de 1% e com a distração de Papai Noel ela entrou no 1%. No
Brasil, as probabilidades são de 50%. E agora, na França eles dão fomentações,
passam cáustico, dão fogo? Nada disso, isto é para turfe subdesenvolvido, pois
mesmo curada ela não seria a mesma. E o caminho é a reprodução e a levar para o
Brasil apesar das ofertas vultosas, pois criticamos nossas deficiências (no
sentido de melhorar), mas defendemos a melhoria da criação brasileira com unhas
e dentes. Outra sugestão é de levá-la cheia do Mill Reef, mesmo a cobertura
sendo do 1º semestre, o que a meu ver é vantajoso sob vários aspectos que
detalharei adiante em momento oportuno. Agora vou dormir, cansado de viver o
sonho...
Reynato Sodré Borges
Tebas – maio - 1979
Franco Varola, Marchesi Incisa Della Rocchetta e Tesio.
É fundamental revisitar os grandes estudiosos da raça PSI e procurar compreender seus ensinamentos. Portanto, nada melhor, que ler os textos do Dr. Franco Varola, do Lt-Coronel Jean-Joseph Vuillier, Sir Charles Leicester e de Ken McLean, reconhecidos mestres da raça.
Mas, para tal, somos obrigados ao estudarmos seus trabalhos à aprofundarmos nossa cultura turfística. E daí, adquirirmos conhecimento para termos capacidade em traçar os paralelos (nem mesmo que sejam em antítese), necessários para adequarmos os exemplos de como gravitava aquele turfe e seus notáveis cavalos, com os grandes cavalos modernos e o turfe de nossos tempos.
Agradecemos a generosidade de Melania Varola, filha do Dr. Franco Varola, que permitiu, a publicação do artigo hora em tela.
O presente trabalho intitulado "Analysis of Trends", foi originalmente apresentado em italiano no jornal "Lo Sportsman", de Milão.
Garanhões Chefes de Raça
Franco Varola
As cartas e os comentários recebidos após a publicação de meu livro "Garanhões Chefes de Raça de 1900 até hoje", levam-me a fazê-lo objeto de uma análise, porquanto na verdade este argumento, ou seja, a escolha dos garanhões que constituem os pontos seguros do desenvolvimento da raça, voltou à atualidade nos últimos anos, na medida em que se vai distanciando no tempo a última série enunciada por Vuillier.
O argumento não está absolutamente esgotado, ao contrário, o que publiquei em meu livro "Garanhões Chefes de Raça de 1900 até hoje" foi apenas uma primeira experiência de sistematização de uma matéria que está plenamente em discussão e, por assim dizer, em contínua transformação. Nos dois estudos publicados em "The British Racehorse", um em outubro de 1959 e outro em outubro de 1961, isto é, ambos depois da publicação do livro, além do que foi dito posteriormente em diversos países através de seminários e artigos publicados, procurei indicar os diferentes métodos que podem ser usados para que se possa chegar a uma definição do problema. Em consequência, recebi sugestões verbais e escritas de estudiosos e apreciadores de muitos países e a questão ampliou-se rapidamente.
Em outras palavras, encontro-me na posição de "aprendiz de feiticeiro", prisioneiro dos mesmos fantasmas que evocara. O sr. Julio Foile Larreta, conhecido estudioso, observa que qualquer classificação de reprodutores que inclua Congreve deveria também incluir Old Man, um grande nome naquela parte do mundo.
Old Man foi um alazão, nascido em 1907, na Argentina, por Orbit e Moissonnenuse, por Dollar, que venceu a Tríplice Coroa e só foi derrotado uma única vez. Como reprodutor, foi pai do vigoroso Botafogo, também vencido só uma única vez, e de outros vencedores do Derby argentino; sua linha masculina sobrevive por meio de Enero, Stayer, Latero, Luzeiro e Imaginado, todos importantes elementos na bacia do Rio de La Plata. Botafogo não teve grandes oportunidades na reprodução, pois morreu após curta campanha; mas Old Man talvez tenha sido mais importante como pai de éguas reprodutoras, encabeçando por nove vezes como tal as estatísticas argentinas. Tornou-se, portanto, um importante nome nos pedigrees, embora seja raramente encontrado em linha masculina direta. Mas por mais que Old Man se possa ter salientado, não creio que seja comparável a Congreve, nome de valor já universal, celebrizado por uma pluralidade de machos e fêmeas tanto na América do Norte como na do Sul, e cuja linhagem se encontra hoje na Europa representada pelo filho de Orsenigo, Escorial, cuja avó, Coralina. nasceu, tal como Congreve, de Copyright e de uma filha de Perrier.
Minha escolha de cinquenta garanhões chefes de raça não foi baseada na importância de cada animal em uma região determinada, mas segundo a influência que hajam exercido em um amplo sentido.
Uma questão interessante foi levantada por um leitor milanês, o Dr. Pitscheider sobre Vattelor e Vatout. Sustenta ele que o primeiro deveria ocupar o lugar que destinei ao segundo. Esse dilema surge frequentemente em escolhas desse tipo e outros exemplos são Bayardo ou Bay Ronald, Bull Dog ou Bull Lea, Fair Play ou Man O' War, Black Toney ou Bimelech, e assim por diante. No caso de Vatellor, pode-se dizer que demonstrou uma longevidade e uma fibra excepcionais, que aliás são típicas da linhagem de Galopin, como St. Simon, Chaucer, Rabelais. Biribi e outros. Além disso, Vatellor produziu um impressionante número de corredores, como Vattel, My Love, Vamos, Faubourg II, Pearl Driver, Val Drake. Kerlor e as éguas Nikellora e Pointe à Pitre. Suas filhas produziram Royal Drake e Phil Drake, mas seus filhos até agora foram um malogro completo como garanhões, e para ser um chefe de raça não basta produzir corredores, mas é preciso que estes reproduzam com igual e excelente qualidade. Entretanto, Vatout , além de ser o pai de Vatellor. produziu Antonym, Bois Roussel e Atout Maitre, três reprodutores influentes em diversas partes do mundo e, consequentemente, tal fato por si só seria tão importante ponto de referência genealógico capaz de justificar minha escolha, mesmo se Vatellor jamais tivesse existido.
O sr. Ricardo Alvino, da Califórnia, enviou observações interessantes sobre a estirpe do cavalo norte-americano Equipoise, que considera um dos pilares qualitativos da criação de cavalos nos Estados Unidos. Isso é, sem dúvida, verdade para quem não considerar as aparências da moda e das grandes corridas com prêmios extravagantes em distâncias curtas, que lamentavelmente atribulam o turfe dos Estados Unidos. Não obstante os programas infelizes, a criação norte-americana possui reservas preciosas de sangue nobre e talvez um dia possa disso tirar vantagem. Mas, limitando os fatos, Equipoise é um nome rigorosamente norte-americano, sem características imediatas, nem mesmo se considerada a meia dúzia de garanhões seus descendentes, que dos Estados Unidos foram atuar na Europa, para poder entrar na lista. Lembro aqui que o tão discutido Carry Back, vencedor do "Kentucky Derby" e do "Preakness", é um filho de Saggy, por Swing and Sway, por Equipoise. Em cada país ou zona criadora, existem animais de grande importância que, por uma razão ou por outra, não conseguem difundir amplamente seus nomes e, portanto, ficam sendo um fenômeno de caráter meramente local.
Um exemplo típico foi o belga Fremonto, que me lembro ter visitado há alguns anos em um haras nas proximidades de Bruxelas, atraído justamente pela predominância que ele exercia nos limites precisos de seu país natal. Era um magnífico exemplar alazão, de formas plasticamente nobres, e quase poderia passar por um descendente de Ortello ou de Hurry On. Entretanto, era o expoente de um ramo de Isonomy, que só criou fama na Bélgica. Um caso quase semelhante é o de Signorino na Itália. Se a criação italiana estivesse naquela época nos níveis que hoje ocupa, talvez o nome de Signorino tivesse adquirido importância mundial.
Em um outro estudo publicado em "The British Racehorse", ocupei-me amplamente de Full Sail, irmão de Blue Peter, exportado para a Argentina, onde conquistou as máximas posições clássicas através de Seductor e uma série de magnificas filhas. Ezequiel Fernandez Guerrico, que entre outras coisas importou Magabit e é o seu mais incansável defensor, com ele discuti com frequência os méritos comparados do citado animal e de Congreve, embora os dois tenham atuado em épocas diferentes. Existe uma forte corrente contrária à eleição de Congreve para o Olimpo dos grandes garanhões e é singular que o epicentro deste movimento se encontre justamente na Argentina. Acontece que Congreve nunca foi considerado completamente "fashionable" em certos círculos argentinos, talvez devido a uma certa rusticidade de aspecto, que também neste ponto o torna um caso estranhamente análogo ao de Havresac II na Itália. Cheguei a ouvir pessoas competentes descrevendo Copyright, pai de Congreve, como um "charuto com quatro patas". Mas tanto Congreve como Havresac II tornam-se indispensáveis em qualquer estudo sobre garanhões em escala mundial, devido à sua extraordinária vitalidade.
Diversos amigos franceses fizeram-me uma mesma e séria observação sobre Djebel que, segundo sustentam, deveria ocupar o lugar destinado a Admiral Drake. Este, na verdade, bem pouco fez nos últimos anos para justificar a posição que lhe é atribuida e, em todo caso, a influência exercida por esta linhagem é suficientemente expressa por Sunstar. Entretanto, Djebel produziu um grande número de vencedores de alta classe e seus descendentes têm obtido êxito em quase todos os países. Por outra lado, muitos filhos de Djebel desiludiram como garanhões e até agora o mais positivo parece ser Djefou, pai de Rapace e de Puissant Chef. Convêm observar que Tracery consta da seção feminina do pedigree de Djefou. Muitos descendentes de Djebel, além disso, mostraram falhas e foram criticados pela fragilidade dos seus membros. Parece que My Babu caminha para a celebridade nos Estados Unidos onde, entre todos os "Tourbillon", emergiu favoravelmente Ambiorix, mas resta saber que valor se poderá dar a produtos que vencem apenas as corridas muito curtas. Todavia, é possível que as respectivas posições de Djebel (como ''outsider") e de Admiral Drake (como "insider") precisem ser revistas dentro de pouco tempo.
As tendências em definir os melhores garanhões de um determinado período é irresistível naqueles que se dedicam ao estudo do puro-sangue. Vuillier dedicou a isso grande parte de sua vida, conseguindo elaborar as teorias das dosagens e dos "descartes", ainda hoje seguidas por muitos criadores, entre os quais basta citar o Aga Khan. Mas, em minha opinião, a parte ainda mais viva da obra de Vuillier é aquela destinada a identificar os animais mais influentes do século XIX, cujos nomes se encontram em quase todos os pedigrees dos cavalos contemporâneos. Pode parecer um trabalho óbvio, porém é inteiramente original. Nosso conceito de linha masculina é, muitas vezes, sentimental, e estamos bem cientes disso, mas permanecemos afeiçoados a ele por ser algo que nos satisfaz intimamente. É certo, entretanto, que existiram, e continuam a existir, certos animais de tal forma poderosos que sua influência é exercida pela raça inteira, não só em linha direta masculina, mas também, e deveria dizer sobretudo, nas divisões mais remotas dos pedigrees clássicos contemporâneos.
St. Simon, por exemplo, é o fator singular mais poderoso que jamais existiu no desenvolvimento da raça puro-sangue. Jamais houve um garanhão como ele e talvez não venha existir outro. Mas sua posição é devida apenas parcialmente aos ramos reprodutores que lhe estão ligados diretamente. Através de Persimmon, temos Prince Bio, Sicambre e Prince Chevalier; através de Rabelais, temos Wild Risk, Worden, Havresac II e Ribot; através de Chaucer, temos Vatellor, Antonym, Bois Roussel, e assim por diante. Mas estes são St. Simon em um sentido, diria eu, legal. Um ou outro entre eles poderia ser um animal totalmente diferente em conformação, temperamento, aspecto e comportamento, mas, todavia, continuar a ser considerado um genuíno descendente de St. Simon e, em senso estritamente formal, o é efetivamente.
Examinando porém a influência de St. Simon sobre alguns dos mais importantes cavalos que não se ligam a ele em linha direta, descobrimos que Pharos e Fairway eram sobre ele "inbreed". E o mesmo acontece com o grande garanhão sul-americano Congreve.
E isso se deu com os dois maiores garanhões de nossa época, Hyperion e Nearco, também com La Farina, Oleander e King Salmon, enquanto Tracery era "inbred" sobre Galopin e St. Angela, que foram justamente os pais de St. Simon.
O pai de Count Fleet, Reigh Count era "inbred" sobre St. Frusquin, um filho de St. Simon. Os poucos e notáveis exemplos citados são de garanhões que, durante muitos anos, ocuparam posições predominantes na Inglaterra, França, Alemanha, Estados Unidos e na América do Sul.
Embora nenhum deles se ligue em linha direta a St. Simon, muitos continuam a difundir as características básicas do tipo "st. simoniano". Por exemplo, Nearco era um "St. Simon" quase perfeito, fato não surpreendente na opinião dos estudiosos, porquanto seu pai Pharos, era justamente "inbred" sobre St. Simon, sendo sua mãe Nogara, uma filha de Havresac II, que por sua vez era "inbred" apertado sobre St. Simon... Alguns quiseram até mesmo ver em Nearco persistência parcial dos jarretes de Rabelais.
E a influência de Havresac II sobre Nearco era sensível não só no tipo, mas também no comportamento em corrida. Ambos eram cavalos brilhantes, que podiam correr grandes distâncias, permanecendo, porém meio-fundistas. Mas, ainda que quiséssemos argumentar que Nearco era um expoente mais típico de seu pai Pharos do que de seu avó materno Havresac II, resta o fato de que o próprio Pharos era "inbred" sobre St. Simon e que era, em todo caso, mais ligado por afinidades à família de St. Simon do que à de Bend Or, à qual também pertencia oficialmente.
Com efeito, poucos exemplos de divergência tipológica são mais impressionantes do que o de Bend'Or-Pharos ou, se quisermos, Bend'Or-Nearco ou ainda The Tetrarch-King Salmon, Ormonde-Ortello. Swynford-Crepello, e assim por diante. E para concluir, se observarmos qual foi a influência sobre a raça, em escala mundial, somente de Pharos, Full Sail, Hyperion, Nearco e Congreve emerge pela centésima vez a verificação de que St. Simon é ainda o maior fator no desenvolvimento da raça, já agora transcorridos oitenta anos de seu nascimento.
Essas reflexões servem principalmente para justificar o interesse na escolha dos chefes de raça feita por Vuillier, que a ela chegou através do cálculo estatístico. Na escolha que eu fiz, ao contrário, foi seguido um principio estritamente crítico, não por desprezo pela estatística em si, mas porque a necessidade de considerar o grande desenvolvimento geográfico da raça forçou-me a escolher em um panorama geral, como um geógrafo que fixa, em uma imensa extensão de território, os níveis das montanhas, começando pelos picos mais altos. Sou o primeiro a perceber as lacunas desse sistema. Entre o mais jovem dos garanhões do terceiro grupo de Vuillier (St. Simon, 1811) e o mais velho dos garanhões de minha série principal (Son-in-Law, 1911), existem trinta anos, mas isto em si não seria um defeito, pois entre um grupo e outro devem passar justamente trinta anos pelo menos. O inconveniente é mais o fato de que durante esses trinta anos surgiram garanhões do calibre de Cyllene, Polymelus, Isinglass, Ormonde, FIying Fox, Ajax e Marco, que não são mencionados em minha classificação. Mas seria um desastre se, em um dado momento, não se pusesse um ponto final em um trabalho deste gênero.
Além disso, Hermit, que figurou no terceiro grupo de Vuillier, não é mais tão importante hoje como então e se, por pura hipótese, esse terceiro grupo devesse ser formado hoje segundo o nosso ponto de vista, o lugar de Hermit provavelmente seria ocupado por Barcaldine ou Marco. uma linha que só foi citada por Vuillier em seu primeiro grupo (Melbourne), mas ficou ausente do segundo e do terceiro grupos.
Esta, entre parênteses, é a opinião firme de um outro de meus correspondentes, o conhecido criador argentino José Alfredo Martinez de Hoz, que me pediu que a citasse. E ainda, por puro espírito de discussão acadêmica, podemos observar que mesmo Bend'Or, Hampton, Isonomy, Galopin e St. Simon, que são os outros cinco nominativos do terceiro grupo de Vuillier, ramificaram-se nos tipos mais diversos. O verdadeiro tipo Bend'Or talvez só se possa encontrar hoje nos descendentes de Panorama, enquanto o tipo Hampton conservou-se bastante bem através de Solario. E quanto a Isonomy, esta é uma linhagem que sempre manteve o mais alto grau de diferenciação do restante da raça. Seu expoente moderno, Blandford, era um tipo em si, e os contemporâneos, entre os quais Alycidon, Alcide, Persian Gulf, Parthia e Crepello, são todos animais diferentes do todo e reconhecíveis imediatamente a primeira vista em um hipotético grupo de cavalos apresentados ao acaso.
Declarei que minha escolha foi feita alheia às estatísticas. Mas nada impede que possa ser sujeita à prova estatística. Nesse caso, a única dificuldade consiste em estabelecer a unidade de medida. A estatística em si é a coisa mais simples que existe; basta contar e anotar as cifras em uma folha de papel. Mas o difícil consiste em adotar uma unidade de medida que resista a um raciocínio lógico.
Os norte-americanos são, como é sabido, os mais formidáveis compiladores de estatísticas que o mundo já conheceu. Para permanecer em nosso campo hípico, chegaram a estabelecer até mesmo em porcentagens de dois décimos o êxito ou a probabilidade de êxito deste ou daquele corredor ou garanhão.
Mas suas unidades de medida baseiam-se no que eles entendem como bom e como mau. Os estudos de Taber, por exemplo, baseiam-se no conceito de cavalo veloz, e cavalo lento ou não veloz. Mas o seu cavalo veloz é simplesmente aquele que ganhou uma certa quantia monetária e, fato ainda mais inquietante, o seu cavalo não veloz é aquele que não ganhou uma certa quantia de dinheiro. Se aplicássemos este conceito na Itália, quase todas as vencedoras das "Oaks" da Itália entrariam na categoria das éguas não velozes, porquanto o prêmio financeiro dessa corrida é, infelizmente, inadequado à sua importância.
Da mesma forma, Blandford, que venceu três corridas apenas discretas, seria um dos cavalos menos velozes segundo estatísticas desse tipo. Para quem teve, a sorte ou o azar, de receber uma iniciação filosófica, esses critérios podem ser difíceis de aceitar.
Ransom Myers, o estudioso neozelandês, que no ano passado apresentei aos leitores da revista Derby, publicou agora urna série de objeções graves ao método de Taber e quem se interessa por essas coisas poderá encontrar na imprensa estrangeira os artigos a elas referentes.
Portanto, sustento minha opinião de que, nesta matéria, a estatística jamais poderá substituir completamente a análise crítica. Não só isso, mas o grande perigo da estatística é o que corre aquele que se confia nela, perdendo assim o próprio senso crítico. Essa é a pior coisa que pode acontecer a um estudioso. Isso não impede que possamos utilmente analisar estatísticas feitas com os mais variados critérios.
(continua)