Soul Train.
Com o início da temporada de monta e considerando a importância no planejamento dos acasalamentos, estamos nesse junho publicando uma série de artigos, que possam vir a possibilitar condições para os nossos criadores considerarem alternativas técnicas para a elaboração de suas cartas de monta.
É nosso desejo que possamos, de alguma forma, contribuir para que a criação nacional volte a produzir outras JOLIE OLÍMPICA. Em passado recente, nossos haras produziram indivíduos de qualidade internacional como SANDPIT, REDATTORE, HARD BUCK, SIPHON, FLUKE, BLADE PROSPECTOR, etc. O atual exemplo de JOLIE OLIMPICA deixa claro, felizmente, que o estoque genético brasileiro ainda têm condições de produzir animais de muito elevado gabarito técnico. Lamentávelmente, com o hoje dominante foco comercial - e consequente baixa qualidade de nossos cruzamentos - salvo raríssimas excessões, nossos cavalos quando exportados para turfes mais competitivos, como o dos EUA, fracassam mesmo em turmas inferiores.
Fora essa imensa maioria de cruzamentos comerciais produzidos em nossos haras, temos o outro lado da moeda, a já citada JOLIE OLIMPICA. Onde encontramos o desprezado por nossa criação TREMPOLINO como avô materno - notemos que na Europa esse mesmo garanhão, encontra-se entre os 30 melhores avôs maternos do turfe europeu - com apenas 28 netos em corrida. Os nossos principais resultados no âmbito INTERNACIONAL são os obtidos no GP CARLOS PELLEGRINI e curiosamente os garanhões que formam esses pedigrees: SULAMANI, TREMPOLINO, NEDAWI, SIGNAL TAP, SPECIAL NASH, BUROOJ, KNOW HEIGHTS, PITU DA GUANABARA, T.H. APPROVAL, etc, possuem suas descendências depreciadas pela criação brasileira.
Nossos criadores deveriam se atentar para o exemplo de SOUL TRAIN, recente vencedor do Derby Trial - Gr III na Alemanha. E não nos iludamos, a Alemanha está entre os países com menor número de provas grupadas e por lá só correm cavalos de "cara limpa" , consequentemente é raríssima a presença de contendores de outros turfes em suas provas.
Ao examinarmos o pedigree de SOUL TRAIN, vemos MANDURO, SPECIAL NASH e KENÉTICO... 3 garanhões totalmente desprestigiados por nossos criadores! Também não podemos deixar de destacar a sua linha ventral, que remonta a fundamental MONYAGUA.
O que está certo: Os garanhões e cruzamentos por aqui desprezados que funcionam em um ambiente internacional mais competitivo ou os praticados e que lá fora fracassam?
"É importante ressaltar que não existe no turfe, uma "receita infalível". Nenhum instrumento teórico pode precisar onde está o craque. É indiscutível, entretanto, que além de propiciarem aos apreciadores uma visão mais técnica de cada pedigree, esses dados podem ajudar a reduzir o fator sorte."
Mario Marquez
Abaixo importante artigo de Michael Goodbody - Gainsborough Stud Management:
Gostaria agora de abordar os pontos importantes que os criadores devem considerar ao planejar acasalar suas éguas com o objetivo de produzir cavalos de corrida de alta classe.
Todos os acasalamentos de éguas devem ser basicamente projetados com uma apreciação pela genética. Em primeiro lugar, buscamos compatibilidade genética com a combinação de pai e mãe. Sem a compatibilidade entre as linhagens, não poderíamos atualizar os níveis de desempenho, constituição e físico da progênie. Infelizmente para todos os criadores de cavalos de corrida, existe uma infinidade de genes ocultos fracos no pool genético do puro-sangue; genes fracos e recessivos estão presentes nas melhores linhagens de puro-sangue encontradas na Europa e na América do Norte. Somente com o uso de habilidades inteligentes de seleção podemos manter esse problema sob controle. A probabilidade genética afeta todos os acasalamentos e pode ser gentil ou cruel, e os criadores de puro-sangue devem aceitar os caprichos da variação genética.
Garanhões para as éguas devem ser aceitos com base em seu genótipo e tipo físico únicos. Normalmente, os acasalamentos devem se basear em princípios que reforçam ancestrais específicos por um motivo, ou seja, os ancestrais têm a capacidade de ajudar a melhorar ou corrigir a conformação.
Para poder realizar qualquer atualização da classe de corrida na próxima geração, uma égua exige que seu parceiro seja absolutamente compatível com seu genótipo, ou seja, sua composição genética. Apesar do fato de que você deseja acasalar uma égua de corrida campeã com um cavalo de corrida campeão, o resultado provavelmente produzirá um não vencedor se suas linhagens forem geneticamente incompatíveis. Estou certo de que essa é a razão pela qual, durante o século passado, os grandes proprietários-criadores acasalaram suas éguas vencedoras clássicas com garanhões clássicos, sem pensar muito em qualquer compatibilidade genética, com um resultado muito fraco de progênie. Você só precisa examinar catálogos de vendas de "selecionados" para encontrar éguas vencedoras do grupo I com registros de produtos muito comuns.
Garanhões comprovados - O maior número possível de garanhões comprovados deve ser usado durante um plano de acasalamento. Isso é lógico se você considerar que, para cada 15 cavalos que são destinados a reprodução, apenas um será garanhão de primeira classe. Você só precisa olhar para alguns dos grandes cavalos de corrida do passado, que foram fracassos completos como garanhões: Arazi, Spectacular Bid e Tulyar, para citar apenas alguns exemplos.
Solidez, temperamento, respiração e sangramento - Na maioria desses quatro casos, há um problema de transmissão de hereditariedade e, a menos que você tenha um motivo muito forte para manter as éguas com alguma dessas características ou usar garanhões que provavelmente passarão para a progênie esses aspectos na forma negativa, isso deve ser evitado.
Mais e mais ênfase deve ser colocada na solidez. Tendo comprado pessoalmente um número considerável de potros e potrancas ao longo dos anos, a correção excessiva no tipo físico pode causar mais problemas do que se costuma imaginar. A natureza decretará que, se um puro-sangue tiver que ser um bom corredor ou mau corredor é assim que será. Uma perfeita correção no tipo físico pode vir a causar grandes problemas quando os produtos entram em treinamento e são pressionados justamente por sua perfeição morfológica. Alguns dos cavalos piores conformados, às vezes são os melhores cavalos de corrida. REAL QUIET foi vendido como um ano na venda de setembro de Keeneland por US $ 17.000, e ele ganhou o Kentucky Derby. O desvio nas patas dianteiras era tão ruim que uma imagem das pernas da frente apareceu no The Blood-Horse como um exemplo que os cavalos não precisam ser 100% corretos para serem ótimos indivíduos com capacidade de corrida.
A força da linha feminina - É sabido que as melhores famílias maternas geralmente produzem cavalos de corrida de qualidade que permanecem sólidos, com grande capacidade locomotora. É muito importante ter boas linhas femininas com o pool genético inerente a ser usado. Raramente éguas de primeira classe com pedigrees obscuros e nenhuma linha de fundo se transformam em mães fundamentais ou até produzem algo de qualquer habilidade. Geralmente é a meia-irmã materna de uma campeã e que não foi uma campeã, ou a filha de uma campeã, que acaba sendo a melhor reprodutora. Isso ocorre, sem dúvida, porque o pool genético existe e, quando acasalado com os reprodutores corretos, produz bons resultados. Talvez o maior criador dos tempos modernos tenha sido o Aga Khan, e se você estuda suas famílias femininas, todas elas remontam por gerações a éguas de fundação famosas, como Mumtaz Mahal e Lady Juror. Mesmo que isso ocorra a seis ou mais gerações, elas ainda têm muita influência no pool genético e são responsáveis pelo sucesso contínuo de seus descendentes, mesmo que muitos não sejam criados dentro de pedigrees da moda. A maioria dos acasalamentos deve envolver múltiplas duplicações de éguas muito influentes, como Mumtaz Mahal, Lady Juror, Plucky Liege, Lalun e La Troienne.
A pesquisa das linhagens dos vencedores de grupo I apóia essa estratégia, e os acasalamentos devem ser projetados para envolver combinações de irmãos e irmãs superiores ou irmãos de três quartos para criar um grau de prepotência. Por exemplo, o cruzamento em linha - linebreeding - do vencedor do Derby, SAINFOIN e sua irmã inteira SIERRA (mãe do velocista SUNDRIDGE) ofereceu resultados espetaculares. Essa combinação em linha de irmão e irmã ocorre em pedigrees de indivíduos de alta classe, e por causa de sua dominância, ela persiste através das gerações e deve ser explorada ao máximo.
Duplicar a força materna é um método usado para tentar manipular os genes. Eu acho que é muito importante que os criadores tentem introduzir linhas femininas poderosas de outros criadores de sucesso em seu portfólio de broodmares, esperando que algumas dessas potrancas se tornem éguas produtoras do grupo I, e produzir, através de seus filhos garanhões para perpetuar sua influência. Existe uma forte teoria de que as células vivas derivam sua energia da mitocôndria, transmitida na linha feminina, e acredito que as famílias vencedoras das principais provas transmitem mitocôndria de "melhor qualidade" do que as linhas femininas inferiores.
Sadler's Wells, é filho de uma Bold Reason, que é um Hail to Reason em Lalun. Quando ele cobre éguas que possuem a cepa do melhor filho de Lalun, Never Bend, a classe de corrida é imediatamente aprimorada na progênie. Uma combinação dos dois melhores filhos de Lalun explica parcialmente a afinidade genética que existe entre Sadler's Wells e éguas carregando Never Bend. Todos sabemos agora como Sadler's Wells se sai bem com as filhas de Darshaan, estendendo-se da linha de Never Bend e traçando na linha feminina direta até a matriarca Tourzima.
A importância do pai da broodmare - A importância de manter as éguas por garanhões de alta classe é reconhecida. Sempre que a composição genética de um jovem garanhão é estudada, deve-se prestar muita atenção ao seu avô materno. Garanhões como Darshaan, Machiavellian, Sadler's Wells, Diesis etc. transmitem genes superiores ligados ao sexo por meio de sua prole feminina. Machiavellian, por exemplo, foi criado sobre a famosa égua Almahmoud, uma influência genética de elite.
Mistura genética - Quando duas linhagens diferentes se unem para criar cavalos de corrida superiores, chamamos isso de "nicks". Por exemplo, a combinação Blushing Groom / Nijinsky e vice-versa produziu Fantastic Light e Lammtarra. O cruzamento de Sadler's Wells com éguas da linha Never Bend produziu muitos vencedores e, em particular, High Chaparral, vencedor da Breeder's Cup na grama.
Criação em consanguinidade para ancestrais superiores - Existe dois enfoques, o primeiro é a duplicação de um ancestral comum dentro de três gerações, e o segundo é a duplicação dentro da quarta, quinta, sexta gerações, ou além. O melhoramento por inbreeding é uma técnica importante se bem dirigida, pois possui benefícios de corrigir caracteres, especialmente se duplicarmos um ancestral por ambos os sexos, ou seja, por filhos e filhas. Finalmente, cada égua tem um padrão de linhagem, que, se entendido, pode identificar numerosos pontos fortes e fracos e pode indicar como podemos melhorar o próximo potro da égua. A pesquisa de linhagem envolve investigar a conformação dos antepassados; qualquer fraqueza na ascendência de uma égua deve poder ser corrigida selecionando um pai adequado que seja verdadeiro para certas características.
Falhas que não são evidentes pela mera inspeção dos pais geralmente podem ser previstas através do estudo de um pedigree de seis gerações. Em outras palavras, caracteres excessivos ocultos não vistos a olho nu podem ser identificados em uma análise de pedigrees.
A estratégia dos criadores deve ser evitar a repetição das mesmas fraquezas por ambos os pais. Eles devem se concentrar em coletar força e firmeza de ancestrais superiores e escolher entre os métodos básicos comumente usados na criação do PSI.
A inspeção do potro de toda égua nos ensina novas informações sobre como uma égua transmite influência genética única. Algumas éguas são bastante dominantes na maneira como transmitem seu genótipo, enquanto outras produzem potros que se parecem muito com o pai, o garanhão.
Essas são algumas das idéias que empregamos em nossas operações de criação, que eu percebo plenamente que não são praticadas pelo criador comercial, que precisa produzir para o mercado algo que seja correto para a moda, independente de objetivar qualidade, para maximizar seu retorno. No entanto, se a composição genética não estiver correta a longo prazo, nenhum cavalo de primeira classe será produzido e o estoque futuro de mães será subsequentemente desvalorizado, empurrando a criação como um todo para o abismo da falta de qualidade.
Traduzido do inglês por Ricardo Imbassahy.
